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Caso Marielle

Influência dos irmãos Brazão, suspeitos de terem mandado matar Marielle Franco, se alastra por órgão

Relatório da PF mostra que tentáculos de parlamentares presos chegam a Inea, Loterj, FIA, Detro, polícias e Legislativo

Irmãos Brazão foram denunciados pelo executor do assassinato de Marielle, Ronnie LessaIrmãos Brazão foram denunciados pelo executor do assassinato de Marielle, Ronnie Lessa - Foto: Reproduções

Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, acusados de serem os mandantes do homicídio de Marielle Franco, têm tentáculos profundos nos governos estadual e municipal, no Legislativo e nas polícias. O relatório final da investigação do caso, remetido pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal (STF), revela que o clã exerce influência — através de nomeações de sócios, aliados ou ex-funcionários de seus gabinetes — na Secretaria Especial de Ação Comunitária do Rio, no Instituto Estadual do Ambiente (Inea), na Loterj, no Departamento de Transportes Rodoviários do Estado (Detro), em dois hospitais estaduais, na Fundação para a Infância e Adolescência (FIA), nas polícias Civil e Militar e até na própria PF.

No relatório, os delegados Guilhermo Catramby, Jaime Candido e Leandro Almada apontam que o clã “esteve, ao longo dos anos, envolto em uma névoa criminal nunca dissipada em razão das relações político-estatais por ele construídas”. A influência dos Brazão na Polícia Civil, por exemplo, é apontada no relatório como fundamental para que a elucidação do Caso Marielle demorasse seis anos.

Em delação premiada, o ex-PM Ronnie Lessa afirmou que teria ouvido de Domingos, num dos encontros para planejar o crime, que “o Rivaldo é nosso”, uma referência ao então chefe de Polícia, Rivaldo Barbosa, que teria um acordo com os irmãos para influenciar os rumos da investigação.

Nomeação de delegado
Outro nome apontado no relatório como indicação dos Brazão é o delegado William Pena Junior, que nos últimos anos foi titular da Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas (Draco), responsável por investigar milícias, e presidente do Detro, que fiscaliza o transporte intermunicipal. Segundo a PF, os irmãos “teriam promovido ingerência junto ao governo para a nomeação do delegado para o cargo de subsecretário de Planejamento e Integração Operacional” após Élcio de Queiroz, que dirigiu o carro na noite do homicídio de Marielle, fechar acordo de delação.

Pena foi sócio de Robson Calixto, o Peixe, que já foi assessor de Domingos Brazão na Assembleia Legislativa (Alerj) e no Tribunal de Contas do Estado do Rio e é apontado pela PF como um dos intermediários no homicídio. O delegado confirma que conhece Domingos e que é amigo de Calixto, mas nega proximidade com o clã.

"Sou amigo do Robson e ponto. Se ele fez, que responda por seus atos" afirma Pena.

A investigação também aponta que a proximidade de um coronel da PM com o clã: Lourival do Nascimento Júnior, que já foi sócio, numa empresa de segurança, de Maria do Socorro Fonseca, mulher de Calixto. O oficial já trabalhou na Coordenadoria Geral de Fiscalização no Inea, órgão responsável por combater a exploração ilegal e a grilagem de terras no estado, e já comandou o batalhão de Jacarepaguá, na Zona Oeste, considerado o feudo político dos Brazão. Atualmente, seu irmão, o também coronel Clayton Santos do Nascimento chefia o 2º Comando de Policiamento de Área (CPA), órgão a que estão subordinados todos os batalhões da Zona Oeste. O Globo não conseguiu contato com os irmãos Nascimento.

Já na PF, o ponto de contato dos irmãos é o policial federal aposentado Gilberto Ribeiro da Costa, assessor de Brazão no TCE. Segundo a PF, Costa atuou, a mando de Brazão, para plantar uma testemunha falsa e atrapalhar a investigação do Caso Marielle.

Na prefeitura do Rio, o próprio Chiquinho Brazão foi indicado por seu partido para comandar a Secretaria Especial de Ação Comunitária (Seac) em outubro de 2023. Ele deixou a pasta em fevereiro após surgirem as primeiras informações sobre a delação de Lessa. Em seu lugar, foi nomeado Ricardo Abraão, sobrinho do bicheiro Anísio Abrahão David e ex-sócio dos irmãos Brazão num posto de gasolina.

Até ontem, no entanto, quase dois meses depois da saída de Chiquinho, pelo menos 15 pessoas nomeadas por ele continuavam na Seac. Em nota, a prefeitura afirmou que, hoje, Abraão seria exonerado, assim como funcionários ligados a Chiquinho. A subprefeita de Jacarepaguá, Marli Peçanha, será a nova secretária.

O Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária (IEDS), mais conhecido como Hospital Curupaiti, na mesma região, também é apontado como feudo dos Brazão pela PF. Segundo o relatório, a unidade foi já foi dirigida por Deolinda de Inácio Brazão, irmã da dupla, e teria sido usada pelo clã “a fim de promover ações de caráter eleitoreiro junto ao seu curral político”, como linha auxiliar do centro social mantido pela família. Outro órgão estadual de interesse dos Brazão é a Loterj, onde o clã já teve duas aliadas nomeadas. Um terceiro irmão Brazão, Pedro (União), é deputado estadual. E um aliado da família, Waldir Brazão, é vereador no Rio.

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