BRASIL

Indígenas brasileiros iniciam semana de protestos contra políticas de Bolsonaro

Até o momento, o clima no acampamento é pacífico, segundo observou uma repórter da AFP

Membro da tribo Pataxo em acampamento de protesto em BrasíliaMembro da tribo Pataxo em acampamento de protesto em Brasília - Foto: Carl de Souza/AFP

"Luta pela vida": cerca de mil indígenas iniciam, nesta segunda-feira (23), em Brasília, uma semana de mobilizações para pressionar o Congresso e o Supremo Tribunal sobre a discussão de projetos e casos cruciais para o futuro de seus direitos e territórios.

Com cocares de penas coloridas e trajes típicos de cada etnia, vários grupos montaram suas barracas na área central da capital, onde realizarão até domingo vários "atos contra a agenda anti-indígena" do presidente Jair Bolsonaro, organizados pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Os indígenas rejeitam uma série de projetos de lei do Executivo que avançam no Congresso Nacional e são vistos como ameaças para sua sobrevivência e a proteção do meio ambiente.
 

Entre eles, uma nova legislação que pretende adotar o critério de "marco temporal" para a demarcação das terras indígenas, reconhecendo como terras ancestrais apenas aquelas que foram ocupadas por eles quando a Constituição de 1988 foi promulgada. 

O Supremo Tribunal retomará nesta semana a deliberação sobre este assunto, considerado pelos indígenas como "o processo mais importante do século". 

Desde que Bolsonaro chegou ao poder, em 2019, os indígenas multiplicaram suas denúncias sobre invasões a suas terras, violência e outras violações de seus direitos.

Em junho, quando o projeto sobre o "marco temporal" foi aprovado em uma comissão de deputados, centenas de indígenas que se manifestavam em frente ao Congresso entraram em confronto com a polícia, com um saldo de três indígenas feridos e três agentes de segurança atingidos com flechas.

Até o momento, o clima no acampamento é pacífico, segundo observou uma repórter da AFP nesta segunda-feira. 

Bolsonaro também defende um projeto de lei para autorizar a mineração e outras atividades extrativistas nas reservas indígenas, a maioria delas em algum dos nove estados brasileiros com territórios amazônicos, essenciais para a preservação do meio ambiente.

Também avançam no Congresso outras propostas para facilitar a regularização de terras públicas ocupadas ilegalmente no Brasil o que, segundo ambientalistas e outros críticos, estimulará ainda mais a invasão de terras, feita historicamente por madeireiros, mineradores ilegais e explorações agropecuárias, e o desmatamento, especialmente na Amazônia.

O critério do marco temporal, impulsionado pelo governo e seus aliados no Congresso, será discutido a partir de quarta-feira (25) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em um caso de repercussão geral que afetará dezenas de terras indígenas em disputa há anos e cuja votação poderia exigir mais de um dia de deliberação.

No Brasil há atualmente cerca de 900.000 indígenas, que representam 0,5% dos 212 milhões de brasileiros e cujas reservas ocupam 13% do vasto território brasileiro.

Os indígenas também denunciam omissões do governo na prevenção e cuidado dos povos originários contra a covid, que deixa 1.166 mortes e mais de 58.000 casos em suas comunidades, segundo dados da APIB. 

Veja também

TCU diz que legislação não impede Exército de comprar blindados israelenses
Israel

TCU diz que legislação não impede Exército de comprar blindados israelenses

STF tem 5 votos pela recusa à transfusão por testemunhas de Jeová
STF

STF tem 5 votos pela recusa à transfusão por testemunhas de Jeová

Newsletter