Gravação de reunião entre Bolsonaro e ministros mostra suposto uso da Abin com finalidade golpista
Na reunião, Augusto Heleno disse que conversou com o diretor-adjunto da Abin, Victor Felismino Carneiro, para "infiltrar agentes nas campanhas eleitorais"
A gravação da reunião entre Jair Bolsonaro e ministros do governo, realizada em 5 de julho de 2022, mostra que a Agência Brasileira de Inteligência pode ter sido usada ilegalmente em meio à trama que buscava manter o então presidente no poder por meio de uma tentativa de golpe de Estado.
Na reunião, o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, disse que conversou com o diretor-adjunto da Abin, Victor Felismino Carneiro, para "infiltrar agentes nas campanhas eleitorais”. A reunião foi gravada em vídeo que foi apreendido pela PF com o ajudante de ordens Mauro Cid.
Heleno, então, advertiu sobre o risco de os agentes infiltrados serem identificados. Segundo a Polícia Federal, Bolsonaro interrompeu a fala do ministro do GSI e disse que conversaria com o general “em particular” sobre o que a Abin estava fazendo.
“Nesse momento, o então presidente Jair Bolsonaro, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da ABIN, interrompe a fala do Ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente ‘conversem em particular’ sobre o que a Abin estaria fazendo”, diz a decisão de Moraes, citando trecho do relatório da PF.
Na mesma reunião, em julho de 2022, o ex-ministro do GSI afirmou, que se "tiver que virar a mesa é antes das eleições". Também disse que era necessário agir "contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas".
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Ao Globo, Victor Felismino confirmou a conversa com general Heleno, citada na decisão de Moraes, mas disse que vai dar explicações sobre o caso diretamente à Polícia Federal.
— Sobre a minha conversa com ele, vou falar em juízo. Já me coloquei à disposição da Polícia Federal exatamente para esclarecer isso — afirmou.
Filho de um general, Carneiro assumiu o comando da Abin em março de 2022, quando sucedeu o então diretor-geral Alexandre Ramagem, que deixou o comando do órgão para se candidatar a uma vaga de deputado federal pelo PL. Victor também foi capitão do Exército e, após 16 anos no quartel, abdicou da carreira militar para, em 2010, integrar a agência de inteligência.
De lá para cá, atuou em operações no Mato Grosso e na área de relações institucionais. Durante o governo Bolsonaro, teve uma ascensão meteórica — passou do Centro de Cooperação Policial Internacional para superintendente no Rio de Janeiro, reduto eleitoral do clã Bolsonaro, e assumiu a chefia do órgão.