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Líderes indígenas alertam para "genocídio aprovado" por deputados no Brasil

Segundo a Funai, no Brasil há um total de 764 territórios de povos indígenas, mas cerca de um terço ainda não foi demarcado

Cacique RaoniCacique Raoni - Foto: Carl de Souza/AFP

Vários líderes da luta indígena brasileiros, incluindo o cacique Raoni Metuktire, pediram ao presidente Lula que "vete" um projeto de lei para limitar a demarcação de terras indígenas que, em sua opinião, representa um "genocídio aprovado" pelos deputados.

"Esta aprovação do projeto de lei ameaça nossos direitos. Todos nós, povos indígenas do Brasil, não aceitamos", disse à AFP o nonagenário Raoni na língua kayapó, em Paris, traduzido por seu sobrinho Bemoro Metuktire.

No dia 31 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que limita a demarcação de terras indígenas àquelas ocupadas por eles em 1988, quando foi promulgada a atual Constituição. Agora o texto deve ser submetido à votação do Senado.

Promovida por deputados simpatizantes do agronegócio e opositores, essa aprovação foi um revés para as promessas ambientais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anunciou a demarcação de novas reservas de terras indígenas.

"Significa um genocídio aprovado pela Câmara dos Deputados. É tirar o nosso direito de viver, é acabar com o futuro dos nossos filhos. Acabar com o futuro dos povos indígenas é também acabar com o futuro das florestas", acrescentou Watatakalu Yawalapiti, líder do movimento de mulheres indígenas do Xingu.

No Brasil há um total de 764 territórios de povos indígenas, mas cerca de um terço ainda não foi demarcado, segundo dados da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

As comunidades indígenas rejeitam o "marco temporal", já que muitos povos não ocuparam determinados territórios em 1988 por terem sido expulsos, principalmente durante a última ditadura militar (1964-1985).

E "matar os direitos indígenas é também matar a vida do planeta, porque nós cuidamos das florestas, nós ensinamos as pessoas a valorizarem o meio ambiente", enfatizou Watatakalu, pedindo a Lula que "vete" esse projeto.

Pressão internacional
A votação caiu como um balde de água fria durante a passagem das lideranças indígenas pela Europa para conscientizar e arrecadar fundos para proteger a Amazônia, e agora buscam uma manifestação no Brasil no dia 7 de junho.

Nesse dia, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve se pronunciar sobre o "marco temporal" e as lideranças indígenas esperam que seus membros "tomem as decisões certas", nas palavras do cacique Tapi Yawalapiti.

Além de "pressionar" o Senado e o STF, Tapi pede para não votar nos parlamentares que aprovarem o projeto, denunciar a violação dos direitos indígenas e alertar o mundo sobre a situação.

"Nesse momento, peço a união de todo mundo, a força de todo mundo para que a gente salve a floresta. Estamos gritando aqui, pedindo socorro porque estamos protegendo a floresta para o mundo", acrescentou Tapi.

Enquanto o mundo busca limitar o aquecimento global, cientistas afirmam que a demarcação de terras indígenas é uma barreira fundamental para o avanço do desmatamento na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo.

Watatakalu Yawalapiti enfatizou que o objetivo do projeto de lei é "autorizar mais desmatamento, autorizar a construção de ferrovias, mais plantações de soja" e "produzir mais carne".

E pediu aos presidentes, empresas e cidadãos do mundo inteiro que pressionem e apoiem Lula diante dos deputados, principalmente quando "tudo o que acontece é em nome do povo de fora", para produzir coisas para a "Europa" e a "China".

"De que adianta falar em mudança climática se vocês compram produtos que estão matando os povos indígenas e matando a floresta?", questionou o líder indígena, pedindo um boicote a esses produtos, se a situação não mudar.

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