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CRÍTICA

Integrantes do Exército consideram descabida ida de Pazuello a ato com Bolsonaro e esperam punição

Ex-ministro da Saúde esteve com o presidente da República em ato neste domingo (23)

Pazuello e Bolsonaro estiveram em ato sem utilizar máscaraPazuello e Bolsonaro estiveram em ato sem utilizar máscara - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A decisão do general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, de subir num palanque político, neste domingo (23), foi considerada descabida por integrantes do Alto Comando do Exército, que enxergaram uma transgressão a normas básicas na caserna.

Generais que integram a cúpula da Força trocaram impressões por telefone sobre o que ocorreu no Rio de Janeiro e dizem, em conversas reservadas, que o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, deve avaliar o caso e decidir que providência será tomada.

Integrantes do Alto Comando esperam uma avaliação e punição em curto prazo, diante da mensagem negativa que Pazuello passou a patentes inferiores ao subir num palanque político.

A participação de Pazuello no ato político de Bolsonaro fez aumentar a pressão para que ele vá para a reserva. Essa pressão já existia de forma consistente desde sua demissão do ministério, em razão do exercício de um cargo de natureza política.

O ex-ministro subiu no carro de som onde estava o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que discursou após um passeio de moto com apoiadores. O passeio começou por volta das 10h no Parque Olímpico e seguiu até o aterro do Flamengo, na zona sul do Rio, um percurso de 40 quilômetros.

Bolsonaro e Pazuello estavam sem máscara no carro de som. O presidente discursou e voltou a usar a expressão "meu Exército", que já havia incomodado integrantes da cúpula da Força.

"Meu Exército jamais irá às ruas para manter vocês dentro de casa", afirmou Bolsonaro.

Pazuello foi o ministro da Saúde mais longevo de Bolsonaro na condução da pandemia. Sua gestão é o principal foco da CPI da Covid no Senado.

O militar, um general de três estrelas, seguiu na ativa tanto durante o exercício do cargo de ministro quanto após sua demissão em março -ele voltou ao Exército para uma função burocrática.

A Folha ouviu generais que integram o Alto Comando do Exército sobre a disposição de Pazuello de participar de um ato político de Bolsonaro, inclusive subindo num palanque improvisado.

O gesto foi mal recebido entre esses militares, que entendem que Pazuello precisa ir para a reserva e ser punido. Segundo os generais, não há condições para que ele permaneça na ativa.

Esse entendimento já era manifestado durante o período do general no Ministério da Saúde e também após a sua demissão.

Conforme integrantes do Alto Comando, Pazuello exerceu um cargo de alta voltagem política, com alinhamento automático aos desejos do presidente. Assim, não faria sentido a permanência na Força e um retorno aos quadros militares.

A subida ao palanque no Rio tornou essa interpretação ainda mais cristalizada.

O entendimento é que o ex-ministro descumpriu o regulamento disciplinar do Exército, que veda participação em atividades políticas coletivas.

Ao subir num carro de som de um evento eminentemente político e não oficial, em defesa da reeleição do atual presidente, o general desrespeitou o regramento interno do Exército, na visão de integrantes da cúpula da Força.

Eventuais abertura de processo e aplicação de punição caberão, porém, ao comandante do Exército. Cabe a Nogueira ouvir Pazuello e decidir o que fazer, segundo integrantes do Alto Comando.

A apuração de uma transgressão disciplinar, como lembram esses generais, segue normais próprias estabelecidas em regulamento, que asseguram ampla defesa e garantia de prazos.

O Exército foi diretamente envolvido na CPI da Covid, ao precisar ser acionado pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), para deliberação sobre o comparecimento ou não de Pazuello à comissão.
O general adiou sua ida ao colegiado em duas semanas, alegando ter tido contato com pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

Em dois dias de depoimentos, na quarta (19) e na quinta (20), Pazuello mentiu sobre vacinação, fornecimento de oxigênio a Manaus na crise em janeiro e outros atos do Ministério da Saúde na pandemia.

Em março, na maior crise militar em mais de quatro décadas no país, Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica.

O novo ministro, general da reserva Walter Braga Netto, vem demonstrando alinhamento aos anseios do presidente em relação aos militares. Ele subiu num palanque em Brasília em ato de apoio a Bolsonaro, no último dia 15, e chegou a discursar, na mesma linha dos discursos do presidente.

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