Itamaraty criou grupo para buscar vacinas contra Covid mais de um ano após início da pandemia
Durante a gestão do ex-chanceler Ernesto Araújo, não havia nenhuma coordenação dedicados ao enfrentamento da pandemia
Só no dia 12 de abril de 2021, mais de um ano após o início da pandemia, o Itamaraty estabeleceu um grupo de trabalho para "intensificar esforços para a obtenção de vacinas, testes, medicamentos, e insumos" contra a Covid-19, segundo informa telegrama diplomático obtido pelo jornal Folha de S.Paulo.
Durante a gestão do ex-chanceler Ernesto Araújo, não havia nenhuma coordenação, estrutura ou grupo de trabalho dedicados ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.
Segundo integrantes do ministério, as eventuais ações de busca de medicamentos, insumos ou vacinas eram feitas "ad hoc", dependendo de demandas que surgissem.
Em depoimento à CPI da Covid na terça-feira (18), Ernesto indicou que o presidente Jair Bolsonaro orientou o Itamaraty a viabilizar a compra de cloroquina, remédio sem eficácia comprovada contra Covid-19, mas não deu instruções específicas para o ministério buscar e negociar vacinas contra a doença.
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Ele afirmou nunca ter recebido orientações do presidente para acelerar contatos com fornecedores de vacinas.
Em contrapartida, o Itamaraty enviou inúmeros telegramas à Índia a partir de março para tentar garantir a importação de cloroquina. E continuou acionando o corpo diplomático, em telegramas em junho, para garantir o fornecimento de hidroxicloroquina, mesmo depois de sociedades médicas já terem desaconselhado o uso e apontado efeitos colaterais graves.
O telegrama diplomático sobre o "grupo de trabalho para a diplomacia da saúde", criado pelo chanceler Carlos França, afirma que, no estágio crítico da pandemia, "o principal objetivo da diplomacia brasileira deve ser o de buscar receber, com a maior brevidade possível, as doses de vacinas e IFAs previstos nos contratos já estabelecidos".
Além disso, o grupo de trabalho deve identificar "opções adicionais para obtenção de vacinas e medicamentos".
Hoje, 85% das vacinas contra a Covid administradas no Brasil são Coronavac, e o país fica muito vulnerável a atrasos no embarque de insumos para a vacina da Sinovac e para o imunizante da AstraZeneca, o segundo mais usado.
Segundo fontes, não há orçamento específico para o grupo, mas há uma coordenação das pessoas que foram encarregadas de buscar vacinas e insumos, algo que não existia antes no ministério.
O grupo tem uma sala no Itamaraty com equipamento de videoconferência para possibilitar o contato direto com os postos no exterior e com outros órgãos como a Casa Civil, o Ministério da Saúde e a Anvisa.
Procurado, o Itamaraty não se pronunciou até a conclusão da reportagem.