Lula deixa evangélicos fora do 'Conselhão', que já incluiu pastores em governos petista
Lista de 246 nomes apontados pelo presidente para integrar órgão consultivo conta com apenas uma liderança religiosa, o padre Júlio Lancelotti
Na contramão do expediente adotado em gestões petistas anteriores, o governo Lula (PT) deixou lideranças evangélicas de fora da nova versão do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o chamado "Conselhão", recriado nesta quinta-feira (4).
O segmento evangélico abriga uma das maiores taxas de desaprovação ao atual governo, segundo pesquisa Ipec divulgada em abril, e se alinhou majoritariamente à tentativa de reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de acordo com levantamentos realizados no ano passado.
A lista de 246 componentes do Conselhão, divulgada nesta quinta, incluiu representantes de movimentos sociais, do setor financeiro, juristas e empresários, além de personalidades artísticas e culturais da sociedade civil. A única liderança religiosa presente na lista é o padre católico Júlio Lancellotti, da pastoral Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo.
Ao criar o Conselhão no seu primeiro mandato, Lula nomeou em junho de 2003 o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, para participar do colegiado. Malafaia, hoje um dos mais ativos apoiadores de Bolsonaro entre lideranças evangélicas, apoiou o candidato petista no segundo turno presidencial de 2002.
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À época, o pastor participou de um evento no qual ele e outros representantes evangélicos aderiram à campanha de Lula. Ao lado do petista, Malafaia fez uma oração desejando sua vitória sobre o candidato tucano José Serra.
Malafaia não foi o único pastor integrante do "Conselhão" em gestões petistas. Em dezembro de 2004, ele foi substituído no colegiado pelo também pastor Jabes Alencar, que liderava a Assembleia de Deus Bom Retiro. Alencar também se tornou apoiador de Bolsonaro no último governo.
O suplente de Alencar no Conselhão foi o pastor Fadi Faraj, atualmente líder da igreja Ministério da Fé. Faraj disputou uma vaga de deputado federal pelo União Brasil no Distrito Federal, em 2022, mas não se elegeu. Antes, ele havia se filiado ao PTB após a guinada bolsonarista do partido, conduzida pelo ex-deputado Roberto Jefferson, mas deixou a sigla em meio a conflitos internos.
O governo Dilma Rousseff havia mantido o expediente de indicar lideranças evangélicas para o Conselhão. Em janeiro de 2016, numa reformulação do colegiado meses antes de ser destituída em processo de impeachment, Dilma apontou o bispo anglicano Flávio Augusto Borges Irala para integrar o órgão. O bispo presidia à época o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), que havia se posicionado meses antes contra o impeachment.
Extinto por Bolsonaro em 2019, e agora recriado por Lula, o Conselhão é um órgão consultivo dedicado a auxiliar a Presidência da República na definição de políticas prioritárias para o país. A ausência evangélica ocorre em meio à avaliação, entre interlocutores do governo, de que há um afastamento em relação às principais lideranças do segmento até aqui, com poucos gestos concretos de ambas as partes. Recentemente, o governo escalou o vice-presidente Geraldo Alckmin numa tentativa de reatar pontes com as igrejas de maior alcance.
Pesquisa Ipec realizada no marco de 100 dias do governo Lula apontou que 35% dos evangélicos consideravam a gestão petista ruim ou péssima até então, contra 24% de avaliações positivas. Os percentuais apontam uma tendência inversa ao quadro geral dos entrevistados: 39% disseram aprovar o início do governo, enquanto 26% reprovavam, segundo o Ipec.