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Política

Investigações no entorno de Bolsonaro são abertas por Aras, mas patinam

PGR abriu investigações sobre conduta do presidente, dos seus dois filhos, do ministro Augusto Heleno, do general Eduardo Pazuello e nomes do alto escalão

Presidente Jair Bolsonaro e PGR Augusto ArasPresidente Jair Bolsonaro e PGR Augusto Aras - Foto: José Cruz/Agência Brasil

O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a abertura de uma série de apurações preliminares para averiguar a conduta do presidente Jair Bolsonaro, de dois dos seus filhos, do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, e do general Eduardo Pazuello, ex-titular da Saúde, além de outros nomes do alto escalão bolsonarista.

Integrantes da Procuradoria-Geral da República criticam o fato de as apurações não avançarem. E afirmam que a medida se tornou uma estratégia de Aras para dar uma resposta aos erros do governo federal sem, contudo, perder o controle nem dar visibilidade aos casos.

Entre os casos mais relevantes, o chefe do Executivo motivou ao menos 13 investigações dessa natureza –6 ainda estão em tramitação e 7 já foram arquivadas.

No caso do seu filho 03, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), outro com número significativo de situações analisadas, são ao todo seis, mas apenas uma ainda está aberta e as demais já foram encerradas.

Os motivos dessas apurações vão da ineficiência do Executivo no combate à pandemia da Covid-19 às ameaças à democracia. A defesa que o presidente faz do uso de hidroxicloroquina no tratamento da Covid também faz parte do conjunto de procedimentos preliminares. O medicamento não tem eficácia comprovada.

O passo seguinte desses procedimentos é o pedido de abertura de inquérito perante o Supremo Tribunal Federal, quando um ministro da corte passa a ter a atribuição de autorizar a maioria das diligências contra os investigados.

Das apurações preliminares abertas pela PGR contra Bolsonaro e seu entorno, apenas uma delas resultou até aqui em inquérito. Em janeiro, após aumentar a pressão contra Pazuello por indícios de que sabia que estava prestes a eclodir um colapso no sistema de saúde no Amazonas, Aras instaurou apuração preliminar contra o então ministro da Saúde e requisitou informações sobre o ocorrido.

O procurador-geral analisou o ofício de mais de 200 páginas do Ministério da Saúde sobre o caso e considerou necessária a abertura de inquérito junto ao Supremo.

O ministro Ricardo Lewandowski autorizou a abertura da investigação, mas determinou seu envio à Justiça Federal em Brasília, após Pazuello deixar a Saúde e perder a prerrogativa de foro. O caso deixa de ser atribuição da PGR.

Interlocutores de Aras, por sua vez, ponderam que o governo Bolsonaro passou por inúmeras turbulências políticas desde seu início e que partidos de oposição têm acionado com mais frequência a PGR, muitas vezes sem provas.

Segundo esses auxiliares, por dever de ofício a Procuradoria instaura procedimentos preliminares para apurar os fatos, mas a maioria deles não chega a lugar algum e acaba ocupando o tempo da equipe destinada a isso –que integrantes da PGR dizem não ser numerosa.

Há seis meses de concluir o mandato, Aras calcula bem seus movimentos. É atualmente o nome do Palácio do Planalto para comandar o MPF (Ministério Público Federal) na segunda metade do mandato de Bolsonaro.

Aras trabalha hoje pela recondução ao cargo, mas não esconde o desejo de ser indicado à vaga do STF que abrirá em julho com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello. Bolsonaro, no entanto, já afirmou que Aras é um nome forte para eventual terceira vaga ao Supremo. A princípio, porém, o presidente só poderá indicar um terceiro nome caso se reeleja em 2022.

As apurações preliminares contra o chefe do Executivo, seus familiares e auxiliares têm sido anunciadas pelo procurador-geral em manifestações enviadas ao Supremo.

Geralmente, quando é noticiada alguma irregularidade envolvendo integrantes do Executivo, além de familiares do presidente, os adversários do governo apresentam pedidos de investigação à corte.

É de praxe que o Supremo peça uma manifestação da PGR sobre essas solicitações. A Procuradoria é a encarregada de tocar as apurações. Na resposta aos pedidos, Aras tem afirmado que já determinou a abertura de apurações preliminares sobre os casos.

Esses procedimentos são conhecidos como notícia de fato, um instrumento legal do Ministério Público que consiste no levantamento de informações, incluindo requisições a órgãos públicos, acerca das irregularidades apontadas.

Na apuração contra Heleno devido à suposta produção de um relatório pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), subordinada ao GSI, para a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das "rachadinhas", a

Procuradoria está colhendo depoimentos e solicitou informações sobre o caso.

No caso de Heleno, Aras já havia aberto outra apuração, em junho de 2020, devido à divulgação de um texto intitulado "Nota à nação brasileira".

Assinado e divulgado pelo general do GSI, o texto afirmava que a eventual apreensão do celular de Bolsonaro seria "inconcebível" e traria "consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional".

O ministro se referiu à medida sugerida ao STF por um partido político no contexto da apuração em que Bolsonaro foi acusado pelo ex-ministro Sergio Moro de interferência na Polícia Federal.

Em relação a Eduardo Bolsonaro, a PGR instaurou apuração preliminar para analisar pagamento em espécie feito pelo deputado na compra de dois apartamentos na zona sul do Rio, entre 2011 e 2016. "Caso, eventualmente, surjam indícios razoáveis de possíveis práticas delitivas por parte do requerido, que teve seu primeiro mandato como deputado federal iniciado em 1º de janeiro de 2015, será requerida a instauração de inquérito nesse Supremo Tribunal Federal", informou Aras ao STF.

Contra Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Aras já abriu cinco investigações preliminares e arquivou três delas.

Ainda está aberta a apuração sobre a suposta atuação dela nos bastidores para impedir que uma menina de 10 anos vítima de estupro tivesse acesso à interrupção da gravidez. Em manifestação enviada ao tribunal, Aras disse que, se essa primeira apuração encontrar indícios suficientes, a PGR pedirá a abertura de inquérito formal.

Em relação ao próprio presidente, a PGR abriu procedimento para averiguar eventual irregularidade nas movimentações salariais de parte das pessoas lotadas entre 1991 e 2018 em seu gabinete de deputado federal.

O agravamento da pandemia motivou a abertura de novas investigações preliminares contra Bolsonaro e auxiliares.

Questionada pela Folha a respeito das investigações, a assessoria da PGR afirmou que chegam à Procuradoria mais de 300 representações por mês contra autoridades com foro. "Para que uma representação possa ser apreciada, precisa ser autuada como notícia de fato. A mera autuação não significa que haja ali indício de crime."

Os arquivamentos, segundo a PGR, não se restringem à gestão de Aras. "Notícias de fato abertas com base em representações de cidadãos e parlamentares historicamente têm sido, em sua grande maioria, arquivadas por diferentes gestões na PGR", diz.

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