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G20

Lula cita ciclone no Sul do Brasil e cobra dívida de países ricos para combater aquecimento global

Segundo presidente, durante a presidência do G20, Brasil lançará uma Força Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima

Lula e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi Lula e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi  - Foto: Ricardo Stuckert

Em seu discurso de abertura da Cúpula do G20, neste sábado (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou dos países desenvolvidos um comprometimento maior no combate ao aquecimento global. Lula citou o ciclone que deixou milhares de desabrigados e dezenas de vítimas fatais no Rio Grande do Sul e afirmou que medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas são urgentes.

Ele defendeu que o G20 impulsione investimentos em energias renováveis, como os biocombustíveis. Disse que os compromissos do Acordo de Paris devem ser cumpridos e anunciou que lançará, durante a presidência do grupo pelo Brasil, a partir de dezembro deste ano, uma Força Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima.

— Se não agirmos com sentido de urgência, esses impactos serão irreversíveis. Os efeitos da mudança do clima não são sentidos por todos da mesma forma. São os mais pobres, mulheres, indígenas, idosos, crianças, jovens e migrantes, os mais impactados. Quem mais contribuiu historicamente para o aquecimento global deve arcar com os maiores custos de combatê-la. Esta é uma dívida acumulada ao longo de dois séculos — disse o presidente.

Lula lembrou a conferência mundial do clima de Copenhague, em 2009, quando ficou decidido que os países ricos deveriam prover 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático novo e adicional aos países em desenvolvimento. Segundo ele, essa promessa nunca foi cumprida.

— De nada adiantará o mundo rico chegar às COPs [conferências mundiais sobre o clima] do futuro vangloriando-se das suas reduções nas emissões de carbono, se as responsabilidades continuarem sendo transferidas para o Sul Global. Recursos não faltam. Ano passado, o mundo gastou 2,24 trilhões de dólares em armas. Essa montanha de dinheiro poderia estar sendo canalizada para o desenvolvimento sustentável e a ação climática.
 

Lula afirmou que o Brasil está fazendo sua parte. Disse que a proteção da floresta e o desenvolvimento sustentável da Amazônia estão entre as prioridades do meu governo brasileiro. Ele destacou que, nos primeiros oito meses deste ano, houve uma redução de 48% do desmatamento, em comparação ao mesmo período de 2022.

A Cúpula da Amazônia, que reuniu, em Belém (PA), todos os países que abrigam parte da floresta, foi citada por Lula. Segundo ele, o Brasil aproveitou para aprofundar o diálogo com outros países detentores de florestas tropicais da África e da Ásia, para articular posições comuns entre as bacias Amazônica, do Congo e do Bornéu-Mekong.

— Não basta olhar as fotos de satélite. Debaixo de cada árvore, há uma mulher, um homem e uma criança — disse.

Ele afirmou que o "descompromisso com o meio ambiente" é responsável por uma emergência climática sem precedentes.

— O aquecimento global modifica o regime de chuvas e eleva o nível dos mares. As secas, enchentes, tempestades e queimadas se tornam mais frequentes e minam a segurança alimentar e energética — enfatizou.

Lula mencionou uma frase conhecida internacionalmente, dita pelo cosmonauta russo Yuri Gagarin, quando viu a Terra pela primeira vez pela escotilha de sua nave: "A terra é azul".

— Sete décadas depois, as fotografias enviadas pela Chandrayaan-3 que a Índia pousou recentemente no polo sul da Lua não deixam dúvidas: vista do alto, a Terra continua azul e linda. Esperamos contar com o engajamento de todos para que a beleza da Terra não seja apenas uma fotografia vista do espaço.

Interesses das nações em desenvolvimento
De acordo com interlocutores do governo ouvidos pelo Globo, Lula tentará se projetar com um discurso em defesa dos interesses dos países em desenvolvimento. Ele vai ressaltar a força do chamado Sul Global e fará discursos não apenas em defesa do cumprimento de compromissos dos países ricos para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, mas também pela redução das desigualdades, a reforma do Conselho de Segurança da ONU e o maior engajamento nas negociações para um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, em guerra desde fevereiro do ano passado.

Com a ausência dos presidentes da China e da Rússia, Xi Jinping e Vladimir Putin, é também esperada uma disputa pelos holofotes entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Junto a líderes europeus, Biden vai insistir que a declaração final em negociação contenha palavras duras contra os russos, por terem invadido e tomado territórios da Ucrânia. Modi deve adotar a mesma cautela vista em reuniões anteriores, apoiada pelo Brasil.

Líderes e representantes das economias mais ricas do mundo começaram o dia discutindo clima, meio ambiente, desenvolvimento verde e sustentável e transições energéticas.

Ditadores
Entre a primeira sessão — cujo tema é "Uma Terra" — e a segunda, Lula terá duas reuniões bilaterais: com o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, e o primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman. Além de ambos restrigirem a liberdade em seus países, Erdogan era um forte aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro e pesa sobre o príncipe saudita a acusação de assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico ao regime.

Lula também vai se reunir com o primeiro-ministro da Índia. Não se sabe, ainda, se o encontro será neste sábado ou no domingo.

Etanol
Em seguida, os líderes estarão no painel "A Família". Nessa sessão, os assuntos debatidos são crescimento inclusivo, progressos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), saúde, educação e desenvolvimento liderado por mulheres.

No fim do dia, Brasil, África do Sul, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Índia, Itália e Maurício (membros); e Bangladesh, Canadá e Singapura (observadores) lançam a Aliança Global de Biocombustíveis (GBA, sigla em inglês). O principal objetivo desse movimento é estimular a produção e o consumo de etanol no mundo.

No domingo, os líderes do G20 participarão de uma cerimônia de deposição de oferenda floral no Memorial Raj Ghat Mahatma Ghandi. Em seguida, será realizada a terceira e última sessão da cúpula, com o tema "O Futuro", com destaque para transformações tecnológicas, infraestrutura pública digital, reformas multilaterais, trabalho e emprego.

Conversa com Macron
Após a terceira sessão, Lula se reunirá em separado com o presidente da França, Emmanuel Macron. Entre os principais temas da agenda bilateral estão o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, um possível pedido de Macron para que seu país faça parte da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e a guerra na Ucrânia.

Depois da conversa com Macron, Lula receberá simbolicamente, do primeiro-ministro indiano, a presidência do G20. O Brasil assumirá o comando do grupo, oficialmente, no próximo mês de dezembro, e terminará seu mandato em novembro de 2024, em uma reunião de líderes no Rio de Janeiro.

O último compromisso oficial de Lula será uma reunião com o primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte. A seguir, o presidente brasileiro dará uma entrevista coletiva à imprensa.

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