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ENTREVISTA

Líder do governo na Câmara, José Guimarães critica Randolfe por cobrar União Brasil

Senador da Rede havia dito que partido aliado deveria entregar no mínimo 60% dos votos da legenda no Congresso em troca de ministérios no governo Lula

José GuimarãesJosé Guimarães - Foto: Câmara Federal/divulgação

Líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) demonstrou insatisfação com o seu colega de articulação política Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador que assumiu a liderança do governo no Congresso.

Randolfe disse ao Globo que, em troca de três ministérios, o União Brasil teria que entregar "no mínimo" 60% dos votos nas duas casas parlamentares. Incomodado, José Guimarães disse que é ele quem cuida da relação do Palácio do Planalto com a Câmara e afirmou que é preciso "articular muito e falar menos".

O petista também contou que tem mantido contato com integrantes dos partidos PP, Republicanos e PL, que apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições, para ampliar a sua base parlamentar. A seguir, os principais trechos da entrevista.
 

Como foram as reuniões nesta terça-feira com os líderes do governo Randolfe Rodrigues, Jaques Wagner, e o ministro Alexandre Padilha?
Reunião de rotina. O Congresso toma posse em fevereiro e temos que construir um caminho, com agenda com os líderes, presidentes de partido, da pauta, e uma discussão mais geral daquilo que é estratégico para o país. O Haddad (ministro da Fazenda) se comprometeu a mandar a discussão da nova política fiscal do país, a questão da reforma tributária. Mas tudo no sentido de construir uma agenda de rotina de trabalho.

Como está a relação com o União Brasil?
Tem umas pendências a serem resolvidas. Mas evidentemente o União Brasil, ou a personalidade União Brasil, indicaram ministros. Vamos sentar em breve, quando o pessoal retornar um pouco do recesso para discutir os passos que serão dados. Por mim, como líder da Câmara, temos que trazer não só o União Brasil, mas também iniciar o diálogo com os Republicanos, com gente importante do PP e por aí vai.

E do PL?
Tem gente do PL que está conversando também. Então, vamos buscar o diálogo com todo mundo. Esse é o meu papel. Não tenho preconceito contra ninguém ou contra os partidos.

E o Marcos Pereira, presidente do Republicanos, já deu alguma sinalização de que poderá aderir ao governo Lula?
O Marcos Pereira fez um gesto muito significativo para nós que foi orientar a votação no destaque da PEC (da Transição). Isso tem que ser reconhecido. E isso é um gesto importante. Porque a República é feita de gestos. E ele fez um gesto muito importante e que eu considero muito.

Quais seriam os impasses com o União Brasil?
Dizem que tem gente insatisfeito com isso e aquilo. Vamos buscar construir um entendimento com o União Brasil. Tem muito tempo e muito espaço para buscar o entendimento.

Quanto votos o governo tem do União Brasil?
Nem do PT eu vou dizer quantos votos tem. Não tem tantos votos para começar a base. É um processo que está em construção.

O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, falou que teria no mínimo 60% dos votos do União Brasil.
Quem cuida da Câmara é o José Guimarães.

O senhor acha que não tem esse número?
Não sei se tem ou se não tem.

Randolfe disse que se não tiver 60% será necessário discutir a relação...

Precisamos articular muito e falar menos para buscar construir a nova governabilidade congressual, que é a minha missão. O tempo vai definir as coisas. E nem é meu papel dar carão em ninguém. Todo mundo sabe da responsabilidade que os partidos têm com a nova governabilidade. Então, o processo vai estar em construção. No dia 10 de fevereiro, digo como está a base.

Como ficou o diálogo com o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), preterido na montagem de ministérios?
Eu falei com ele hoje por telefone. Conversamos sobre a relação daqui para frente, sem definir nada. E vamos conversar.

Foi oferecido algum cargo para o Elmar?
Não conversei nada com o Elmar sobre isso.

Quais partidos serão priorizados na montagem do segundo escalão?
Agora que começamos e foi autorizada a nomeação dos secretários executivos dos ministérios, algumas secretarias. Não mexemos em nenhum cargo de segundo escalão. Prioridade é a Câmara, os parlamentares de cada estado. Vamos conversar e construir a nova governabilidade. Há os partidos que indicaram os ministros e há 513 deputados federais que precisam ter espaço nos estados e aqui também. Então, é um trabalho de paciência, de sabedoria, sem falar demais. Falar o necessário para construir a governabilidade.

O senhor disse recentemente que a relação do governo Lula com o presidente da Câmara, Arthur Lira, seria um pouco diferente da gestão Bolsonaro. O que isso significa?
Tenho uma opinião: nem o Congresso é apêndice daqui (Executivo) nem aqui é apêndice do Congresso. É uma relação que tem que ser construída de alto nível e respeito à autonomia dos Poderes. O presidente da Câmara tem que ser o presidente de todos. Não pode ser líder de governo. É claro que para governar temos que ter uma relação de absoluta institucionalidade e respeito com o presidente da Câmara. Até porque vamos votar nele. Então, é uma relação tranquila, civilizada e de parceria com o Brasil. Eventuais divergências que possam existir em matérias como as econômicas não podem interditar uma relação respeitosa com o presidente da Casa.

Qual é o impacto da decisão do Supremo sobre as emendas de relator na governabilidade e na relação do Palácio do Planalto com a Câmara?
É um fato do passado. O orçamento que aprovamos por unanimidade tem um rito. É 50% individual e 50% vinculado aos programas de governo. Portanto, isso foi muito bem equacionado pelo Congresso. Não foi por nós do governo. Foi pelo Congresso, que apresentou um caminho que todos votaram a favor. Vamos nos guiar por isso.

Qual será a prioridade do governo no Congresso no primeiro semestre?
Primeiro, montar a base, estabelecer uma relação de diálogo e votar as matérias de interesse do país. Começar a discutir a reforma tributária, começar a discutir a nova política fiscal do país. É um roteiro que nós temos. Hoje, o Palácio respirou novos ares. E esses novos ares precisam estar presentes na Câmara. Esse é o meu papel. Conversar com humildade. Não adianta impor nada. Quem for ficar na base, fica. Quem não ficou, não fica. Simples assim.

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