Lula defende 'responsabilidade social' e fim de teto de gastos em eventual novo governo
Ex-presidente criticou reforma trabalhista, mas afirmou não querer "destruí-la", e sim "readequá-la ao mundo do trabalho do século 21"
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, nesta terça-feira (24), que seu eventual terceiro governo não terá um limite para gastos no orçamento federal, implementado na gestão de Michel Temer (MDB). Ele defendeu, em vez disso, uma administração pautada em "responsabilidade social".
Em entrevista à rádio "Mais Brasil News", Lula afirmou que o teto de gastos foi "uma forma que a elite econômica encontrou para evitar que o pobre tivesse aumento nos benefícios, nas políticas sociais".
"Um governo sério não precisa de teto de gastos. Aprovaram o teto de gastos porque os banqueiros são gananciosos. Eles exigiram que o governo garantisse o que eles têm direito de receber, e tentaram criar problema para investimento na saúde, educação, ciência e tecnologia".
O ex-presidente criticou a reforma trabalhista, também aprovada durante o governo Temer, no entanto, falou em "readequá-la" e não mais não revogá-la — posição que é defendida por uma ala mais à esquerda do partido e pelo PSOL, partido que apoiará a candidatura petista à Presidência.
"Eu não disse que a gente tem que destruir o que foi feito. Eu falo em readequar a reforma do trabalho ao século 21, tentar adaptá-la às leis trabalhistas do mundo de hoje. A gente não quer voltar ao passado. A gente quer ir para frente. Significa discutir uma legislação trabalhista junto com os dirigentes sindicais, trabalhadores, empresários e governo. O que a gente não quer é a implosão que eles fizeram com o direito dos trabalhadores", afirmou nesta terça-feira.
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Como O GLOBO mostrou em abril, apesar da cobrança de aliados, Lula deve optar pelo caminho da “revisão” da reforma, com foco, a princípio, em três pontos principais: mudança das regras para o trabalho intermitente; garantia de direitos para profissionais que fazem entregas ou transporte de passageiros por aplicativos; e possibilidade de os sindicatos determinarem em assembleia com seus filiados as suas fontes de recursos.
Lula vem tentando fazer uma mediação entre a agenda trabalhista e o empresariado, num movimento de se tornar mais palatável ao centro. Um primeiro passo foi dado com a escolha do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), histórica figura do PSDB, como seu vice. O próprio petista afirmou na entrevista que a decisão teve o objetivo de fazer "uma fotografia para o centro":
"Eu trouxe o Alckmin para fazer uma fotografia para efetivamente a classe média, o centro brasileiro, as pessoas que às vezes têm medo do Lula com relação às mentiras (que contam) contra o Lula, as pessoas que por conveniência se esqueceram que foram beneficiadas no meu governo", declarou.
Em crítica à forma com que o presidente Jair Bolsonaro usa temas religiosos em seus discursos e decisões, o ex-presidente declarou que "não vai misturar religião com política" se eleito, e que governantes precisam "deixar as pessoas cuidarem da sua fé com paz e respeito, sem usar o nome de Deus em vão", citando um dos Dez Mandamentos da Bíblia.
Bolsonaro tem como lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" e cita cotidianamente o versículo "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (João 8:32). Além disso, justifica decisões que vão contra o Estado laico pelo fato de ser um "presidente cristão".
Moro réu
Lula comentou o fato de o ex-juiz e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Sergio Moro ter se tornado réu em uma ação popular movida por deputados do PT. Os petistas pedem que Moro seja condenado a ressarcir os cofres públicos por alegados prejuízos causados pela operação Lava Jato à economia brasileira e à Petrobras.
A ação é movida pelos deputados Rui Falcão (PT-SP), Erika Kokay (PT-DF), Natália Bonavides (PT-RN), José Guimarães (PT-CE) e Paulo Pimenta (PT-RS). Na petição, os parlamentares afirmam que "o ex-juiz Sergio Moro manipulou a maior empresa brasileira, a Petrobras, como mero instrumento útil ao acobertamento dos seus interesses pessoais".
Lula disse esperar que Moro tenha "o direito de defesa e a presunção de inocência que eu não tive com ele", referindo-se à sua condenação imposta pelo então juiz da Operação Lava-Jato, em 2017, e que viria a ser anulada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021. E afirmou que Moro deveria ter "prendido as pessoas que cometeram o crime", e não prejudicado as empresas envolvidas nos ilícitos.
"Eu pessoalmente acho que o Moro cometeu um crime contra este país. Os prejuízos que este país teve com o carnaval que o Moro provocou foram muito grandes", afirmou Lula.