Ligações do pai do Cid, documento no PL e novo depoimento de Cid: saiba quais são as provas citadas
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A prisão do general Walter Braga Netto neste sábado, cerca de dois anos após as discussões de um plano golpista no governo de Jair Bolsonaro, teve como embasamento uma série de elementos que indicam, segundo a Polícia Federal, tentativas de interferência nas investigações. O operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Os investigadores apresentaram trocas de mensagens, documentos, além de um novo depoimento prestado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que firmou um acordo de delação premiada no ano passado, para embasar a prisão do militar.
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• Investigação da PF aponta que Braga Netto tentou descobrir conteúdo da delação de Mauro Cid
Contatos com pai de Cid após a delação
A Polícia Federal identificou a atuação de Braga Netto no sentido de buscar informações sobre o conteúdo do acordo de colaboração premiada firmado por Mauro Cid por meio de contato com o pai de Cid, o general Mauro Lourena Cid.
Uma perícia realizada no celular apreendido com Lourena Cid demonstrou intensa troca de mensagens, segundo a PF, entre ele e Braga Netto. Os peritos identificaram ainda que todas as mensagens foram apagadas nas primeiras horas do 8 de agosto de 2023, três dias antes da operação Lucas 12:2, que investigava o desvio de joias recebidas pelo presidente Jair Bolsonaro.
"A investigação, segundo a Polícia Federal, demonstra que os contatos telefônicos realizados com Mauro César Lourena Cid, genitor do colaborador (Mauro Cid), tinham a finalidade de obter dados sigilosos, controlar o que seria repassado à investigação, e, ao que tudo indica, manter informado os demais integrantes da organização criminosa", afirmou Moraes.
Além disso, em complemento ao depoimento prestado por Mauro Cid, seu pai também confirmou que Braga Netto "entrou em contato no período em que o acordo estava sendor realizado", mas disse que não lembrava se os assuntos tratados tinham relação com o acordo de delação premiada.
Nesse contexto, uma troca de mensagens entre o general Mário Fernandes, general da reserva preso pela sua suposta participação no plano "Punhal Verde e Amarelo", e o coronel reformado Jorge Kormann, confirmam as conversas entre Lourena Cid e a cúpula do governo Bolsonaro. No diálogo, Mário Fernandes diz que os pais de Cid ligaram para Braga Netto e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para dizer que informações a respeito da delação, noticiadas na imprensa, eram "mentira".
Documento encontrado na sede do PL
Em busca realizada na sede do PL, a Polícia Federal encontrou, segundo o relatório final apresentado ao Supremo, um documento que descreve perguntas e respostas relacionadas ao cordo de colaboração premiada firmado entre Mauro Cid e a Polícia Federal.
O documento aponta que Cid teria respondido questionamentos sobre temas ligados à inveistigação de tentativa de golpe de Estado. Segundo a PF, isso evidenciaria que o grupo teria praticado atos para ter acesso ao conteúdo da delação.
"O documento foi apreendido na mesa de trabalho de um dos assessores de Walter Souza Braga Netto na sede do Partido Liberal (PL) e diz respeito, primordialmente, ao que teria sido revelado sobre a participação do referido investigado, indicando a tentativa de obtenção de dados sigilosos da colaboração com a finalidade de obstruir as investigações, o que o colaborador Mauro César Barbosa Cid confirmou em seu novo depoimento".
Novo depoimento de Cid
Outro motivo para a prisão ter sido realizada nesse momento foi um novo depoimento prestado por Mauro Cid à Polícia Federal. Na ocasião, Cid apresentou mais detalhes sobre a participação de Braga Netto na trama golpista. Segundo Moraes, Cid apresentou elementos que permitem caracterizar a existência de uma conduta dolosa de Braga Netto para impedir ou embaraçar as investigações.
Cid ainda detalhou que Braga Netto teria sido o responsável por entregar dinheiro em espécie para o financiamento de um plano que impediria a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A trama envolvia o assassinato de autoridades como o próprio presidente, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
"Nessa audiência de confirmação da colaboração premiada, em relação à participação de Walter Souza Braga Netto nos fatos relacionados à tentativa de Golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Mauro César Barbosa Cid apresentou novos elementos importantes sobre as circunstâncias da reunião ocorrida em 12/11/2022".
No relatório apresentado pela PF, os investigadores incluíram Braga Netto em dois dos seis núcleos que teriam organizado uma tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De acordo com o documento, Braga Netto faria parte do núcleo "responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado" e do núcleo de "oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos". O ex-ministro, que chefiou a Defesa e a Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro e foi seu candidato a vice-presidente em 2022, é general da reserva do Exército.
Em nota divulgada após a publicação do relatório, Braga Netto afirmou que "nunca se tratou de golpe e muito menos de plano de assassinar alguém" e que "sempre primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais".