Líderes veem atuação de Lula para reduzir influência de Lira, e bancada do PT adia definição
Foto do presidente ao lado de candidatos do União e do PSD enquanto seu partido acena a Motta reforçam essa estratégia
Uma ala do centrão na Câmara tem adotado o entendimento de que a disputa pela presidência da Casa já poderia ter um nome de consenso, mas que isso não acontece por interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Essa é, inclusive, a tese dos candidatos Elmar Nascimento (União Brasil) e Antonio Brito (PSD), que relataram a interlocutores essa visão.
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Ambos avaliam que Lula quer postergar ao máximo a construção de uma solução pacífica para fazer com que o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), perca a influência no processo de sucessão.
Elmar e Brito são adversários de Hugo Motta (Republicanos-PB). Os deputados, que são líderes do União Brasil e do PSD, firmaram um pacto de se apoiarem contra Motta na disputa pelo comando da Casa.
Motta disputa hoje na condição de favorito porque tem o apoio de Lira e recebeu sinalizações positivas das maiores bancadas partidárias, incluindo PL e PT.
O governo tem dado sinais trocados quanto à disputa. Enquanto o líder do PT na Câmara, Odair Cunha, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, já fizeram gestos favoráveis a Motta nos bastidores, Lula ainda não agiu para retirar as candidaturas de Brito e Elmar.
O presidente, ao contrário, até já posou para fotos com os dois deputados, como no último fim de semana, quando ele esteve com ambos em Belém.
Além disso, outros integrantes do PT, como fez o senador Jaques Wagner (BA), criticam publicamente a ligação de Motta com o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), e com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
O PT começou a debater formalmente a sucessão na Câmara na terça-feira. Após a reunião, o líder da legenda na Casa, Odair Cunha (MG), reconheceu que adiar uma definição pode ser interessante para uma das candidaturas, mas negou que o partido trabalhe com essa intenção.
Petistas também dizem que a divisão no Centrão não foi provocada pelo governo, mas pelos próprios deputados.
— Esticar ou não esticar a corda é uma ação tática de uma estratégia que interessa a esse ou aquele candidato. O fato é que nós vamos decidir no momento adequado, nem cedo, nem tarde, no momento que a bancada tiver amadurecimento suficiente — declarou.
O petista disse que há uma tendência na bancada pela construção do consenso e, de acordo com ele, quem mais representaria isso é Hugo Motta. Ainda assim, o líder partidário declarou que a sigla não tem posição fechada e precisa ouvir melhor a bancada.
Ainda que haja um favoritismo de Motta, uma parte do PT avalia que o cenário hoje é de incerteza, e que não seria adequado anunciar um apoio neste momento.
— Nós temos uma candidatura que significa a convergência dessas forças políticas, que é o Hugo Motta. Esse é um debate que está posto e vamos aprofundar. Estamos em um processo de consulta. Iniciamos hoje esse debate aqui na Casa, debatemos com a Executiva, que é a coordenação da bancada (do PT) e agora acabamos uma reunião do conjunto da bancada. Vamos aprofundar esse debate. Temos tempo, o tempo está a nosso favor — declarou Odair.
Depois que foi preterido pelo presidente da Câmara, Elmar interditou o diálogo com o antigo aliado, mas o deputado do PP ligou para marcar uma conversa com Brito, algo que deve acontecer nesta semana. Em meio a essa indefinição, Lira tenta garantir desde já um consenso.
Adversários do candidato do Republicanos dizem que, se fosse de interesse de Lula impulsionar Motta, o governo já teria dado sinais mais claros de apoio a ele.
A leitura do grupo que apoia Elmar e Brito é que o Palácio do Planalto joga para adiar ao máximo a definição de um consenso e quer fazer com que Lira tenha mais dificuldade em conduzir o processo. Essa ala da Câmara diz que o tempo joga a favor de Lula e que, com o passar das semanas, o poder de Lira tende a diminuir.
Ou seja, com a proximidade do fim do mandato, estará fora de suas mãos a expectativa de poder.
Nesse cenário, há também um entendimento de que Lira ficará cada vez mais dependente de Lula, depois que sair da chefia da Casa, o que reforçaria o cenário de que o deputado do PP precisaria comandar um ministério robusto para se cacifar na disputa pelo Senado em Alagoas em 2026.
— A melhor posição que o Arthur pode ter hoje é dizer que os três candidatos postos são todos da base dele. Tanto Elmar, quanto Hugo Motta, quanto Brito, são três da base e quem ganhar, quem é vitorioso é o Arthur — disse o líder da maioria na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE), que apoia Elmar.
Aliados do presidente da Câmara rejeitam essa avaliação de que o governo assumiu o protagonismo do processo e dizem que isso é algo trabalhado pelo grupo adversário de Motta para tentar enfraquecer a candidatura do Republicanos.
Ainda assim, dentro daqueles que apoiam o líder do Republicanos há uma esperança de que, mesmo com a atual divisão, não haja disputa porque o governo vai agir nos momentos finais para unir os parlamentares em uma candidatura.
Mesmo uma parte dos aliados de Brito e Elmar dizem que se Motta conseguir o apoio do Planalto no futuro, inevitavelmente as candidaturas adversárias perderiam força.
— Tem esse acordo com o PT e com o PL, na hora que for anunciado fortalece muito a candidatura do Hugo, que é a candidatura do Lira — disse o deputado Júlio Arcoverde (PP-PI), aliado de Lira e Ciro Nogueira.
Elmar, por outro lado, já disse que vai para a disputa no voto contra Motta independente de qualquer cenário e descarta fazer uma composição.