Lula faz ajuste na estratégia e deve iniciar encontros também com líderes da base
Mudança ocorre após derrotas em série no Congresso
Após a série de derrotas no Congresso na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um ajuste na articulação política e estreia nesta segunda-feira uma nova rotina de reuniões. O chefe do Executivo passará a participar de encontros no Palácio do Planalto com o ministro das Relações Institucionais (Alexandre Padilha) e os líderes do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA); na Câmara, José Guimarães (PT-CE); e no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).
Aliados também tentam convencer Lula e estabelecer encontros frequentes com um grupo ainda mais amplo, que contemplaria os parlamentares que lideram as bancadas dos partidos aliados nas duas Casas legislativas. Segundo interlocutores do presidente, a tendência é que, diante do cenário turbulento e com a necessidade de seguir aprovando medidas econômicas, Lula intensifique os acenos.
Até então realizadas sem a participação de Lula, as reuniões de segunda-feira no Palácio do Planalto que discutem a semana do governo no Congresso terão a presença do petista, como antecipou a colunista Bela Megale.
Auxiliares afirmam que os ajustes serão mais focados no fluxo de discussões mais amplas sobre as votações. A ideia é que essas conversas se intensifiquem internamente e também com os parlamentares, organizando melhor o fluxo e trazendo uma rotina de debates para o time da articulação.
Aliados do presidente no Congresso criticam a postura de Lula no terceiro mandando, mais distante do convívio com parlamentares. Como mostrou O Globo, Lula tem usado cerimônias de sanções de projetos de lei no Palácio do Planalto para se aproximar de deputados e senadores. A ideia é permitir um momento de contato dos parlamentares com Lula. No último mês, foram realizados oito eventos desse tipo em que mais de 30 parlamentares estiveram com Lula.
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A colunista Malu Gaspar mostrou que o plano é iniciar essa série de conversas com as chamadas "bancadas raiz"— como PT, PSOL e PSB. Já deputados e senadores de partidos que não apoiaram formalmente Lula nas eleições, mas têm espaço na Esplanada, como o MDB, o PSD e o União Brasil, seriam chamados num segundo momento.
Lula pretende azeitar a relação com Congresso nesses momentos, sem a previsão de fazer trocas imediatas na equipe. Ainda que pressionado pela base aliada e por setores do PT, o Palácio do Planalto trabalha com o cenário de mudanças na Esplanada apenas no segundo semestre do ano. O núcleo mais próximo ao presidente afirma que as alterações no primeiro escalão do governo serão guiadas pela correlação de forças entre os partidos após as eleições municipais e a disputa pelo comando da Câmara dos Deputados.
Na semana passada, além da derrubada do veto presidencial ao ponto central da lei que restringe saídas temporárias de presos e da manutenção da decisão, tomada ainda na gestão de Jair Bolsonaro, de dificultar a punição à disseminação de notícias falsas eleitorais, a gestão Lula acumulou outras derrotas.
Na mesma sessão do Congresso foi derrubado o veto a um artigo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que desestimula a destinação de verbas do Executivo a ações favoráveis ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, ao aborto e à agenda LGBTQIA+. O item foi incluído na norma a partir de uma emenda do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e foi barrado por Lula em seguida.
A sessão da Câmara seguinte à reunião do Congresso também reservou outro resultado negativo: deputados aprovaram um projeto que susta pontos do decreto de armas do Executivo, como proibição de que clubes de tiro fiquem a menos de um quilômetro de escolas. Este texto ainda precisa do aval do Senado, onde a tendência é que não seja pauta prioritária.