Juiz da Lava-Jato notifica Superintendência da PF para investigar escuta em cela de Youssef
Para Eduardo Appio, da 13ª Vara Federal de Curitiba, sindicância revela 'indícios concretos e documentados acerca do cometimento de graves delitos'
O juiz responsável pelos processos da Operação Lava-Jato em Curitiba, Eduardo Appio, notificou a Superintendência da Polícia Federal do Paraná para que instaure um inquérito para investigar a existência de escutas ilegais na cela onde o ex–doleiro Alberto Youssef ficou preso em 2014.
A sindicância administrativa sobre o caso foi instaurada em 2015, depois que Youssef relatou ter encontrado uma escuta no forro da cela da carceragem da PF em Curitiba, onde ficou entre 17 e 29 de março de 2014.
A íntegra do processo conduzido pela Corregedoria da PF foi encaminhada à 13ª Vara Federal de Curitiba, hoje comandada por Appio, após insistência dos advogados de Youssef. De acordo com o magistrado, a apuração mostra que “existem indícios concretos e documentados acerca do cometimento de graves delitos” na carceragem da Polícia Federal para onde eram levados os presos da Lava-Jato.
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“Ante tais fatos — e sendo dever de toda e qualquer autoridade pública encaminhar notícia de fato supostamente criminoso à autoridade policial — determino que a secretaria desta vara comunique, com urgência e por meio eletrônico, a Superintendência da Polícia Federal do Paraná para que, querendo, instaure o competente inquérito policial para a rigorosa e necessária apuração dos fatos denunciados por Alberto Youssef”, escreveu Appio em seu despacho, assinado nesta segunda-feira.
Youssef foi um dos primeiros investigados da Lava-jato a assinar acordo de colaboração premiada, tornando-se uma peça-chave para as investigações dos crimes envolvendo diretorias da Petrobras.
O desenrolar das apurações a respeito da escuta na carceragem da PF pode abrir caminho para que a defesa de Youssef peça a anulação de suas condenações, o que pode gerar consequências para outros processos nos quais o ex-doleiro teve participação.
Youssef cumpriu três anos de prisão em regime fechado e desde 2016 está em prisão domiciliar e utiliza tornozeleira eletrônica de monitoramento — Youssef chegou a voltar à prisão em março, mas acabou solto no dia seguinte após queda de braço entre Appio e um desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). No início deste mês, a defesa do ex-doleiro pediu para que Youssef seja liberado de usar a tornozeleira e passe a apenas comparecer periodicamente em juízo.