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ELEIÇÕES

Lula e Zema acirram embate político de olho em 2026

Uma das estratégias do governo é usar os integrantes do primeiro escalão para atuar na linha de frente

Romeu Zema e Lula em evento em BH Romeu Zema e Lula em evento em BH  - Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, acirraram o embate político em meio à mobilização do governo para cacifar o petista à reeleição em 2026.

Uma das estratégias do Palácio do Planalto é usar os integrantes do primeiro escalão para atuar na linha de frente contra o político do partido Novo.

Lula considera, segundo auxiliares, que quem melhor tem desempenhado esse papel, até o momento, é o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Zema é citado como possível candidato à Presidência da República na próxima disputa.

Na quarta-feira, durante cerimônia no Planalto de assinatura do contrato de concessão da BR-381, localizada em Minas, o ministro dos Transportes, Renan Filho, atendeu o pedido do presidente e atacou o governador mineiro, que não estava presente.

— Para mim, é uma pena que o governador de Minas não esteja aqui nesse momento, porque nunca nenhum governo deu tanta atenção a Minas Gerais quanto o senhor (o presidente Lula) está dando agora. Vi o governador de Minas cobrando investimentos, no governo passado, mas não o vejo aqui nesse momento. Parece que a cobrança é mais política e menos pela obra. Isso apequena o gestor público — disse Renan Filho.

No mesmo evento, Lula disse que o governador deveria lhe dar um prêmio por sancionar o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), que pode zerar os juros para o pagamento das dívidas dos entes com a União.

— Para falar a palavra obrigado tem que ter grandeza, caráter e humildade. Esse acordo das dívidas de Minas Gerais, o governador deveria vir aqui me trazer um prêmio, um troféu de primeiro presidente da República que ele tem conhecimento, que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador, de nenhum prefeito por ser contra ou por ser oposição — disse Lula, completando: — O que nós fizemos para os estados que não pagavam dívida, talvez só Jesus Cristo fizesse se concorresse à presidente da República.

Na quarta-feira, o governador rebateu. Nas redes sociais, ele disse que Jesus Cristo “jamais cobraria juros abusivos de quem ajuda a construir o Brasil”.

Críticas
Na semana passada, Zema já havia criticado vetos feitos por Lula a pontos do projeto. "O governo federal quer que os estados paguem a conta de sua gastança. Com vetos ao Propag, Lula quer obrigar os mineiros a repassar R$ 5 bi a mais em 25/26, apesar do recorde de arrecadação federal: R$ 2,4 trilhões em 2024. É dinheiro para sustentar privilégios e mordomias", postou o governador, nas redes sociais.

Dias depois, em uma reunião, o presidente cobrou auxiliares que respondessem ao governador mineiro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi a público dizer que a dívida do estado havia crescido por causa do calote de pagamentos pelo estado.

O presidente, porém, não ficou satisfeito e afirmou, segundo relatos:

— Vamos ter que esperar o Silveira voltar para responder à altura.

Os embates com Zema foram fundamentais, na avaliação de aliados, para que o ministro de Minas e Energia se cacifasse com Lula. Em conversas internas, o petista costuma elogiar a postura do auxiliar mineiro de tomar à frente na posição de defesa do governo.

Além de adversário do governo, Zema consta na lista de possíveis candidatos a presidente em 2026.

O ministro de Minas e Energia está em Davos, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial. Em vários momentos nos últimos meses, Silveira atacou Zema.

Em setembro, por exemplo, disse que o governador deveria cuidar de Minas antes de pensar na eleição de 2026. Zema, por sua vez, critica o governo desde o início do terceiro mandato de Lula. Em outubro de 2023, o mineiro acusou a gestão federal de colocar obstáculos para o fechamento do acordo para pagamento de indenização pela Vale em razão do rompimento da barragem de Mariana ocorrida em 2015. Disse, na época, que o governo tinha “má vontade” com o estado.

Postura
De acordo com auxiliares do presidente, a postura de enfrentamento de Silveira foi fundamental para garantir que ele não seja colocado como alvo da reforma ministerial que deve ocorrer nas próximas semana, apesar de ter se afastado de ex-colegas do Senado como o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de quem já foi chefe de gabinete.

Alexandre Silveira nega que Lula tenha dado a ele a tarefa de enfrentar publicamente Zema. O ministro diz que sua postura contrária ao governador mineiro é reflexo da convergência de leitura política que têm com Lula de uma gestão que, na visão de Silveira, não tem diálogo e nem traz resultados:

— Faço para tentar manifestar minha indignação com tanta irresponsabilidade e pelo desvio de caráter dele não ser razoável. Zema pulou palanque de candidato à reeleição de Minas para o palanque do candidato a presidente. Não governa Minas e fica por conta de fazer bravata e lacração de rede social. Ele quebrou toda liturgia da estatura de um governador — afirmou o ministro ao GLOBO.

Silveira tem a intenção de disputar o governo de Minas em 2026 na hipótese de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) não demonstrar disposição em concorrer. Nesse caso, Silveira deverá se colocar como candidato de Lula. O presidente não abre mão de ter um palanque combativo no estado, que é o segundo maior colégio eleitoral do país e considerado pêndulo nas eleições presidenciais.

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