Lidando com resistências no PT, Alckmin remodela agenda e busca de ex-BBB a babalorixá
De perfil conservador, ex-governador paulista tem se reunido com personalidades do movimento LGBTQIAP+, lideranças jovens e um representante de religião de matriz africana
De perfil conservador e prestes a se filiar a um novo partido para ser candidato a vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador paulista e ex-tucano Geraldo Alckmin tem mantido, nos últimos dias, agendas com grupos historicamente ligados à esquerda. Uma padaria da Zona Sul de São Paulo serviu de ponto de encontro de Alckmin com personalidades do movimento LGBTQIAP+, lideranças jovens e um representante de religião de matriz africana.
No PT, esses encontros são vistos como acenos à militância petista e a movimentos sociais ligados ao partido e que se identificam com as pautas. Desde que a chapa com Lula começou a ser ensaiada, o ex-tucano foi alvo até de um abaixo assinado contra sua presença em uma aliança. Fizeram parte figuras históricas do partido, como o ex-presidente da sigla Rui Falcão e o ex-deputado José Genoíno. Apesar disso, os grupos que se opõem à chapa são minoritários no PT.
No último dia 4, o ex-governador recebeu para um café a ex-BBB e influenciadora digital Ariadna Arantes, que este ano vai se candidatar ao cargo de deputada federal, cadeira nunca ocupada por uma mulher trans no país.
Em uma hora de conversa, Alckmin incentivou a candidatura da modelo, disse que o Congresso precisa de mais representatividade e a convidou para assinar junto com ele a filiação ao PSB. A ida de Alckmin para o partido é tida como praticamente certa, embora ele tenha se reunido com o PV anteontem.
"Ele me deixou muito à vontade para falar sobre as minhas ideias e bandeiras. Achei muito interessante a maneira humana como ele tratou desse assunto, dizendo que fica indignado que em pleno século 21 ainda exista tanta diferença com as pessoas da classe LGBTQIAP+", afirmou Ariadna ao GLOBO.
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Ainda de acordo com a influenciadora, o ex-governador elogiou sua propostas sobre saúde mental e proteção da comunidade LGBTQIAP+.
"A conversa me deixou muito tranquila, em especial por ele ser um médico, saber que sou uma mulher que passou pela transição, e estar ali me tratando como mulher", completou ela.
Quem fez a ponte entre Alckmin e Ariadna foi o babalorixá e gestor público Diego de Airá, de 36 anos, que trabalhou em um programa de inclusão digital na gestão do então governador.
"Houve uma sensibilidade de entender que nós, enquanto religiosos, e nas condições de gênero e diversidade sexual, estamos em desvantagem. Ele se mostrou muito solícito e muito fidedigno da ideia de unir forças para construir um país mais igualitário", disse Airá.
Segundo ele, independentemente de ser católico ou conservador, o ex-governador recebeu ambos “despido de todo e qualquer preconceito”. Na conversa, ele ainda elogiou Lula, dizendo que é “uma das pessoas mais formidáveis” com quem já dialogou.
Nos encontros, o ex-tucano tem dito que a chapa com Lula é necessária para “apaziguar os ânimos” e “reunificar o país”.
Acompanhado de um café e às vezes de um pão na chapa, ele conta anedotas sobre figuras históricas,fala sobre as suas aulas em uma universidade particular e o curso de especialização em acupuntura na Universidade de São Paulo (USP), que concluiu no ano passado.
A ideia de “reunificação do país” foi pauta de conversa com jovens políticos, como Gabriel Cassiano, de 25 anos, que foi candidato a vereador de São Paulo pelo PDT em 2020.
Além da necessidade de colocar fim aos extremismos, Alckmin perguntou aos jovens sobre a opinião deles a respeito do desempenho das redes sociais do ex-governador.
"Ele está preocupado em modernizar e construir uma narrativa na rede social que seja mais palatável e popular", diz Cassiano, que já esteve em mais de um encontro com Alckmin desde fevereiro.
Segundo aliados, as gestões de Alckmin no governo de São Paulo sempre dialogaram com todos os setores da sociedade e as agendas reforçam o respeito pelos segmentos.