Influenciadores de direita reagem a CPI da Covid e apontam censura
Segundo alguns alvos da Comissão, o que está em jogo são ameaças à liberdade de expressão.
A ofensiva da CPI da Covid contra sites, jornalistas e influenciadores digitais de direita levou a uma reação nos últimos dias. A gota d'água foi a tentativa de senadores de quebrar sigilos de alguns dos principais produtores de conteúdo no campo conservador.
De acordo com os senadores, capitaneados pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), é preciso investigar o financiamento de veículos que se dedicariam a propagar "fake news", na forma de defesa do chamado tratamento precoce contra a Covid-19, de críticas ao uso de máscaras e ao distanciamento social, e do ceticismo sobre a vacina.
Para alguns dos alvos desta ação, o que está em jogo são ameaças à liberdade de expressão.
Alvo de um pedido de quebra do sigilo (retirado por Renan após forte reação de veículos de comunicação), a rádio Jovem Pan promoveu um "debate" na noite de segunda-feira (9) entre comunicadores de direita no programa "Direto ao Ponto", comandado pelo jornalista Augusto Nunes.
Participaram Allan dos Santos, do canal Terça Livre, Paulo Eneas, do site Crítica Nacional, e os jornalistas Leda Nagle e Guilherme Fiúza.
Em uníssono, atacaram as tentativas de "censura" por parte da CPI. "Tem que parar com esse surto e liberar todos para dizerem o que pensam", afirmou Nunes, na abertura do programa.
Leia também
• Em dia de desfile de blindados, líder do governo Bolsonaro manifesta preocupação e exalta democracia
• Senadores da CPI condenam desfile de blindados
• [Ao vivo] CPI ouve o coronel Helcio Bruno de Almeida, do Instituto Força Brasil
Além da tentativa de quebrar o sigilo da Jovem Pan, os participantes do programa lembraram de episódios como a retirada de conteúdo por parte de plataformas e o inquérito das fake news, aberto no Supremo Tribunal Federal de ofício, ou seja, sem iniciativa do Ministério Público, como costuma ser o procedimento.
Nagle relatou no programa que precisou retirar de seu canal no YouTube entrevistas que fez com médicos defensores do uso de remédios como hidroxicloroquina e ivermectina, sem eficácia comprovada contra a Covid-19.
"Recebi um email de uma pessoa do YouTube sugerindo uma conversa para discutir uns vídeos em que supostamente eu estava fazendo fake news. Mas eu só faço entrevista, como assim é fake news? Todas as pessoas que eu entrevistei são médicos", afirmou a jornalista, que acabou retirando os vídeos do canal.
Para Fiúza, a censura atual é mais perigosa do que a tradicional, porque se apresenta de forma mais sutil do que a de outros tempos, por meio de pressão pela retirada de conteúdo. "São tempos sombrios. A censura não é mais uma censura manifesta, com cara de censura, com indumentária de censura. É uma censura fofinha", afirmou.
Falando desde Washington (EUA), onde vive atualmente, Allan concordou, e lembrou que seu canal foi derrubado duas vezes pelo YouTube. Segundo ele, há um novo fenômeno em curso, que é o autoritarismo privado.
"Quando a gente usa o termo ditatorial a gente acha que não pode ser atribuído a uma empresa privada que detém monopólio. A gente aceitaria a palavra censura ou ditadura apenas de algum órgão estatal, ou de algum Poder Executivo", declarou.
Simultaneamente à conversa transmitida pela emissora, os sócios da produtora de vídeos Brasil Paralelo faziam ao vivo um pronunciamento também em resposta à CPI, embora num tom abaixo ao apontado pelos participantes do programa da Jovem Pan.
A empresa, especializada em produzir documentários com viés conservador, também teve a quebra de seu sigilo bancário pedida e, ao contrário do caso da Jovem Pan, não houve recuo por parte da comissão.
"A CPI é um veículo muito interessante para fazer investigação política contra adversários. São vários tiros, e a Brasil Paralelo não é o único tiro que eles estão dando. Um destes tiros é saber se existe algum tipo de conspiração governamental para encomendar desinformação", afirmou Lucas Ferrugem, um dos sócios da produtora.
Na live, os sócios repetiram que a empresa não recebe dinheiro público, e que se sustenta apenas com recursos de seus mais de 200 mil assinantes. A Brasil Paralelo reclama de prejuízos à sua imagem por ter sido citada pela CPI. E avalia possíveis medidas para evitar essa quebra.