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Governo Lula vê "normalidade" distante na Venezuela e evita dar prazo para entrega de atas

Autoridades diretamente envolvidas nas negociações também evitam chancelar contagens paralelas, inclusive do Centro Carter

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do BrasilLuiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que a situação na Venezuela, país dividido e palco de manifestações violentas e prisões de milhares de pessoas que se opõem ao presidente Nicolas Maduro, só deve começar a melhorar a partir do ano que vem, quando haverá eleições parlamentares e regionais.

Auxiliares próximos a Lula afirmam que, a curto prazo, o Brasil não pensa em estabelecer uma data para que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) apresente as atas eleitorais. Essa é uma demanda recorrente do Brasil e de outros países.

Essas atas são documentos detalhados das urnas que permitiriam, a princípio, validar os resultados. O CNE declarou Maduro como vencedor das eleições, com 51,9% dos votos, com quase 97% das urnas apuradas. A oposição, por sua vez, tem apresentado atas que mostram que seu canditato, Edmundo González, ficou com 67% dos votos.

O limite para apresentação dos documentos por parte do CNE, definiu um integrante do governo, “é a paciência”. Ou seja, ainda há expectativa de o CNE entregar as atas. Caso contrário, o governo brasileiro “entrará em outro ponto”.

A diplomacia brasileira aguarda documentos oficiais que mostrem quem de fato venceu a eleição de 28 de julho último. Porém, mesmo o cenário de as atas sendo entregues é considerado nebuloso, pois não está claro o que pode ser feito com esses documentos — e a veracidade.

Até o momento, o governo Lula mantém sua posição de não chanceler apurações paralelas, sejam as divulgadas pela oposição, ou mesmo a publicada pelo Centro Carter — um dos poucos observadores internacionais na eleição —, que afirma que González foi vitorioso na disputa com Maduro.

Um importante interlocutor próximo a Lula disse que “bocas de urna e contagens rápidas não definem eleição”. E argumentou que, se antes não havia confiança no CNE, que sofre influência de Maduro, isso deveria ter sido dito durante as negociações para o Acordo de Barbados.

Firmado em outubro de 2023, entre representantes de Maduro e da oposição, o Acordo de Barbados previa eleições livres, transparentes e aceitas por todos. Os opositores do atual regime e parte da comunidade internacional afirmam que, ao contrário do que declarou o CNE, quem venceu a eleição foi Edmundo González, e não Nicolás Maduro.

Para o Brasil, Maduro errou ao judicializar a questão das atas. Os documentos foram encaminhados pelo CNE à Suprema Corte da Venezuela. Isso, de acordo com um interlocutor ouvido pelo GLOBO, contribui para o agravamento de um quadro que parece não ter fim.

Na avaliação de auxiliares de Lula, além da divulgação das atas eleitorais, Maduro e González precisam buscar o diálogo. Um entendimento entre os dois teria de prever, por exemplo, garantias recíprocas de não perseguição e um aceno mais claro sobre a retirada de sanções, principalmente as aplicadas pelos Estados Unidos ao petróleo venezuelano.

Os EUA, como parte interessada, não podem participar de uma mediação entre Maduro e González, na visão do governo brasileiro. A tarefa deve ficar a cargo de Brasil, Colômbia e México. Os presidentes dos três países — Lula, o colombiano Gustavo Petro e o mexicano Andrés Manuel López Obrador — estão “alinhando os discursos” para telefonarem para os dois candidatos nos próximos dias.

Com isso, os três países rechaçam a ideia de a crise venezuelana ser tratada no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA). Há falta de confiança mútua entre o governo Maduro e alguns países associados, como Argentina, Peru e EUA.

Integrantes do governo brasileiro afirmam que, se Lula subir o tom com Maduro e as atas aparecem logo depois, ficará em uma saia justa. Por isso, a principal aposta é de uma transição negociada. Até janeiro de 2025, Maduro continuará como presidente da Venezuela.

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