ARGENTINA

"Lula terá de se relacionar com quem vencer a eleição", diz ex-candidata à Presidência da Argentina

Depois de ficar fora da corrida presidencial argentina, terceira colocada é apoio crucial para candidato da direita radical, Javier Milei

Javier Milei, Patricia Bullrich e Sergio Massa, os candidatos à Presidência da ArgentinaJavier Milei, Patricia Bullrich e Sergio Massa, os candidatos à Presidência da Argentina - Foto: Alejandro Pagni/AFP; Juan Mabromata/AFP; Luis Robayo/AFP

Depois de ter obtido 23,81% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial argentina, Patricia Bullrich perdeu a batalha por uma vaga no segundo turno, no próximo domingo, mas tornou-se peça chave para o candidato do partido A Liberdade Avança, Javier Milei.

Anunciar seu apoio ao rival de Sergio Massa, não foi difícil, disse Bullrich em entrevista ao Globo, apesar do racha provocado na aliança opositora Juntos pela Mudança. "Era como um casamento que já estava mal, fazendo terapia”, confessou a ex-candidata.

Perguntada sobre o apoio explícito do presidente Lula ao candidato peronista, Bullrich, uma das poucas dirigentes de peso da política argentina que não parabenizou o chefe de Estado brasileiro após sua vitória em 2022, assegurou que “os argentinos não estão preocupados com o que pensa Lula”.

Foi difícil tomar a decisão de apoiar Milei?
Para mim não foi difícil, porque faz não muito tempo tentamos um acordo. Eu tinha uma boa relação com Milei, no começo fizemos uma campanha sem agressão e acho que era a campanha correta. Mas, de repente, a relação se quebrou, mais da parte dele. Depois de ganhar as primárias, ele elevou os níveis de agressão e começamos a criticar sua campanha. Mas nós, dentro da aliança Juntos pela Mudança, propusemos um acordo com Milei, antes das primárias. Dentro da aliança alguma disseram que não.

Quando a senhora diz nós, se refere também ao ex-presidente Mauricio Macri?
Sim, todos os que estavam comigo. Nossa proposta vendeu as primárias da Juntos pela Mudança, mas depois ficamos presos numa embalagem que já estava velha. Quando Milei venceu as primárias, ficamos numa posição complexa. Não tínhamos tantas diferenças com Milei, nosso adversário principal era Massa, e carregávamos a mochila de um setor da Juntos pela Mudança que tinha defendido uma proposta similar ao discurso de Massa. Representar uma mudança superior a Milei não era fácil.

A aliança opositora está em vias de extinção?
A eleição vai determinar se apoiar a mudança era a posição correta, ou não. Se 80% de nossos eleitores apoiarem nossa proposta será uma resposta. Ficará claro que existe um setor da Juntos pela Mudança que tem representação social, e outro que tem dirigentes, mas não tem representação. A Juntos pela Mudança era como um casamento que já estava mal, fazendo terapia.

E, se Milei for eleito, sua ala vai integrar seu governo…
Não queremos nos antecipar.

Depois do último debate ficou no ar uma sensação de que Massa está na frente. Como a senhora avalia o panorama?
Não vejo Massa com mais chances. O debate pode definir poucos votos na Argentina. O não ao kirchnerismo ou ao massismo é um não potente. É difícil que alguém que nunca votaria em Massa agora vote porque o achou melhor no debate. Todos os antikirchneristas sentem que no debate Massa mostrou que, estando no poder, não tem limites. Isso, para os antikirchneristas é um limite, existe o medo de que Massa atropele a Justiça, avance com a corrupção, valores que para nós são importantes.
 

Como a senhora explica que Massa, sendo ministro da Economia e com uma inflação acumulada de 147% nos últimos 12 meses, consiga ser competitivo?
A Argentina tem inflação há tantos anos, tivemos poucos anos bons e as pessoas já se acostumaram. As pessoas têm dificuldade para imaginar como é viver sem inflação. A última vez que não tivemos inflação foi na década de 90.

Como a senhora lida com as falas polêmicas de Milei , por exemplo, sobre livre porte de armas, doação de órgãos e a próprias dolarização, que o candidato ainda não explicou direito como implementaria?
Sobre armas e órgãos apresentamos um documento no qual dizemos que são temas que não vamos apoiar. Milei disse que ambos temas estão fora de agenda, e que exageraram o que ele disse. A Argentina precisa resolver sua economia, a falta de segurança e a educação, essa é a realidade dos argentinos. Esses outros temas estão na posição 5 mil da agenda.

A dolarização sim é prioridade para Milei.
Temos um olhar mais real sobre o tema. Defendemos suspender as emissões [de pesos], e assim tirar a principal ferramenta que o Banco Central tem, e que permite que a política gaste demais e tenhamos déficit fiscal. Hoje não temos os dólares para dolarizar, acho que iríamos a um modelo de âncora financeira. São temas para serem discutidos.

Os chefes de Estado do Brasil, Espanha e México se pronunciaram a favor de Massa. No caso de Lula, qual é sua opinião sobre seu posicionamento?
Há 20 anos era impensado que um governo falasse a favor ou contra uma candidatura de outro país. Mas este tipo de alinhamentos não influenciam em nada o que acontece aqui. Os argentinos não estão preocupados com o que pensa Lula, ou Pedro Sánchez [presidente da Espanha]. Lula pode dizer algo sobre a eleição argentina, mas ele terá de se relacionar com quem com quem vencer a eleição. A Argentina e o Brasil têm uma relação acima de suas ideologias. Já passamos por isso, no ano passado. Quando Lula ganhou, em 2022, mandou um recado para Cristina [Kirchneri] e [Alberto] Fernández. Muitos o parabenizaram, inclusive de nossa aliança, mas eu não. E não o fiz porque ele tomou partido, e se ele nao fala sobre nós, não vou falar sobre ele.

Existe uma preocupação sobre como seria uma relação entre Milei e Lula…
Para nosso partido, a relação com o Brasil é importante e estratégica.

Como a senhora convenceria um eleitor indeciso?
Entre ruim conhecido, e algo a conhecer… Já sabemos das tentativas hegemônicas do kirchnerismo, massismo ou como quiserem chamar. Sabemos dos atropelos aos demais poderes, da corrupção, que a economia está em ruínas. Digo que confiem na mudança e não votem no que já sabem que nos levará a mais pobreza.

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