Líder do MST diz que "sempre haverá ocupação de terra" e defende críticas se governo for "medroso"
'A reforma agrária vem com um passivo muito grande, porque está parada há oito anos', pontuou em entrevista João Pedro Stédile
Fundador e principal liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile defendeu que o grupo tem o direito de tecer críticas ao governo Lula por ter ajudado a elegê-lo. Em entrevista ao site da revista Carta Capital, Stédile também alertou que "sempre haverá" ocupações de terra, sobretudo se o ritmo de distribuição de áreas para assentar não for considerado satisfatório.
— Compreendemos a natureza do governo, que é um governo de frente ampla, que tem uma composição bem ampla. Mas o nosso papel é ser sempre zelador dos interesses do povo. Naquilo que o governo fica lerdo, medroso, não toma iniciativa, nossa obrigação é criticar — afirmou o líder do MST à publicação de esquerda, antes de continuar: — Temos que ter autonomia e temos moral para criticar, porque nós ajudamos a eleger, então ele é nosso governo.
Perguntado se há previsão de novas ocupações de terra este ano, Stédile respondeu que "isso depende muito". Nos primeiros meses de governo Lula, em especial durante o chamado Abril Vermelho — período em que o MST historicamente intensifica suas ações —, o ritmo das incursões do movimento foi alvo de críticas por parte de integrantes do Planalto.
— Nós temos 80 mil famílias acampadas. Algumas estão em cima de latifúndios, outras estão na estrada. Isso não é uma decisão nacional, não tem data marcada. Tanto é que ontem uma turma do acampamento de Goiás voltou a ocupar uma área no estado. Vai depender da conjuntura local: a área é boa pra acampar? Boa para agricultura? Como é o governo local? É uma decisão dos próprios acampados. O ritmo das ocupações não é questão de estatística. Sempre haverá ocupação de terra. Ora, se o governo se antecipar e conseguir áreas para assentar, é melhor. Se não, a turma continuará ocupando — discorreu Stédile.
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O líder do MST também falou sobre as expectativas relativas à reforma agrária com o retorno do PT ao poder:
— A reforma agrária vem com um passivo muito grande, porque está parada há oito anos, praticamente desde o segundo mandato da Dilma. O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) foi extinto. Agora, o governo Lula recriou e está tentando arrumar a casa.
Outro tema abordado por Stédile foi o iminente depoimento na CPI do MST, paralisada na Câmara dos Deputados por conta do recesso parlamentar. Ele negou a intenção de, tal qual outros convocados, recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não ser obrigado a comparecer.
— Eu irei depor, não cometi nenhum crime, não tenho medo. Agora, a CPI não é contra o MST, e sim contra o governo Lula, contra a esquerda. O requerimento foi didático: eles não colocaram que a convocação seria porque apoiei as ocupações na Bahia, mas porque eu sou de esquerda. Isso é o meu orgulho, ser de esquerda.