Logo Folha de Pernambuco

RELATÓRIO

"Hediondo" e "crime de pensamento": deputados governistas e da oposição divergem sobre golpe

Para a deputada Gleisi Hoffman (PR), presidente do PT, o ex-presidente tinha total ciência do esquema

Ex- presidente Jair BolsonaroEx- presidente Jair Bolsonaro - Foto: Rafaela Felicciano

O relatório da Polícia Federal (PF) que acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de liderar um plano de golpe de Estado provocou debate entre congressistas nesta terça-feira, 26.

Com o sigilo do documento retirado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deputados da base governista e da oposição se posicionaram sobre a trama golpista no plenário da Câmara.

Entre os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Bohn Gass (PT-RS) afirmou o caso é o "episódio mais hediondo da história recente do Brasil", ressaltando que o uso de recursos públicos para financiar a ação é especialmente grave.

"O relatório da Polícia Federal tem detalhes estarrecedores, que revelam o plano feito com frieza, tão minucioso que incluía tocaias e até as armas que seriam usadas para matar - coisa de Comando Vermelho, coisa de PCC, coisa de milícia", disse.

Para a deputada Gleisi Hoffman (PR), presidente do PT, o ex-presidente tinha total ciência do esquema. "Tem focinho de porco, orelhinha de porco, rabinho de porco e não é porco? Claro que é. Bolsonaro sabia, foi o grande mentor desse plano todo."

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) também repudiou o caso, destacando que se tratou de uma "trama ardilosa, violenta, inconstitucional, criminosa". A parlamentar ainda criticou qualquer possibilidade de anistia aos envolvidos, mencionando o Projeto de Lei 2858/22, que aborda o tema.

O deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), vice-líder do governo, reforçou a gravidade das descobertas da PF e criticou a proposta de anistia, afirmando que o texto "não faz sentido nenhum". Para ele, a tentativa de golpe foi um ataque direto não apenas à democracia, mas também ao Parlamento brasileiro.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) destacou a robustez das provas - o relatório da PF soma mais de 800 páginas. "Hoje é um dia histórico, porque é o primeiro de sessão plenária depois dessas apurações de tratativas de golpe de Estado, inclusive com oficiais militares, generais, coronéis, 37 indiciados, entre os quais o ex-presidente Bolsonaro."

Na oposição, os parlamentares minimizaram o conteúdo do relatório. O deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) afirmou que o documento não passa de uma "cortina de fumaça" para desviar a atenção de medidas impopulares do governo. Ele ironizou as conclusões da PF: "Acreditar que não aconteceu um golpe porque um oficial das Forças Especiais não conseguiu pegar um táxi, achar que um padre merece ser indiciado, pois está conspirando contra a República? Tenham a santa paciência."

O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) descreveu o relatório como uma "tentativa de golpe fake". Em tom de sarcasmo, afirmou: "Bolsonaro estava tramando um golpe para depois sofrer um golpe pelos golpistas. Ou poderia falar a respeito da tentativa de golpe que não deu certo porque não havia um táxi." O deputado Luiz Lima (PL-RJ), por sua vez, disse que o documento não apresenta fundamentos materiais e sugeriu que se trata de um "crime de pensamento". "Eu faço um desafio: se o STF, a PF e o governo federal forem condenar qualquer brasileiro que desejou mal a Lula ou a Bolsonaro, metade da população brasileira tinha que estar em cana."

O deputado David Soares (União-SP) criticou a atuação de Alexandre de Moraes no inquérito: "Um ministro que é o acusador, que é acusado, que é a vítima, que é o julgador, como é que fica nisso aí?".

Indiciamentos

Bolsonaro e outras 36 pessoas foram indiciadas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. As revelações incluem planos detalhados, desde armamentos até emboscadas. O ex-presidente nega uma trama golpista, mas diz que estudou "todas as medidas possíveis dentro das quatro linhas" para impedir a posse de Lula

A investigação mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro, segundo a PF, "planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado e da abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade".

PGR

O caso agora está com a Procuradoria-Geral da República (PGR), que pode oferecer ou não uma denúncia ou ainda solicitar novas diligências.
 

Veja também

Militares envolvidos em trama golpista tentaram usar PF para contestar resultado da eleição em 2022
Golpe

Militares envolvidos em trama golpista tentaram usar PF para contestar resultado da eleição em 2022

Militar questionou sobre campo de prisioneiros de guerra em grupo sobre golpe: "Auschwitz!"
Golpe

Militar questionou sobre campo de prisioneiros de guerra em grupo sobre golpe: "Auschwitz!"

Newsletter