Lula pede aproximação com evangélicos, autocrítica ao PT e prevê eleição polarizada em 2026
Presidente afirma que o PT tem 'problema' e o apoio eleitoral deve ser conquistado na 'rua'
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou, nesta sexta-feira (8), a Conferência Eleitoral do PT para as eleições municipais de 2024 para pedir uma autocrítica da legenda. Citando pesquisas de opinião, Lula afirmou que pessoas com renda acima de dois salários mínimos já não querem votar em petistas e que a legenda não consegue ouvir e dialogar com evangélicos.
Ao reforçar o ponto de vista crítico, ele disse também que um "metalúrgico que ganha R$ 8 mil" já não quer votar no partido. O presidente também afirmou que a eleição de 2026 será polarizada entre petistas e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível.
Ao lado de ministros, parlamentares, governadores do PT e do vice, Geraldo Alckmin, que é filiado ao PSB, Lula discursou no primeiro dia do evento.
— Será que estamos falando aquilo que o povo quer ouvir de nós? Ou será que temos que aprender com o povo como é que fala com eles? Como é que a gente chega aos evangélicos? — questionou o petista.
Lula ressaltou que é preciso voltar a fazer o "trabalho de base" e sinalizou incômodo com a desconexão com parte da população. Segundo ele, o PT tem "problema" e o apoio eleitoral deve ser conquistado na "rua".
— Ficou mais difícil, mas também nós aprendemos mais. É preciso conversar, é preciso ter paciência. Muitas vezes a gente cede quando não conseguiria ceder e não queria ceder. E muitas vezes conquista coisas que não pensasse ganhar.
O presidente ressaltou que a realidade pode ser evidenciada com o tamanho da bancada do PT na Câmara.
— O (ministro da Fazenda Fernando) Haddad nunca fez tanta reunião à noite como ele está fazendo agora. E, muitas vezes, reuniões difíceis. E temos que nos perguntar por que um partido como o PT elegeu só 70 deputados. Por que tão pouco, se a gente é tão bom? Temos que encontrar a resposta dentro de nós — afirmou o presidente.
Lula disse também que a próxima eleição será polarizada com os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas não pode haver "medo" da militância.
— Eu sinceramente acho que essa eleição que vai acontecer, vai ser outra vez Lula x Bolsonaro disputando essas eleições nos municípios. E vocês sabem que não podem aceitar provocações, ficarem com medo, ficarem com vergonha, enfiar rabo entre as pernas. (...) A gente vai ter que mostrar que queremos exercitar democracia com eleições mais competitivas o possível, mas a gente não vai ter medo de ninguém. Único medo que a gente tem que ter é trair esperança, a expectativa que o povo brasileiro tem no PT, nos nossos aliados, nossos candidatos.
Ao fim do discurso, ele reforçou a necessidade de ir a igrejas conversar com padres e pastores.
Gleisi critica Bolsonaro e Campos Neto
Durante seu discurso, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, disse que Lula fez "muito" em 11 meses para "resgatar o Brasil da destruição bolsonarista". Ela citou os ataques aos Poderes do dia 8 de janeiro e defendeu que o ex-presidente Jair Bolsonaro seja preso.
— O destino de Bolsonaro não deve ser somente a inelegibilidade. Terá que ser a cadeia — discursou Gleisi.
Em seguida, os petistas que estavam na plateia evocaram o coro "sem anistia". A presidente do PT também disse que o Brasil só não cresceu mais por causa dos juros "escorchantes" do Banco Central (BC) de um "indicado de Bolsonaro", Roberto Campos Neto.
Gleisi falou sobre a necessidade de combater a "extrema-direita" em 2024 e criticou o avanço do Legislativo sobre a execução do orçamento.
Campanhas em São Paulo
Apesar de ainda não ter traçado toda a estratégia para atuação na disputa municipal do próximo ano, Lula já definiu que vai mergulhar de cabeça em, pelo menos, duas campanhas: a de São Paulo e a de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. De acordo com lideranças petistas, a expectativa é que o mandatário se envolva diretamente em locais onde o confronto com o bolsonarismo for claro.
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No segundo turno da eleição presidencial, Lula bateu Bolsonaro na capital paulista por 53,54% a 46,46% dos votos válidos. Uma vitória de um candidato vinculado ao governo federal na maior cidade do país teria impacto na disputa política travada com o grupo do ex-presidente.
Diante desse cenário, a previsão é que Lula participe de eventos e faça gravações para propaganda eleitoral da campanha de Boulos.
Já na eleição de São Bernardo do Campo, cidade onde iniciou sua vida política como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula considera questão de honra a conquista do município, que foi berço da fundação do PT.
É provável que Lula se empenhe ainda na campanha do petista Emídio de Souza em Osasco, na Região Metropolitana. Deputado estadual em São Paulo, ele é amigo de Lula. Após a eleição, foi cotado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, posto que ficou com Márcio Macedo.
Lula ainda afirmou que no próximo ano terá foco nas viagens nacionais e vai percorrer o país para a inauguração de obras.