Lula diz que fundo eleitoral do PT é 'cooptado' por deputados
No ato de filiação da ex-prefeita Marta Suplicy, ele também defendeu o direito de o partido de escolher seus candidatos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o ato de filiação da ex-prefeita Marta Suplicy nesta sexta-feira, em São Paulo, para criticar a distribuição do fundo eleitoral dentro do PT. Segundo ele, o valor que abastece as candidaturas foi "cooptado" por deputados com mandato. O presidente também cobrou uma autocrítica de integrantes do partido.
— Direção do partido, candidatos e autoridades: pensem em como a gente vai dar a volta por cima para voltar a ter mais deputados, senadores e vereadores. Na última eleição aqui em São Paulo tinham meninas candidatas a vereadora que não tinham um desgraçado de um panfleto porque o fundo eleitoral foi cooptado pelos deputados que têm mandato. E o povo tem pouca participação nesse dinheiro — disse Lula, acrescentando que, quem tiver raiva dele por conta da declaração, "pode falar".
Leia também
• Marta Suplicy volta ao PT após nove anos para ser vice de Boulos
• Eduardo Suplicy sobe ao palco e canta "Eu Sei Que Vou Te amar" em filiação de Marta; veja vídeo
• "Dia importante para SP", exalta Gleisi sobre volta de Marta Suplicy ao PT
Numa crítica direcionada a parlamentares petistas, Lula questionou o fato de o partido ter 20% de preferência eleitoral, mas apenas 5% de voto na legenda para vereador. O presidente ainda reivindicou o direito de o PT selecionar os seus próprios candidatos, e não ficar à revelia das escolhas de deputados.
— Precisa escolher como candidato a vereador do PT as pessoas que são lideranças reais no movimento social, e não aqueles que querem apenas ser candidatos. "Eu quero me lançar, eu vou me lançar". "Eu quero me lançar porque eu sou branco. Eu quero me lançar porque eu sou mulher. Eu quero me lançar porque eu sou negro. Eu quero me lançar porque eu sou indígena". Está errado. As pessoas têm que se lançar pelas qualidades delas e disputar as eleições. Se a gente não fizer isso, a gente não vai crescer — afirmou. —O partido tem que ter coragem. Não é o deputado federal que indica o candidato a vereador porque quer fazer dobradinha com ele depois. Não é o deputado estadual que indica. É o partido.
Lula fez um discurso acalorado, que foi o mais longo da noite, e ganhou, em alguns momentos, o completo silêncio da plateia. Ao citar que está com 78 anos, o petista disse que já fez mais do que imaginou que pudesse em seus mandatos e que, agora, quer "salvar" o seu partido.
A poucos meses da eleição municipal, o presidente da República cobrou uma autorreflexão dos militantes e quadros do partido. Ele lembrou que a legenda já governou cidades como São Paulo, Guarulhos, Osasco, São Bernardo, Santo André, Diadema, Ribeirão Pires e Mauá. E, hoje, só tem Mauá e Diadema na região do ABC paulista, considerado seu berço político.
O presidente ainda chamou a atenção de apoiadores que "perdem tempo" fazendo críticas ao governo e apelou para que dialoguem com pessoas que não votaram no partido.
— Muitas vezes vocês perdem muito tempo olhando o que o governo está fazendo, fazendo críticas. O nosso papel quando ganhamos as eleições não é ficar olhando os defeitos do governo. Nosso desafio é saber o seguinte: a gente está indo para a periferia do país conversar com as pessoas que foram enganadas pelo bolsonarismo? A gente está indo conversar com as pessoas que se deixam levar pela fake news todo dia? Com a juventude da periferia? Estamos conversando com os pobres que não votam na gente? Com as pessoas que são evangélicas e acreditam na mentira deslavada de alguns pastores? Ou a gente está só se reunindo entre nós, do PT, para fazer críticas a nós do PT? — questionou Lula.