Governo em transição

Lula recebe aceno de partido aliado a Bolsonaro e reúne mais de cem parlamentares na transição

Até agora, o PT é a sigla que tem o maior número de integrantes no governo provisório

Lula durante reunião com parlamentares das bancadas aliadas na sede do governo de transiçãoLula durante reunião com parlamentares das bancadas aliadas na sede do governo de transição - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A 40 dias da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Republicanos, partido da base de apoio do atual governo e que esteve coligado a Bolsonaro na eleição, fez um aceno ao petista ao anunciar a disposição de dialogar e colaborar no Congresso com o próximo titular do Planalto.

No mesmo dia, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB)formalizou o ingresso de 99 parlamentares de 12 legendas diferentes na equipe de transição e, com isso, abriu as portas do governo provisório a siglas que podem dar sustentação a Lula no Congresso a partir de 2023.

Com a nova leva de deputados e senadores anunciados, já são 103 congressistas, entre membros da atual legislatura e recém-eleitos, incorporados ao grupo de trabalho. As cadeiras da transição estão sendo usadas para formar um arco de alianças capaz de garantir governabilidade a Lula.

Apesar disso, até agora, o PT é a sigla que tem o maior número de integrantes no governo provisório: 41% dos nomeados, o que tem desagradado a outras siglas que negociam com os petistas. O desafio dos aliados de Lula agora é atrair ao menos uma parte dos partidos que estão com o presidente Jair Bolsonaro (PL), daí a importância da recente manifestação do Republicanos, que tem uma bancada eleita de 41 deputados.

O movimento da legenda se deu por meio de uma nota divulgada pela bancada do partido no Congresso. O texto informa que o Republicanos decidiu adotar posição de independência ao futuro governo, mas “sem se negar ao diálogo e à colaboração”.

No mesmo comunicado, confirmou o plano de apoiar a reeleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao comando da Casa. Filiado a outra sigla da base de Bolsonaro, Lira já abriu conversas com o PT. A nota diz ainda que a reunião foi comandada pelo presidente do Republicanos, o deputado Marcos Pereira (SP).

O partido, ligado à Igreja Universal, abriga alguns dos principais representantes do bolsonarismo, como a ex-ministra do atual governo e senadora eleita Damares Alves (DF), o vice-presidente e senador eleito, Hamilton Mourão (RS), assim como o próximo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O Republicanos informou que a decisão foi tomada por unanimidade.

O Globo apurou, contudo, que integrantes da legenda ligados a Bolsonaro eram favoráveis a que a sigla se declarasse oposição ao futuro governo.

Ao Globo, Damares afirmou que, apesar do texto divulgado na nota oficial, ela fará uma dura oposição a Lula no Senado, “independente” da postura do partido:

— Sendo meu partido independente ou não, farei questão de lembrar aos brasileiros que o presidente eleito não foi absolvido de suas condenações e continua condenado por corrupção.

A ex-ministra disse ainda que a reunião da bancada evidenciou que o Republicanos é “ mais conservador de todos os partidos”.

Presidente da legenda, Marcos Pereira mantém canal aberto com algumas das principais lideranças petistas, como a presidente do PT, a também deputada Gleisi Hoffmann. Além disso, as duas siglas já caminharam juntas no passado. O vice-presidente de Lula durante os seus dois primeiros mandatos, o empresário José de Alencar, foi filiado ao Republicanos, que se chamava PRB à época.

A legenda comandada por Pereira também ocupou ministérios durante gestões petistas, como o da Pesca e dos Esportes, no governo de Dilma Rousseff. Em 2016, o partido foi o primeiro da base do governo a romper com a petista e entregar os cargos na administração pública. Em 2019, a sigla mudou de nome sob o pretexto de deixar para trás a aliança com a esquerda e se diferenciar por ser um partido conservador.

A posição adotada pelo Republicanos nesta terça-feira foi encarada por aliados de Lula como uma sinalização positiva. Parte deles acreditava que a sigla engrossaria as fileiras da oposição a partir do ano que vem.

Paralelamente, o vice-presidente eleito e coordenador da transição, Geraldo Alckmin, anunciou os nomes de mais 99 deputados e senadores que vão integrar o governo provisório. A lista contém representantes das diferentes matizes ideológicas filiadas a PSD, MDB, PT, PDT, Solidariedade, PCdoB, Avante, Pros, Rede, PSB, PSOL e PV.

Em comum, todas demonstram disposição de caminhar com Lula. O partido com maior quantidade de membros anunciados ontem é o PT, com 31 nomes. Já o PSD foi contemplado com dez postos e o PSB, com 7.

O time de novos integrantes da transição tem personagens como o deputado federal Alexandre Frota (Pros-SP), que atuará no núcleo temático da cultura, o deputado federal eleito Mauro Benevides (PDT-CE), que foi o principal assessor econômico da campanha presidencial de Ciro Gomes e integrará o grupo responsável pelo planejamento, e o deputado federal e candidato a senador derrotado Alessandro Molon (PSB-RJ).

Também serão incorporados a senadora Leila do Vôlei (PDT-DF), para o grupo de Esportes, e a deputada federal e candidata a governadora de Pernambuco derrotada Marília Arraes (Solidariedade-PE).

Pressa só no Congresso
Não por acaso, a relação divulgada por Alckmin é formada tanto por parlamentares que estão em fim de mandado quanto por recém-eleitos. O futuro governo precisa do Congresso desde já. Antes mesmo assumir, Lula tenta aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição.

O texto abre espaço de R$ 198 bilhões no orçamento para bancar parte das promessas feitas pelo petista, como a manutenção do pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil, que voltará a se chamar Bolsa Família.

Durante entrevista coletiva em que anunciou os novos nomes, Alckmin afirmou que Lula não vai anunciar os futuros ministros de seu governo na “correria”.

— Sobre os ministros, o presidente Lula tem 40 dias para ir anunciando — disse Alckmin, que citou o seu próprio caso quando foi eleito governador de São Paulo, ocasião em que demorou a escolher secretários, e acrescentou: — A gente não deve ter essa correria.

Ele foi questionado sobre a ausência de nomes para a área de Defesa, um dos poucos núcleos temáticos para o qual ninguém foi escalado até agora. Alckmin afirmou que eles seriam conhecidos nos próximos dias, depois que Lula chegasse em Brasília, o que estava previsto para ocorrer ontem à noite. Mais tarde, porém, o petista cancelou o embarque, e não foi confirmado se ele irá à capital nesta semana.

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