"Hoje é um dia para rir": apoiadores de Lula comemoram sua vitória em São Paulo
Ex-operário chegou à manifestação por volta das 22h45 para delírio dos presentes.
Enrolada na bandeira do arco-íris, Larissa Meneses não disfarça a alegria que sentiu com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, neste domingo (30). "Hoje é um dia para rir", disse, cercada por uma multidão em São Paulo, que comemorou sua vitória sobre Jair Bolsonaro (PL).
"Estive quatro anos engasgada. Hoje é o momento de gargalhar!", disse à AFP esta desenvolvedora de software de 34 anos na Avenida Paulista, local emblemático das manifestações do ex-presidente, que voltará ao poder pela terceira vez.
A poucos metros de distância, um grupo cantava, animado, "Tá na hora do Jair já ir embora", uma das músicas mais ouvidas no Spotify durante a campanha eleitoral.
Lula, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, vai assumir a Presidência em 1º de janeiro com quase metade do país contra ele: obteve 50,9% dos votos contra 49,1% para Bolsonaro. O ex-operário chegou à manifestação por volta das 22h45 para delírio dos presentes.
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"Esta é a vitória mais consagradora porque derrotamos o autoritarismo e o fascismo neste país. A democracia está de volta ao Brasil", disse Lula do alto de um trio elétrico, de onde se dirigiu ao público, acompanhado da esposa, Janja, e de várias personalidades políticas, como seu vice, Geraldo Alckmin, e a ex-presidente Dilma Rousseff (2011-206).
A felicidade era ofuscada em alguns momentos quando alguns advertiam que Bolsonaro, que até a meia-noite não tinha reconhecido a derrota, ainda tem dois meses de mandato e os conservadores serão maioria no Congresso.
"Sinto medo porque acredito que ele é capaz de qualquer coisa, mas acredito que a democracia vai prevalecer", disse Meneses. "Eu espero que a gente continue resistindo, que a gente faça pressão".
Lágrimas e satisfação
Em uma calçada da Avenida Paulista, Fernando Nascimento chorava como menino, enquanto, ao seu redor, ouviam-se fogos de artifício e pessoas repetindo o lema "Lula, guerreiro do povo brasileiro!".
Assim que a vitória foi oficializada e confirmada nas ruas com um sonoro grito de alegria, este sem teto de 59 anos tirou sua carteira, que tinha um adesivo de Lula, a ergueu para o alto e a beijou com os olhos fechados.
"Eu sempre fui Lula, não o partido [o PT]. Sempre fui Lula e vou sair da rua", disse pouco depois de abraçar um desconhecido.
O advogado Humberto Fernandes, de 43 anos, comemorava a vitória bebendo champanhe. "Estou emocionado, estou lutando pela força de toda a América Latina", afirmou.
Como é habitual em comícios petistas, o vermelho prevaleceu na quente noite paulistana, embora mais de um manifestante tenha aparecido vestindo a camisa da seleção.
O bolsonarismo transformou a bandeira e a camisa da seleção em símbolos. Lula pediu a seus seguidores que voltem a se apropriar destes objetos, e durante a manifestação foi estendida uma bandeira gigante.
Chamado à calma
No entanto, seu chamado fez eco em William Alves, um empresário de 37 anos de cabelos crespos e óculos de armação grossa, que pôs nas costas uma bandeira verde amarela, tendo ao centro um prato de comida e uma imagem de Lula com o punho erguido.
O ex-presidente, de 77 anos, prometeu combater a fome, que afeta 33,1 milhões dos 215 milhões de habitantes, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar.
"Esperava que o resultado fosse apertado, mas não tanto", afirmou Alves. "A diferença de votos é sofrida, mas histórica. Espero que a gente retome as instituições, que a Constituição seja respeitada e que, com isso, o Brasil retome o desenvolvimento e o investimento nas áreas prioritárias, em coisas básicas que a gente não teve nesse período".
Com uma cerveja na mão, Diana Rafaela, uma vendedora de 35 anos, comemorava a vitória sobre o "fascismo", mas pedia cautela.
"Agora a gente vai ter que reconstruir o Brasil porque não vai ser da noite para o dia que a gente vai ter emprego, educação, poder de compra".
A felicidade de todos foi, no entanto, motivo de tristeza para Pedro Rogério Barbosa.
Posicionado em uma esquina, ao lado de uma estação do metrô, este vendedor de bandeiras do Brasil começou a recolher sua mercadoria minutos antes da oficialização da vitória de Lula.
"Se por acaso Bolsonaro ganhasse, a gente venderia a bandeira dele", disse este homem negro de 58 anos.
Mas o apoiador do ex-capitão do Exército foi embora de mãos vazias porque "só vendiam as do PT".
"A preferência era Bolsonaro, Deus, família, enfim... Vou ver o que Lula vai fazer pela gente".