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Câmara Federal

Lira começa a despejar jornalistas para iniciar obras em área onde pode evitar imprensa

Embora não haja nenhuma proposta formal, os profissionais foram informados de que serão provisoriamente transferidos a uma sala menor, mas com janela

Presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL)Presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL) - Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), começou nesta sexta-feira (12) a esvaziar a área destinada para jornalistas, colocando em prática a obra que deverá encastelar quem estiver comandando a Casa legislativa. O plano é que a presidência da Câmara ocupe o atual comitê de imprensa. Com a mudança, o líder do centrão –e seus sucessores– poderão se livrar de serem abordados por jornalistas.

Embora não haja nenhuma proposta formal, os profissionais foram informados de que serão provisoriamente transferidos a uma sala menor, mas com janelas, próximo ao atual espaço, enquanto durarem as obras na área que abrigará os profissionais.

A reforma deve ser concluída em até quatro meses, conforme previsão informal dada pelo presidente da Câmara ao representante dos jornalistas. Os profissionais devem começar a trabalhar no novo espaço na próxima quinta-feira (18), para quando está marcada a próxima sessão da Casa.


O novo local provisório tem 107 metros quadrados, o mesmo tamanho da primeira sala que receberia os jornalistas, que não tinha janelas. A área não comporta todos os profissionais que cobrem as atividades legislativas –o atual comitê tem 288 metros quadrados.

Pela proposta informal, o novo comitê de imprensa deve ficar ao lado do atual, em sala onde hoje fica a primeira vice-presidência, e ocupar parte da sala provisória também, que abrigava a SGM (Secretaria-Geral da Mesa).
O local é próximo ao Salão Verde, mas os jornalistas perderão acesso direto ao plenário, como têm hoje, assim como a possibilidade de abordar o presidente antes, durante ou após as votações.

De acordo com o líder do centrão, a área do novo comitê terá o mesmo espaço que o atual. Além de banheiros, o espaço atual tem 54 espaços, cabines de imprensa para entrevistas reservadas e janelas. Ainda não há estimativa de custo da obra que o presidente da Câmara fará para se encastelar na atual área de imprensa, nem um projeto formal de como ficaria o local após as reformas.

Quando a obra for concluída, Lira pode se livrar de ser abordado pela imprensa, pois terá acesso direto ao plenário da Câmara. Hoje, ele precisa passar por uma área de circulação de jornalistas e representantes da sociedade que frequentam a Câmara –o chamado Salão Verde. Quando passam por essa área, os presidentes da Casa são geralmente questionados sobre pauta de votações, decisões polêmicas e demais fatos políticos.

Por causa da pandemia, o acesso ao plenário está proibido para jornalistas. O trabalho da imprensa é realizado no Salão Verde ou no Salão Negro, local que foi preparado de acordo com as medidas de segurança contra a Covid-19 para entrevistas coletivas –quase que diárias– do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e outros parlamentares.

Nos últimos dias, Lira se mostrou irredutível em relação à decisão de tirar os jornalistas do atual comitê, em medida que gerou atritos com os profissionais e que teve repercussão negativa com outros deputados e personalidades. Nos bastidores, o presidente da Câmara responsabiliza o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, pela crise provocada pela transferência da imprensa, e cogita substituí-lo do cargo.

Lira ressuscitou um projeto do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (MDB-RJ). A obra no local envolve a instalação de um elevador para cadeirantes no gabinete. A mudança também chegou a ser discutida quando o PT comandou a Câmara, mas não avançou.

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) só deu aval à obra durante a gestão de Cunha. O emedebista pretendia realizar a reforma, mas acabou afastado e preso pela Operação Lava Jato acusado de receber propina por contratos com órgãos públicos e da Caixa Econômica Federal.

"A intervenção, como foi concebida, não apresenta riscos de descaracterização do edifício e se restringe basicamente à reorganização e redistribuição interna de diversos ambientes de trabalho, conferindo mais clareza à organização e distribuição dos ambientes internos do edifício, não havendo nenhuma alteração, seja na volumetria do edifício, suas fachadas ou obras de arte integradas", afirma o Iphan.

Lira foi eleito para comandar a Casa no primeiro turno com ajuda do governo Bolsonaro, que distribuiu cargos e emendas para partidos aliados em troca do apoio ao candidato alinhado ao Palácio do Planalto.

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