Jovens são presos por filmarem PMs lanchando em acampamento bolsonarista, em Mato Grosso
Casal foi detido após gravar os agentes comendo com manifestantes em frente ao Batalhão do Exército, em Cuiabá; MP pediu investigação
O procurador-geral de Justiça de Mato Grosso, José Antônio Borges, pediu a investigação de dois policiais militares que prenderam dois jovens por filmarem eles lanchando com apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), em um acampamento montado em frente ao Batalhão de Infantaria do Exército, em Cuiabá, nesta segunda-feira.
Clarinda Castro, de 22 anos, e Denilson Darc, de 23, são filiados ao Partido dos Trabalhadores e passavam pelo local quando viram os policiais fardados parados em uma tenda, durante horário de trabalho, e resolveram filmar.
— Alguns manifestantes vieram até nós quando viram que a gente estava filmando, começaram a xingar. Um deles me questionou e fez ameaças, dizendo que essa imagem fosse divulgada eu iria ver o que iria acontecer comigo. Tentei conversar com ele. Os dois policiais vieram até nós e antes deles chegarem na gente, esse mesmo bolsonarista que fez as ameaças, conversou com com os policiais e inventaram uma mentira, de que estávamos xingando os policiais e isso não aconteceu — contou Denilson.
— Vários bolsonaristas começaram a ficar em volta, a inflamar a situação. Eu ouvi um deles que seria testemunha falando que não queria ir do meu lado. E o policial falou para eu entrar no camburão, sendo que eu não tinha feito nada, e daí fomos conduzidos até a delegacia — relatou.
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Eles foram detidos e encaminhados à delegacia. Mas, antes disso, teriam ficado presos no carro da polícia por cerca de duas horas, com as janelas fechadas.
— Não tiveram o mínimo de respeito com a gente, fecharam todas as portas, não deixaram nem uma ventilação. Nós começamos a passar mal. O meu corpo começou a ficar muito mole porque eu não estava conseguindo respirar — disse ela.
O pedido de investigação foi feito à 13ª Promotoria de Justiça Criminal de Cuiabá, que atua em casos relacionados à Vara da Justiça Militar e também à 19ª Promotoria de Justiça Criminal de Cuiabá.
O caso foi registrado pela Polícia Militar como perturbação do sossego. Segundo o boletim de ocorrência, a equipe que atuava na manifestação se deparou com um tumulto causado por um casal que estaria filmando manifestantes. Abordado, conforme o registro, o casal confessou que estava registrando a cena, mas negou que estivesse ofendendo os manifestantes e se negou a mostrar o vídeo.
Em nota, a Ouvidoria Geral de Polícia informou que está acompanhando o caso. O ouvidor geral, Lúcio Andrade, disse que não existe vedação na legislação sobre a gravação de manifestações. “Tanto os manifestantes podem gravar policiais em ação, quanto os policiais podem gravar manifestantes em vias públicas para análise das imagens”, disse.
A Ouvidoria Geral de Polícia acrescentou que foram solicitadas informações sobre o caso à Polícia Militar e vai acompanhar os desdobramentos da ocorrência.