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Cuba

Líder de Cuba culpa 'deliquentes' e youtubers contrários ao regime por protestos na ilha

Díaz-Canel afirmou que a verdadeira razão de existir escassez de alimentos e remédios na ilha é o bloqueio comercial imposto pelos EUA

Protestos em CubaProtestos em Cuba - Foto: Adalberto Roque/AFP

O líder do regime cubano, Miguel Díaz-Canel, disse, em pronunciamento na manhã desta segunda-feira (12), que os protestos ocorridos na ilha no dia anterior foram realizados por "delinquentes" que "manipulam as emoções da população por meio das redes sociais".

Junto à cúpula do regime, Díaz-Canel afirmou que a verdadeira razão de existir escassez de alimentos e remédios na ilha é o bloqueio comercial imposto pelos EUA. "Se querem protestar pela falta de comida, que protestem contra o bloqueio, não contra o regime cubano", disse. "A população sente que as coisas estão faltando, mas quem organiza essas manobras de vandalismo está empurrando as pessoas de modo hipócrita e desonesto justamente contra um governo que está cuidando delas."

O dirigente disse ainda que a proposta daqueles que chamou de contra-revolucionários é "mudar o regime e colocar no lugar um outro que não cuida da população, comandado por empresas e pelo dinheiro dos EUA" e que, sem o modelo atual, Cuba não estaria desenvolvendo vacinas contra a Covid.

"Podemos ter vacinas hoje a um custo baixo porque desenvolvemos uma medicina própria e gastamos muito menos com isso do que as grandes potências, que estão fabricando e vendendo vacinas a preços altíssimos."

Díaz-Canel mostrou imagens de saques a lojas e questionou: "Se falta comida, por que roubam geladeiras e TVs, e não alimentos?". Também enumerou casos de vandalismo e de ataques contra a polícia.

Rogelio Polanco, chefe do departamento ideológico do Comitê Central, reforçou que o movimento contra o regime nas redes é financiado por "interesses estrangeiros" e o classificou de "muito perigoso", porque usa um "novo espaço público, as redes sociais". Para ele, as plataformas "dão voz a pessoas mal informadas e mal intencionadas, que podem realizar uma guerra não-convencional".

Depois, dirigiu-se a Díaz-Canel e disse que há uma maneira de atacar o problema: investimento em inteligência digital, algo que o governo estaria fazendo. Polanco afirmou ainda que "o governo venezuelano enfrenta o mesmo problema, abrindo espaço para o líder da ilha lembrar que Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, foi um dos primeiros a telefonar para prestar apoio ao regime cubano.

Por fim, Díaz-Canel afirmou que tem lutado para trazer investimentos do exterior, num momento em que "há tanta campanha dos EUA contra o nosso país". "Ao nos colocarem na lista dos países terroristas, perdemos muitos investidores. Estamos recuperando pouco a pouco. Porque este é um governo que trabalha para o povo. Se as pessoas ouvirem esses youtubers, estarão apoiando uma mudança de regime que trará um sistema que não terá essa preocupação com o bem-estar da população, como nós".

A reunião teve perguntas feitas por jornalistas alinhados ao governo. Os repórteres dirigiram questões amenas, como a maneira que o governo tem tratado da pandemia de coronavírus e das medidas sanitárias, sem a possibilidade de rebater as respostas. Nenhuma teve tom crítico.

Díaz-Canel pediu que a população se concentre no combate à Covid, que continuasse seguindo os protocolos e que esperasse que a vacinação tivesse efeito. "É um momento muito crítico, estamos num pico, mas isso poderia ser muito pior, essas cifras seriam muito piores, se não estivéssemos atuando. Se há uma coisa que não precisamos é que esses agitadores trabalhem contra."

No dia em que aconteceram as manifestações em massa, as maiores no país em décadas, Cuba registrou um novo recorde diário de infecções e mortes por Covid, com 6.923 casos de um total de 238.491, além de 47 mortes em 24 horas, somando, ao todo, desde o início da crise sanitária, 1.537 mortes. Essas cifras, porém, segundo opositores, não refletem a situação real dos hospitais, que estariam colapsados.

Até o momento, 27% da população já recebeu ao menos uma dose dos imunizantes, e 15% estão completamente vacinados. A ilha tinha, em 2019, segundo o Banco Mundial, 11,3 milhões de habitantes.

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