Líderes internacionais evitam comentar crise entre Brasil e Israel; Petro apoiou Lula
Presidente colombiano disse que brasileiro "apenas falou a verdade"; tom entre chefes de Estado e governo é de silêncio sobre comparação entre guerra em Gaza e Holocausto
Na primeira declaração de um líder internacional sobre a fala de Lula comparando a guerra em Gaza ao Holocausto, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse no X, o antigo Twitter, que o brasileiro "apenas falou a verdade". O apoio do colombiano a Lula quebrou um silêncio global sobre a crise diplomática entre Brasil e Israel.
"Expresso minha total solidariedade ao presidente Lula do Brasil. Em Gaza há um genocídio e milhares de crianças, mulheres e idosos civis são covardemente assassinados. Lula só falou a verdade e defende-se a verdade ou a barbárie nos aniquilará", escreveu no X. "Toda a região deve unir-se para acabar imediatamente com a violência na Palestina. A decisão do Tribunal Internacional de Justiça sobre Israel deve gerar aplicação e consequências nas relações diplomáticas de todos os países do mundo."
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A declaração de apoio era de certa forma esperada por parte de Petro. No ano passado, logo após o estouro do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, o presidente colombiano também usou uma referência ao regime nazista para comentar as ações do governo israelense no território palestino. Diante da crise, Israel chegou a suspender as exportações de material de defesa para a Colômbia, além de exigir um pedido de desculpas.
Até o momento, a atitude de Gustavo Petro é isolada no cenário global: desde o domingo, quando Lula fez as declarações, consideradas antissemitas por algumas organizações judaicas brasileiras, apenas Brasília e o próprio governo de Israel se pronunciaram. Não houve outras declarações oficiais de apoio vindas de outros chefes de Estado, seja para condenar ou apoiar o líder brasileiro.
Para Mauricio Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, havia a expectativa que a Colômbia, que tem relações estremecidas com Israel, e cujo presidente é afeito a declarações no Twitter se pronunciasse. Contudo, ele considera ser "inimaginável que um governo da União Europeia ou EUA apoie Lula", por serem "governos pró-Israel, e para quem esse tema (Holocausto) é um tabu".
Nesta terça-feira, o porta-voz da Casa Branca, Matthew Miller, disse que o governo dos EUA "discorda" da fala de Lula, mas sem condenar a comparação com o Holocausto e centrando a crítica na acusação de genocídio. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, se reunirá com Lula antes da reunião de chanceleres do G20.
— Obviamente nós discordamos desses comentários. Fomos bastantes claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito encerrado quando for possível — disse Miller.
A proximidade da crise com a reunião de chanceleres do G20, que começa na quarta-feira, no Rio de Janeiro, a iminência de uma ofensiva terrestre israelense de grande porte em Rafah, algo criticado até pelo governo dos EUA, e a provável votação de uma resolução, patrocinada pelos EUA, no Conselho de Segurança, prevendo uma pausa temporária nos combates, também inibem falas mais contundentes.
Longe do poder, o ex-presidente boliviano Evo Morales prestou apoio a Lula nas redes sociais — ao contrário do atual líder do país e hoje algoz de Evo, Luis Arce, aliado de Lula mas que até agora silenciou sobre o incidente. Em novembro, a Bolívia rompeu relações com Israel.
"A nossa solidariedade ao irmão Lula, injustamente declarado persona non grata, por defender a vida e a dignidade do povo palestino face ao genocídio em Gaza levado a cabo pelo Estado de Israel . Ser declarado persona non grata por um governo genocida que comete massacres contra crianças é um privilégio que reafirma o compromisso com a vida e a paz perante a comunidade internacional e os povos do mundo" disse Evo no X.