Indígenas do povo Kambeba votam de voadeira na Amazônia
Para votar, indígenas da etnia Kambeba vão de barco até a cidade vizinha
Nas águas do Rio Negro, afluente do Amazonas, indígenas brasileiros a bordo de um barco a motor fazem o "L" de Lula com os dedos, enquanto se dirigem a votar no ex-presidente.
Assim como muitos brasileiros, estes indígenas da etnia Kambeba votam em uma escola. Mas para chegar lá, eles precisam ir de barco até a cidade vizinha.
"Para nós, povos indígenas, é importante lutar pela democracia, e votar e escolher pessoas que valorizam e respeitam os povos indígenas", disse à AFP Raimundo Cruz da Silva, de 42 anos, vice-Tuxaua (o equivalente a um cacique) dos Kambeba na comunidade Três Unidos.
Vestindo uma camisa branca com listras verticais de estampas tribais verdes, ele não esconde que vai votar em Lula (PT), adversário do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Este último é muito criticado por muitos líderes indígenas, entre os quais o emblemático cacique Raoni Metuktire, que apresentou uma ação contra ele por "genocídio" no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia.
A comunidade Três Unidos, a cidade de Raimundo Cruz da Silva, onde vivem cerca de 115 indígenas, situa-se em uma reserva a cerca de 60 km de Manaus.
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Cerca de 40 pessoas saem para votar ao mesmo tempo a bordo de quatro voadeiras rumo à comunidade de São Sebastião, onde fica a sessão eleitoral em uma escola pública.
Ao longo das águas turvas do Rio Negro, eles veem a vegetação exuberante cor verde esmeralda a perder de vista, antes de chegar a São Sebastião, cidade situada nos arredores da reserva indígena.
"Um olhar para a Amazônia"
É um dia especial para Taynara da Costa Cruz, de 18 anos, que vota pela primeira vez.
"Para mim, o voto é muito importante, ainda mais para nós, [da] juventude, que estamos votando pela primeira vez. É muito importante ter um olhar voltado à Amazônia e aos povos indígenas", diz esta jovem artesã, que ostenta um colar e uma diadema feitos com sementes amazônicas.
Todas as mulheres do povo Kambeba usam longos vestidos brancos.
Leurilene Cruz da Silva, irmã de Raimundo, também usa nos cabelos duas fileiras de sementes que parecem um colar de pérolas.
Ao chegar a São Sebastião, esta enfermeira de 38 anos exibe orgulhosamente seu título de eleitor.
"A gente precisa ser representado, é um dia importante. A gente espera que o nosso voto não seja jogado fora, principalmente nós, dos povos indígenas, que precisamos mostrar nossa resistência para o mundo", diz ela.
Pouco depois de ser eleito, em 2018, Jair Bolsonaro prometeu que não cederia "um centímetro a mais" de terras aos povos indígenas.
Ele também se mostrou favorável à exploração mineral e agrícola nestes territórios, supostamente reservados às atividades tradicionais dos indígenas.
Durante seu mandato, iniciado em janeiro de 2019, o desmatamento anual médio aumentou 75% ao ano em relação à década anterior.
O legado ambiental de Lula está longe de ser irrepreensível, mas o ex-presidente (2003-2010) prometeu, durante sua campanha, criar um ministério dos Povos Originários, chefiado por uma personalidade indígena