Brasil

Líder do MST diz que "sempre haverá ocupação de terra" e defende críticas se governo for "medroso"

'A reforma agrária vem com um passivo muito grande, porque está parada há oito anos', pontuou em entrevista João Pedro Stédile

João Pedro Stédile, líder do MSTJoão Pedro Stédile, líder do MST - Foto: Reprodução/ Youtube

Fundador e principal liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile defendeu que o grupo tem o direito de tecer críticas ao governo Lula por ter ajudado a elegê-lo. Em entrevista ao site da revista Carta Capital, Stédile também alertou que "sempre haverá" ocupações de terra, sobretudo se o ritmo de distribuição de áreas para assentar não for considerado satisfatório.

— Compreendemos a natureza do governo, que é um governo de frente ampla, que tem uma composição bem ampla. Mas o nosso papel é ser sempre zelador dos interesses do povo. Naquilo que o governo fica lerdo, medroso, não toma iniciativa, nossa obrigação é criticar — afirmou o líder do MST à publicação de esquerda, antes de continuar: — Temos que ter autonomia e temos moral para criticar, porque nós ajudamos a eleger, então ele é nosso governo.

Perguntado se há previsão de novas ocupações de terra este ano, Stédile respondeu que "isso depende muito". Nos primeiros meses de governo Lula, em especial durante o chamado Abril Vermelho — período em que o MST historicamente intensifica suas ações —, o ritmo das incursões do movimento foi alvo de críticas por parte de integrantes do Planalto.

— Nós temos 80 mil famílias acampadas. Algumas estão em cima de latifúndios, outras estão na estrada. Isso não é uma decisão nacional, não tem data marcada. Tanto é que ontem uma turma do acampamento de Goiás voltou a ocupar uma área no estado. Vai depender da conjuntura local: a área é boa pra acampar? Boa para agricultura? Como é o governo local? É uma decisão dos próprios acampados. O ritmo das ocupações não é questão de estatística. Sempre haverá ocupação de terra. Ora, se o governo se antecipar e conseguir áreas para assentar, é melhor. Se não, a turma continuará ocupando — discorreu Stédile.

O líder do MST também falou sobre as expectativas relativas à reforma agrária com o retorno do PT ao poder:

— A reforma agrária vem com um passivo muito grande, porque está parada há oito anos, praticamente desde o segundo mandato da Dilma. O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) foi extinto. Agora, o governo Lula recriou e está tentando arrumar a casa.

Outro tema abordado por Stédile foi o iminente depoimento na CPI do MST, paralisada na Câmara dos Deputados por conta do recesso parlamentar. Ele negou a intenção de, tal qual outros convocados, recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não ser obrigado a comparecer.

— Eu irei depor, não cometi nenhum crime, não tenho medo. Agora, a CPI não é contra o MST, e sim contra o governo Lula, contra a esquerda. O requerimento foi didático: eles não colocaram que a convocação seria porque apoiei as ocupações na Bahia, mas porque eu sou de esquerda. Isso é o meu orgulho, ser de esquerda.

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