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BRASIL

Infidelidade nas votações e força do Centrão: a crise que levou à mudança no Ministério do Turismo

Troca também tem como objetivo estabilizar relação do Planalto com presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira

Lula com Daniela Carneiro, ainda ministra do Turismo Lula com Daniela Carneiro, ainda ministra do Turismo  - Foto: Reprodução/Facebook

O mês de junho foi marcado por uma série de tensões até ser confirmada, nesta quinta-feira, a saída de Daniela Carneiro (União-RJ) do Ministério do Turismo. Embora a titular da pasta ainda não tenha deixado oficialmente o cargo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, anunciou que ela será, como já era esperado, substituída pelo deputado federal Celso Sabino (PA), também do União Brasil.

"O presidente Lula e eu nos reuniremos com o presidente e os líderes do União Brasil, em data a ser definida amanhã (sexta-feira), para receber a indicação do deputado Celso Sabino, que vai liderar a pasta do Turismo, dando continuidade ao trabalho pela recuperação de um setor tão importante para a geração de emprego e renda no Brasil", escreveu Padilha em nota.

A mudança, no entanto, não foi motivada pela atuação de Daniela à frente do ministério, que nunca foi alvo de críticas substanciais. A demissão começou a ser desenhada junto com as primeiras derrotas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso, ainda no mês de maio, e esbarrou também na falta de estabilidade da relação do governo com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

A decisão de trocar o titular da pasta de Turismo tem como pano de fundo uma tentativa do Planalto de garantir a fidelidade do União Brasil nas votações consideradas prioritárias para o governo no Congresso, o que não vem acontecendo. Mesmo com três ministros da sigla no gabinete de Lula, apenas 14% dos votos do partido estavam alinhados ao do governo nas votações do marco temporal para demarcação de terras indígenas, dos decretos do Marco do Saneamento e da urgência do PL das Fake News.
 

A falta de comprometimento dos deputados da legenda com o governo ficou evidente na votação do MP dos Ministérios, quando o União deu 15 de seus 50 votos contra a Medida Provisória de reorganização dos ministérios. Nesta quinta-feira, já depois do anúncio de Padilha, 81% da bancada do partido na Câmara votaram a favor da reforma tributária.

Após a votação da MP dos Ministérios, Lula recebeu no Palácio do Planalto o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA). Na conversa, o presidente admitiu que houve equívoco no modo como os ministérios do partido foram montados. A principal crítica da bancada do União é que os ministros não representam os deputados, e, no governo, há um reconhecimento de que os ministros não possuem articulação suficiente para convencer a maior parte dos parlamentares da legenda a votar a favor dos projetos do governo.

A insatisfação do União Brasil em torno da nomeação de Daniela como ministra do Turismo remonta ainda ao anúncio de seu nome, antes mesmo da posse de Lula. Daniela é considerada pelo partido da cota pessoal de Lula pela ajuda que deu ao petista durante a campanha na Baixada Fluminense, no Rio. Waguinho (Republicanos), prefeito de Belford Roxo e marido de Daniela, foi inclusive escalado pelo Planalto para ajudar a virar votos a favor da MP na Câmara.

A movimentação do União para a troca de Daniela do ministério, inicialmente velada, foi escancarada após a saída de Waguinho do partido. Em abril, o político fluminense deixou a legenda e se filiou ao Republicanos. À época, prefeito e cinco deputados que o acompanharam na debandada saíram do partido fazendo fortes críticas ao presidente do União Brasil, Luciano Bivar, e ao vice-presidente Antonio Rueda. Eles acusam os dirigentes de negociarem cargos nas gestões do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), e do prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), sem consultarem a bancada do estado no Congresso.

Relação com Lira
Celso Sabino é deputado federal ligado a Arthur Lira (PP-AL). Sua indicação tem como objetivo, além de aplacar os ânimos dentro do União, estreitar a relação do governo com o parlamentar alagoano. Em junho, Lira reclamou da articulação do governo junto à Câmara e, após conversar com Lula no Planalto, afirmou que esperava um posicionamento do presidente neste sentido.

— Nós temos dado toda a contribuição para que seu governo tenha a oportunidade de formar a sua base. E essa atribuição não é do presidente da Câmara, é do líder do governo, dos ministros da articulações políticas, da Casa Civil. Achamos que isso pode se desenrolar, e a Câmara está esperando que o governo se posicione. Temos matérias muito importantes para decidir até o final do semestre — afirmou o presidente da Câmara durante evento em São Paulo no mês passado, citando como exemplo a aprovação da reforma Tributária.

À época, em entrevista à GloboNews, o presidente da Câmara evitou tomar partido sobre a possível indicação de Sabino ao Turismo, mas reconheceu que a nomeação poderia melhorar a relação do governo Lula com o União Brasil.

— A pasta do Turismo é uma questão interna do União Brasil. A Daniela e o Celso são dois amigos de primeira hora na Câmara. Daniela é uma mulher que está no cargo, votou no Lula e bancou a campanha dele no Rio, isso tem que ser levado em conta. Já o Celso pode trazer mais apoio partidário (para o governo) — afirmou Lira.

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