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REINO UNIDO

Keir Starmer x Rishi Sunak: trabalhista e conservador disputam governo no Reino Unido

Filho da classe operária de carreira política curta e atual primeiro-ministro mais rico que o rei Charles III enfrentam teste final nas urnas, nesta quinta-feira

Rishi Sunak e Keir Starmer fotografados lado a lado no salão de entrada da Câmara dos Comuns, em 2023 Rishi Sunak e Keir Starmer fotografados lado a lado no salão de entrada da Câmara dos Comuns, em 2023  - Foto: Hannah McKay/AFP

Uma troca de acusações no último debate televisivo antes das eleições no Reino Unido expôs os perfis antagônicos dos líderes conservador, Rishi Sunak, e trabalhista, Keir Starmer, que nesta quinta-feira esperam a decisão dos eleitores britânicos sobre qual deles ocupará a cadeira de premier pelos próximos anos.

Atual primeiro-ministro, mas atrás nas pesquisas, Sunak, de 44 anos, tentou atacar o rival, que apesar de 17 anos mais velho, tem uma carreira política mais curta que o conservador. Em um comentário sobre o plano de controle de imigração ilegal do trabalhista, que propôs negociar bilateralmente a volta de cidadãos sem direito a asilo ou refúgio com cada país de origem, o premier classificou o plano como absurdo.

 

— Vai se sentar com o aiatolá do Irã? Vai tentar fazer um acordo com o Talibã? É completamente absurdo. Está fazendo as pessoas de idiota — disse Sunak, diante das câmeras, na quarta-feira da semana anterior à votação.

Ao comentar sobre o aumento do custo de vida em solo britânico e a inflação que assolou a população, sobretudo após o Brexit, durante o governo conservador, foi a vez de Starmer atacar um ponto sensível do rival. O trabalhista acusou Sunak de estar desconectado da realidade do país, referindo-se ao seu patrimônio bilionário do conservador.

— Parte do problema que temos com este primeiro-ministro é que o mundo em que vive está a milhões de quilômetros de distância dos mundos em que vivem indivíduos de todo o país, bem como os das empresas e das famílias que estão tentando apoiar — disse Starmer.

Embora parte de uma narrativa eleitoral, as acusações trocadas passam por pontos que tanto Starmer quanto Sunak tentaram esclarecer aos eleitores ao longo dos anos, e indicam os perfis distintos dos candidatos na disputa.

Ex-advogado de direitos humanos e favorito nas pesquisas, Starmer, de 61 anos, começou tarde na política. Filho de um operário e uma enfermeira, ele cresceu na vida por meio de uma carreira jurídica, que o levou ao cargo de procurador-geral da Inglaterra e do País de Gales. Apenas em 2015, foi eleito deputado, para rapidamente substituir Jeremy Corbyn como líder do Partido Trabalhista, em 2020.

O histórico é quase o avesso de Sunak, que escalou rapidamente as fileiras do Partido Conservador, tornando-se o líder político mais jovem a chegar ao governo desde 1812 — quando assumiu como premier, tinha apenas 42 anos. De família de origem indiana, Sunak nasceu em Southampton, no sul da Inglaterra, estudou nas universidades de Oxford e Stanford, na Califórnia, foi banqueiro e é casado com a herdeira de um bilionário indiano. A fortuna da família é estimada em valor superior ao patrimônio do rei Charles III.

À frente nas pesquisas de opinião, que dão uma vantagem na casa dos 20 pontos percentuais para os trabalhistas, Starmer teve um papel decisivo em levar o partido em direção ao centro, após a tentativa fracassada de Corbyn de chegar ao poder em 2019. Ele afastou o antigo líder do partido, acusado de tolerar atitudes antissemitas.

Sunak, por sua vez, herdou um Partido Conservador desgastado, após 14 anos no poder e cercado por crises, escândalos e disputas internas. Diante das consequências do Brexit, da pandemia da covid-19 e do desastroso plano econômico da ex-premier Liz Truss — que ficou no poder por apenas 45 dias —, o ex-banqueiro até conseguiu devolver certa estabilidade econômica ao país: a inflação, que caiu de 11% em termos anuais em outubro de 2022, para 2,3% em abril deste ano, mantendo os preços estáveis nos últimos meses.

O resultado econômico, contudo, não parece ter surtido efeito eleitoral. Sunak anunciou a convocação das eleições no mesmo dia em que projeções econômicas favoráveis foram divulgadas — o que não diminuiu a margem a favor dos trabalhistas nas pesquisas de opinião.

A agenda política proposta pelos dois também elencam prioridades diversas. Starmer definiu seis pautas centrais: estabilidade econômica, redução das listas de espera na saúde pública, reforço da polícia, definição de uma nova política energética, abertura de cargos para professores e criação de um novo centro de comando para a segurança das fronteiras.

Sunak fala em reduzir impostos, compensando o déficit de caixa com a redução da assistência social e criação de medidas contra a evasão fiscal. Sobre o tema da imigração, uma pauta central durante a campanha, o conservador insiste que a solução passa pela deportação de imigrantes para Ruanda — um plano aprovado pelo partido, mas que nunca foi efetivado por decisões de cortes britânicas e europeias por violações de direitos humanos e tratados internacionais.

As agendas se aproximam no que diz respeito a saúde — os conservadores propõem aumentar o número de funcionários do NHS, o serviço nacional público —, educação — os dois prometem contratar mais professores — e novas matrizes energéticas — trabalhistas e conservadores se comprometeram a fortalecer a capacidade de produção de energia renovável, em particular a eólica marinha.

Apesar do esperado avanço no número de votos — não necessariamente de cadeiras — do radical nacionalista Nigel Farage, do Partido Reformista, ao fim do dia, provavelmente os eleitores britânicos terão indicado qual dos dois caminhos estão dispostos a seguir. 

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