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Justiça veta megachurrasco para 2.000 pessoas que receberia Bolsonaro no interior de SP

Juiz afirma que uma cerimônia deste tamanho só poderia estar inserida na categoria dos eventos-teste anunciados pelo governo João Doria

Presidente da República, Jair BolsonaroPresidente da República, Jair Bolsonaro - Foto: Alan Santos/PR

A Prefeitura de Presidente Prudente decidiu revogar, em cumprimento de decisão judicial, decretos que permitiam a realização de um megachurrasco com 2.000 pessoas em um recinto de exposições local para recepcionar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no próximo sábado (31).

Bolsonaro visitará a cidade para o credenciamento junto ao SUS (Sistema Único de Saúde) do Hospital Regional do Câncer, que agora passará a ser chamado de Hospital da Esperança. A agenda extraoficial previa, além de uma motociata com apoiadores durante a manhã, o almoço agora cancelado com líderes ruralistas.

Os decretos municipais assinados pelo prefeito Ed Thomas (PSB), que flexibilizavam restrições sanitárias em meio à pandemia e cediam o espaço conhecido por receber a feira agrária da cidade e leilões de gado, foram alvo de ação civil pública do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) na terça (27).


Na decisão liminar favorável à Promotoria, expedida nesta quarta (28), o juiz Darci Lopes Beraldo afirma que uma cerimônia deste tamanho só poderia estar inserida na categoria dos eventos-teste anunciados pelo governo João Doria (PSDB), o que não era o caso do churrasco previsto para recepcionar o presidente.

À reportagem a prefeitura afirmou ter conhecimento, quando feitos os decretos, de que seria realizado um almoço desta magnitude e que não irá recorrer da decisão judicial. Disse ainda que o evento era encabeçado pela UDR (União Democrática Ruralista), de quem a reportagem ainda não obteve retorno após contato por e-mail.

A UDR é uma associação civil que despontou em defesa dos ruralistas em meados dos anos de 1980, quando o Oeste Paulista se tornava epicentro de conflitos fundiários, com a presença do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na região, e já foi presidida por Luiz Antonio Nabhan Garcia.

Líder ruralista local, ele é hoje secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura do governo federal e aliado próximo do presidente. Desde a corrida presidencial de 2018, Nabhan Garcia é ainda um dos principais fiadores de Bolsonaro entre parte do setor do agronegócio no país.

Na CPMI da Terra, concluída em 2005, Nabhan Garcia foi acusado de estar associado a milícias armadas no campo em defesa de fazendeiros na região de Presidente Prudente. À época, o agora secretário de Bolsonaro responsável pela reforma agrária e demarcação de terras indígenas negou as acusações e não foi indiciado.

Em abril, Nabhan Garcia articulou a ida da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a Prudente em apoio a uma iniciativa promovida por entidades ruralistas e empresariais para arrecadação e distribuição de cestas básicas.

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, também esteve presente.
Irmão dele, Maurício Nabhan Garcia chefia hoje a Secretaria de Agricultura e Abastecimento em Presidente Prudente, pasta criada pelo atual prefeito prudentino, que, apesar de estar filiado a um partido que faz oposição a Bolsonaro a nível nacional, se mostra alinhado ao presidente.

Desde a eleições municipais de 2020, quando garantiu seu primeiro mandato à frente da prefeitura, Ed Thomas mantém elogios públicos e fotos com Bolsonaro nas redes sociais. A cidade em que se elegeu tem forte apelo bolsonarista -no segundo turno de 2018, 78% dos votos válidos foram para o atual presidente.

A assessoria do prefeito Ed Thomas afirmou que ele participará apenas da agenda oficial do presidente, no caso, a visita ao hospital.

A reportagem ainda questionou à Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República se Bolsonaro participaria do megachurrasco, mas não obteve retorno.

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