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Infográfico: quem é quem no caso Marielle Franco

Ao longo de mais de seis anos, trama de investigação sobre a morte da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, ganhou diversos personagens

Estátua de Marielle FrancoEstátua de Marielle Franco - Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Foram 2.202 dias de espera por respostas sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista da parlamentar, Anderson Gomes, mortos a tiros em 14 de março de 2018 em uma emboscada num bairro central do Rio. Em seis anos de investigação, diversos personagens entraram na trama, responsáveis por peças do quebra cabeça, como o desmanche do carro usado, obstrução para a elucidação do caso e infiltrado em partido político para obter informações.

Na Operação Murder Inc., deflagrada pela Polícia Federal no último domingo (24), novos nomes vieram a público, com personagens importantes. A partir da delação de Ronnie Lessa, preso e acusado de ser o responsável pelos disparos na execução, a investigação aponta como mandantes do crime o deputado estadual Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão. O delegado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa é tido como "garantidor da impunidade" na investigação do caso, segundo relatório da PF. Os três foram presos durante a operação. Veja abaixo quem é quem no caso Marielle.

Possível motivação
O ex-PM Ronnie Lessa revelou, em sua delação, que a motivação para o crime foi por Marielle defender a ocupação de terrenos na Zona Oeste do Rio por pessoas de baixa renda e que o processo fosse acompanhado por órgãos especializados. Segundo Lessa, lotes de terreno seriam dados a ele pelos mandantes como forma de pagamento pelo crime.

A oferta consta em trecho do relatório da PF. Edmilson da Silva de Oliveira, o Macalé, teria procurado Lessa no segundo semestre de 2017 para falar sobre o crime e apresentado a proposta de pagamento.

"De antemão Macalé revelou a Lessa qual seria a contrapartida para a realização da execução: ambos “ganhariam” um loteamento a ser levantado nas imediações da Rua Comandante Luís Souto, Tanque, (na Zona Oeste do) Rio de Janeiro. Os pormenores que cercam essa promessa de recompensa serão trazidos à baila em conjunto com a motivação", diz trecho do documento.

Miliciano, agenciador de assassinos e passarinheiro: quem é Macalé, apontado como um dos envolvidos no caso Marielle

Quem mandou matar Marielle Franco?
Os irmãos Chiquinho Brazão e Domingos Brazão foram apontados em delação do ex-PM Ronnie Lessa como os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco — que acabou por vitimar também o motorista Anderson Gomes. Chiquinho é deputado federal (União Brasil) e exerceu o cargo de secretário municipal de Ação Comunitária da prefeitura do Rio até fevereiro deste ano, quando pediu exoneração após surgirem os primeiros rumores sobre sua possível participação no crime.

Domingos Brazão iniciou sua carreira política como assessor na Câmara Municipal entre 1993 e 1994. Em 1997 assumiu o primeiro mandato eletivo, como vereador da cidade do Rio, mas ficou apenas dois anos no posto. Eleito deputado estadual, assumiu uma cadeira no Palácio Tiradentes em 1999 onde ficou por 17 anos. Alimentou a expectativa de ser presidente da Assembleia Legislativa (Alerj) até ser escolhido pela Casa para assumir vaga no TCE da qual ficou afastado por seis anos após a operação Quinto do Ouro, quando ele e mais quatro integrantes do tribunal foram presos acusados de corrupção.

As primeiras associações da família Brazão ao caso vieram à tona ainda em 2019, quando um relatório da Polícia Federal (PF) apontou Domingos Brazão como o “principal suspeito de ser autor intelectual” dos assassinatos da vereadora e do motorista. O conselheiro do TCE sempre negou a participação no crime. Ele já havia sido denunciado pela então procuradora-geral da República Raquel Dodge, em 2019, por atrapalhar a investigação, mas a Justiça do Rio rejeitou o pedido. Seu nome passou a ser revisitado também no ano passado com a delação do também ex-PM Élcio de Queiroz, preso em 2018, suspeito de envolvimento no crime.

Quem é Rivaldo Barbosa?
O delegado Rivaldo Barbosa, um dos suspeitos presos na manhã deste domingo, foi chefe de Polícia Civil durante as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, de março a dezembro de 2018. Na época, o Rio estava sob intervenção federal. Foi Rivaldo quem deu o aval para o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão, apontado como mandante do crime, segundo a delação de Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, que o crime ficaria impune.

Foi Rivaldo também quem levou ao titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Giniton Lages, encarregado do caso e escolhido por ele, a informação de que três delegados da Polícia Federal teriam conseguido achar uma suposta testemunha do crime, mas se tratava de uma farsa, o que foi comprovado pela PF numa apuração paralela, conhecida como "investigação da investigação'".

Na primeira fase do caso Marielle, Rivaldo ligou para Giniton e mandou que ele interrogasse o então policial militar Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha, apresentado como testemunha de uma conversa entre Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, e o vereador Marcello Siciliano, em que teriam planejado matar a vereadora. Mas a versão era falsa, como foi confirmado, dez meses depois, numa apuração paralela da Polícia federal, que ficou conhecida como "investigação da investigação".

Dias depois da morte de Marielle, Rivaldo se reuniu com parlamentares da bancada do PSOL para garantir que o crime seria esclarecido o mais rápido possível. Em entrevista, o delegado chegou a dizer: "Nós estamos no caminho certo. A complexidade está na forma de atuação dos assassinos. Mas, a gente está fazendo de tudo para esclarecer essa atividade criminosa".

Antes de ser chefe de Polícia Civil, Rivaldo foi subsecretário da Subsecretaria de Inteligência da Segurança, durante um período quando o secretário de Segurança era o delegado da Polícia Federal José Mariano Beltrame, na gestão do ex-governador Sérgio Cabral. Em seguida, Rivaldo ocupou os cargos de titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e diretor da Divisão de Homicídios, responsável pelas três delegacias que elucidam assassinatos no estado. Atualmente, ele se encontra à frente da Coordenadoria de Comunicações e Operações Policiais, que cuida da operação com rádios da corporação, algo praticamente em desuso.

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