Legado tropical do pensamento conservador, José Bonifácio (3)
Entre Pedro II e Tancredo Neves, há outro modelo de pensamento conservador
Qual o legado principal do pensamento conservador para a sociedade brasileira? A estabilidade política. Foi assim no Império. Durante mais de quarenta anos do Segundo Reinado (1840-1889). Com o poder moderador de Pedro II.
Foi assim na República. Entre 1945 e 1964, com a combinação virtuosa da atuação de dois Partidos de classe média: PSD, de feição rural, e UDN, de vocação urbana. E, entre 1961 e 80, com a paciente criatividade política de Tancredo Neves. Rigor da institucionalidade. Recuperando a dinâmica política com a Constituição de 1988.
O pensamento conservador acentua, no domínio político, o liberalismo. Ressaltando liberdade, ordem e justiça. Na esfera social, destaca o culto à tradição. E aos valores da cultura, erudita e popular. O conjunto desses conceitos cria laços. E forma ambiente social estável. Dando consistência e harmonia à ação política. Um rosto do Brasil. Legado moreno.
Entre Pedro II e Tancredo Neves, há outro modelo de pensamento conservador. Que ajudou a disseminar a estabilidade política no país: José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838). Foi ministro do Reino, ajudou a proclamar a Independência, enfrentou revoluções regionais, na Bahia, no Maranhão, no Pará. Trabalhou para pacificar o país. Com fechamento da Constituinte, em 1823, foi exilado por seis anos na França. Na volta ao Brasil, reconciliou-se com Pedro I. E, magnânimo, aceitou pedido do Imperador para ser tutor de seus filhos. Inclusive do herdeiro, Pedro de Alcântara.
Na carta em que pediu a José Bonifácio para a aceitar a tutoria de seus filhos, Pedro I começa o texto dizendo: “Amigo certo nas horas incertas”. E o ato de nomeação está assim gravado: “o mui probo, honrado, e patriótico cidadão, José Bonifácio de Andrada e Silva, meu verdadeiro amigo”. A Assembleia imperial aprovou o nome de Bonifácio por maioria de votos.
A iniciativa, em si, do Imperador, os termos elevados em que o pedido foi feito, a magnanimidade com que foi aceito, tudo reflete ambiente de legalidade e respeito, tradição e lealdade ao rito institucional. Essas noções políticas formam uma cultura de equilíbrio, própria do pensamento conservador.
A historiadora Mary del Priori acentuou que “José Bonifácio desejou a modernidade, uma modernidade erguida na ordem, na autoridade, isenta de conflitos”. E que “atacado pelos liberais como conservador, era alvo dos conservadores que o consideravam liberal”.
O pensamento conservador e suas principais figuras mostra que o Brasil não precisa de heróis ou de mitos. Que é capaz de desenvolver um país democrático. E consciente de seus propósitos como projeto de nação.