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ELEIÇÕES 2022

Lula entra em ação e PT tenta atrair PDT para o seu arco de alianças

Cacique pedetista, Carlos Lupi confirma conversas com o ex-presidente, mas rechaça possibilidade de retirar candidatura de Ciro Gomes

LulaLula - Foto: reprodução

Mesmo com a pré-candidatura à presidência de Ciro Gomes posta no páreo, o PDT tem sido alvo de investidas do PT, que ainda nutre a esperança de atrair a sigla para o arco de alianças do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O próprio Lula vem atuando para conquistar o apoio almejado e tem telefonado para o presidente do PDT, Carlos Lupi, na tentativa de manter a porta aberta ao diálogo entre as duas legendas de esquerda.

Em uma outra frente de ação, petistas acenaram a representantes do PDT com a possibilidade de apoiar candidaturas pedetistas nos estados, em troca da promessa de adesão à chapa encabeçada por Lula no plano nacional. Quem está à frente dessas articulações é o deputado federal José Guimarães (PT-CE), que cuida das alianças estaduais na campanha presidencial petista.
 

Até aqui, Lula fez ao menos três ligações para o Carlos Lupi. A interlocutores, o cacique pedetista fala sobre o poder de persuasão do ex-presidente e afirma que resiste a se reunir pessoalmente com ele para não ser “seduzido”.

Ao Globo, Lupi confirmou as conversas com Lula e não rechaçou uma reunião presencial entre os dois antes das eleições. O presidente do PDT, contudo, nega qualquer chance de seu partido abrir mão da candidatura de Ciro Gomes para subir no palanque petista.

— Conversamos por telefone algumas vezes, tenho um carinho por Lula. Não rechaço um encontro. Mas Lula é elegante, ele respeita a candidatura de Ciro — diz Lupi, que foi ministro no governo de Dilma Roussef (PT), sucessora de Lula.

Uma das ligações de Lula para Lupi foi intermediada pelo senador pedetista Weverton Rocha (MA), pré-candidato ao governo do Maranhão. O parlamentar já fez diversos acenos públicos ao ex-presidente, embora o candidato oficial do PT no estado seja Carlos Brandão (PSB), que assumiu o governo de Flávio Dino (PSB). 

Na prática, contudo, a tendência é que Lula tenha dois palanques no Maranhão — e Weverton já informou isso à Executiva do PDT. 

É apostando em situações parecidas com a do maranhense que o PT vem assediando membros do PDT, em busca de apoios para Lula. De acordo com uma fonte ligada ao PT, não é preciso sequer que Ciro saia da disputa. Basta que, nos bastidores, parte dos pedetistas trabalhe por Lula.

Nas pesquisas de intenção de voto, Lula aparece em primeiro lugar, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). O pedetista fica em terceiro, com mais de dez pontos percentuais de diferença para os primeiros no ranking. 

Entre os petistas, há a avaliação de que os eleitores de Ciro migrariam para Lula na medida em que o ex-ministro perder força na disputa. Com os votos de Ciro, segundo a análise do partido, o ex-presidente teria mais folego contra Bolsonaro ou poderia derrotá-lo no primeiro turno. De acordo com a última pesquisa Datafolha, Lula tem 43% das intenções de voto, enquanto Ciro tem 6%. Bolsonaro, por sua vez, aparece com 26%. 

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que o partido gostaria de ter o PDT na aliança pro Lula. Ela argumenta que as demais siglas do campo político da esquerda já firmaram o apoio ao ex-presidente. A dirigente, porém, nega que haja uma ofensiva para atrair os pedetistas. 

— Gostaríamos muito de ter o PDT na nossa coligação. É do nosso campo político. Todos os demais partidos desse campo se uniram em torno de Lula. Mas não estamos fazendo nenhuma ofensiva política em relação ao PDT. Eles têm candidato, e respeitamos esse direito e legitimidade do PDT — disse.

O Rio é outro exemplo onde o PDT terá um palanque duplo, com Lula e Ciro. O pré-candidato pedetista é o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves, que já foi do PT e que se reuniu algumas vezes com o ex-presidente desde que anunciou sua pré-candidatura. 

Em seu próprio estado, o Ceará, onde PT e PDT mantém uma aliança longeva, Ciro também pode perder apoio do seu partido. Pelo acordo, os pedetistas indicarão o candidato que sucederá o petista Camilo Santana, ex-governador do estado que renunciou para concorrer ao Senado. O grupo de Ciro quer fazer candidato o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, mas o nome dele sofre resistência do PT cearense. O partido prefere que a indicada seja a atual governadora Izolda Cela, que, mesmo sendo do PDT, não é próxima do clã Gomes e tem laços mais estreitos com o PT. 

Sobre os entraves em seu estado, Ciro disse em entrevista à rádio Jornal Jangadeiro que pode enfrentar o PT se o acordo virar um “negócio de conchavo”. Completou ainda que há “um lado corrupto” no PT cearense.

— É bom que todo mundo saiba que esse acordo vai acontecer se o interesse do Ceará estiver acima. Se for com negócio de conchavo, picaretagem, eu topo enfrentar o PT também — disse Ciro, que completou: — Eu não vou me submeter a um lado corrupto do PT que também existe no Ceará.

Não seria a primeira vez que Ciro sofre perdas para Lula. O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) chegou a ser apontado como candidato do PDT ao governo do Amapá. Hoje, o parlamentar é um dos coordenadores da campanha do ex-presidente. E o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), antes de disputar o Executivo fluminense como candidato oficial do Lula no estado, foi cotado para concorrer ao lado do pedetista.  

Em meio ao assédio do PT, cresce um sentimento entre pedetistas para que Ciro se mantenha com dois dígitos nas pesquisas para ser considerado competitivo. A esperança de alguns líderes do partido é que o ex-ministro cresça à medida que a aliança da terceira via derreta. 

— O que a gente vê agora é que não existe uma terceira via. Existe uma tentativa de compor uma alternativa às candidaturas de Bolsonaro e Lula. Mas essa via não se viabiliza. Não adianta quem não tem votos apoiar que também não tem voto. O Ciro é a única via provável, porque ele tem uma militância, já tem uma quantidade de voto estabelecida. Imagino que esse deva ser o caminho dos partidos que querem uma mudança realmente no Brasil — afirma o deputado federal Mário Heringer (PDT-MG), presidente do diretório pedetista mineiro.

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