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Plataforma

Lula e apoiadores poderiam ser alvos de ferramenta de combate à fake news lançada pelo governo

Até mesmo ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, que será responsável pela nova plataforma já divulgou conteúdos inautênticos em suas redes sociais

Presidente Luiz Inácio Lula da SilvaPresidente Luiz Inácio Lula da Silva - Foto: Evaristo Sá/AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou nesta segunda-feira (27) uma plataforma oficial de checagem de informações para combater fake news, mas o próprio petista poderia ter declarações contestadas pela ferramenta. Em diversos momentos, inclusive em eventos oficiais, Lula fez afirmações inverídicas ou sem qualquer comprovação, sendo a última há quatro dias, ao afirmar que os planos de ataque ao senador Sergio Moro (Uniao-PR) seriam uma "armação" do ex-juiz da Lava-Jato.

A divulgação de dados inautênticos não fica restrita ao chefe do Executivo e já foi empreendida por seus aliados, como o próprio ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, que será responsável pelo novo portal de combate à desinformação.

A ideia do governo que a nova plataforma reúna desmentidos de informações mentirosas que ganham reverberação nas redes sociais. O governo, contudo, não explica qual será o critério utilizado para determinar quais fake news serão alvo de desmentidos e também não há um espaço para enviar sugestões.

O lançamento aconteceu cinco dias após Lula ser alvo de acusações de fake news por afirmar, durante visita ao Complexo Naval de Itaguaí, região metropolitana do Rio de Janeiro, que o plano para atacar Moro desarticulado após investigações da Polícia Federal era uma “armação” do ex-juiz. O presidente, no entanto, não apresentou provas de qualquer ação irregular do senador relacionada ao inquérito.

— Eu não vou falar, porque acho que é mais uma armação do Moro, mas eu quero ser cauteloso. Eu vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro, mas eu vou pesquisar e vou saber porquê da sentença. Até fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele, mas isso a gente vai esperar. Eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas. Eu acho que é mais uma armação e, se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Aí eu não sei o que ele vai fazer da vida, se ele continuar mentindo do jeito que está mentindo — falou.

Ainda em tom conspiratório, Lula afirmou na última semana que a Operação Lava-Jato, que era comandada por Moro, seria uma "mancomunação" de órgãos brasileiros com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos:

— Tenho consciência de que a Lava-Jato fazia parte de uma mancomunação entre o Ministério Público brasileiro, a Polícia Federal brasileira e a Justiça americana, o Departamento de Justiça. Eu tenho certeza disso, porque foi uma coisa que envolveu toda a América Latina e era uma coisa para destruir mesmo. Porque as empresas da construção civil brasileira estavam conquistando espaço no mundo inteiro — disse em entrevista ao Portal 247.

Há relatos da colaboração de agentes do FBI nas investigações da Lava-Jato, mas nunca foi comprovado que a parceria teve qualquer outro tipo de objetivo além das investigações de combate à corrupção. A narrativa da atuação norte-americana na força-tarefa é antiga, e foi usada pelo petista pela primeira vez ainda em 2018, quando ainda estava preso, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. À época, falou que os Estados Unidos estavam "por trás de tudo o que estava acontecendo na Petrobras”.

— Porque interessa para eles o fim da lei que regula o petróleo, o fim da lei que regula a partilha. O Brasil descobriu a maior reserva de petróleo do mundo do século XXI. E não se sabe se tem outra. Não sei se você já tem uma compreensão sociológica de junho de 2013. O Brasil virou protagonista demais. E ali eu acho que começava o processo de tentar dar um jeito no Brasil. Como diria meu amigo Celso Amorim, eu não acredito muito em conspiração. Mas também não desacredito — especulou.

Lula já teve, inclusive, revezes na Justiça por conta de narrativas com desinformação. Durante a campanha eleitoral de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a remoção de postagens que acusavam o governo Jair Bolsonaro de propor a redução do salário mínimo e das aposentadoria feitas dos perfis do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma série de seus apoiadores, como o deputado André Janones (Avante-MG).

No período, Lula também fez declarações contestadas durante os debates em que enfrentou Jair Bolsonaro. Ele chegou a afirmar que teria criado Fies, programa de 1999, ano da gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Outros petistas
Quem também já divulgou informações sem qualquer comprovação foi o ministro das Comunicações do governo Lula, Paulo Pimenta, que foi designado como responsável pela nova ferramenta lançada pelo governo para combater fake news. O político já divulgou postagens em suas redes sociais se referindo a ocasião em que Jair Bolsonaro (PL), então candidato à Presidência, foi esfaqueado, como "fakeada".

Em 2021, o ministro publicou em sua página no Facebook o documentário "Bolsonaro e Adélio — Uma facada no coração do Brasil", que colocava em xeque a legitimidade agressão. Em 2022, ele também afirmou que Bolsonaro retornava ao assunto por fins políticos.

"O desespero de Bolsonaro é tanto que está tentando aplicar uma espécie de Plano Cohen Tabajara. Ele ressuscita a 'Fakeada' para tentar um último suspiro diante da derrota iminente. A verdade é que o miliciano é o pior presidente da história do Brasil e o povo não aguenta mais", escreveu no Twitter à época.

Uma das principais aliadas de Lula, a deputada federal Gleisi Hoffmann, também já enfrentou problemas judicias por conta de declarações sem provas. Durante a campanha eleitoral de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a exclusão de uma publicação da petista dizendo que o presidente Jair Bolsonaro foi o mandante do assassinato de Benedito Cardoso dos Santos, na zona rural do município de Confresa, em Mato Grosso. Eleitor de Lula da Silva (PT), ele foi morto por Rafael Silva de Oliveira, que era apoiador do ex-presidente.

Gleisi também precisou apagar vídeo, após determinação do então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, que associava com pedofilia a fala do então presidente Jair Bolsonaro de que "pintou um clima" entre ele e adolescentes venezuelanas

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