Política

Governo Lula escala Alckmin para atrair líderes evangélicos

Foco na campanha petista, segmento vem sendo tratado de forma protocolar

O vice-presidente, Geraldo Alckmin,e o presidente Luiz Inácio Lula da SilvaO vice-presidente, Geraldo Alckmin,e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Foto: José Cruz/Agência Brasil

Diante da resistência de evangélicos à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, o governo decidiu escalar o vice-presidente, Geraldo Alckmin, para tentar se aproximar do segmento. De acordo com aliados, a ideia é que o vice participe de eventos e cumpra uma agenda regular de encontros com lideranças religiosas. Pesquisas mostram que essa fatia dos brasileiros, que equivale a cerca de um quarto da população, tem uma avaliação pior das ações promovidas pelo petista no comando do país.

Depois de virarem foco da campanha eleitoral, os evangélicos vêm sendo tratados de forma protocolar neste início de governo. Não foram criadas medidas específicas tampouco implantadas estratégias de comunicação para o segmento. O resultado foi refletido nas últimas pesquisas de avaliação e acendeu o alerta no Planalto.

Levantamento do Ipec divulgado em março mostrou que a reprovação ao governo é maior entre os evangélicos do que na população em geral. Nesse estrato, são 32% os que avaliam a gestão petista como ruim ou péssima, ante 24% na média geral dos brasileiros. Na comparação com os católicos, a diferença é ainda maior: 45% dos seguidores dessa religião aprovam o governo e 21% desaprovam.

Foi diante desse quadro que, no último dia 21, Alckmin compareceu à Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira, realizada em Brasília. O evento contou com a presença de cerca de oito mil pastores. O vice estava como presidente em exercício por causa da viagem de Lula a Portugal.

Anfitrião, o bispo Samuel Ferreira, que na campanha eleitoral apoiou Jair Bolsonaro, disse aos fiéis que eles poderiam confiar em Alckmin e o chamou de “doutor Geraldo”. Os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social) também participaram da convenção.

O vice já havia feito o papel de buscar interlocução com os evangélicos durante a campanha eleitoral do ano passado. A leitura entre petistas é de que Alckmin, mesmo católico, tem credibilidade e acesso a lideranças e representantes de uma classe média de evangélicos em São Paulo.

Além da resistência histórica a políticos identificados com a esquerda, a rejeição dos evangélicos ao governo Lula é atribuída por especialistas a atitudes da própria gestão.

Nos primeiros dias de governo, por exemplo, a linguagem neutra, como o termo “todes”, foi usada nas posses de seis ministros. A construção linguística representa pessoas que não se identificam com os gêneros feminino e masculino. Os evangélicos se opõem ao seu uso com o argumento de que ele visa a desconstruir a família.

Há ainda tensões por questões de interesse do segmento. A bancada evangélica trabalha no Congresso para buscar ampliar a imunidade tributária para as igrejas, com isenção também de impostos indiretos. Os partidos de esquerda que formam a base do governo resistem e ainda há uma preocupação da gestão Lula com o impacto que a medida poderia ter nas contas públicas, num momento em que o Ministério da Fazenda busca elevar a arrecadação por causa do novo arcabouço fiscal.

Programas sociais
Em linha com a estratégia definida pelo Planalto, o ministro Wellington Dias tem pedido ajuda a lideranças evangélicas para identificar pessoas que não estão cadastradas em programas sociais oferecidos pelo governo. Lula orientou ao ministro que cuidasse que iniciativas como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida chegassem ao segmento.

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que é filha de pastor e auxiliou Lula nas articulações com o mundo evangélico no segundo turno da campanha, avalia que o governo se preocupou com uma agenda mais ampla nos primeiros meses, mas agora é a hora de se voltar aos evangélicos.

— Faltou isso um pouco ao longo dos últimos tempos pelo campo progressista.

Para o doutor em ciência política pela USP e diretor do Observatório Evangélico, Vinicius do Valle, o governo deveria adaptar a linguagem para falar com os religiosos — já que enfrenta dificuldade extra pelo fato de ainda haver uma conexão deles com o bolsonarismo —, além de buscar políticas públicas para esse público.

Presidente tem relação errática com o segmento
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT mantêm uma relação errática com os evangélicos desde a campanha do ano passado. No início da jornada em busca de um terceiro mandato à frente do Palácio do Planalto, o petista primeiro resistia em fazer acenos específicos para esse segmento e apostava em conquistá-lo por meio de medidas econômicas voltadas para os mais pobres. Diante do acirramento da disputa com Jair Bolsonaro, que tem a preferência desse grupo, Lula fez panfletos direcionados aos fiéis, participou de comício com pastores, disse que não chegaria onde chegou “se não fosse a mão de Deus” e prometeu respeitar a liberdade religiosa.

Passada a eleição, os governo ensaiou criar uma secretaria voltada para os evangélicos, ligada à Secretaria-Geral da Presidência, o que não se concretizou até o momento. Por outro lado, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, sinalizou que o governo pode apoiar, por exemplo, uma Proposta de Emenda à Constituição que amplia a imunidade tributária das igrejas.

Integrantes do partido avaliam que Lula e o PT foram injustiçado pelo discurso de pastores que se alinharam a Bolsonaro, e que não caberia agora à Presidência buscar reaproximação. Já outras alas mais ligadas aos evangélicos defendem uma ação mais explícita do governo para esse público

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