Maia diz que Campos Neto não tem atitude de presidente de BC de país sério
Crítica foi motivada após Roberto Campos Neto vazar, para jornalistas, conversas sobre reformas econômicas
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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quinta-feira (29) que a decisão de Roberto Campos Neto de vazar conversas privadas não condizia com a atitude de um presidente de Banco Central de país sério. Maia usou uma rede social para criticar Campos Neto por expor um diálogo com o deputado em que o presidente do BC questionava sobre a tramitação de reformas econômicas.
"A atitude do presidente do Banco Central de ter vazado para a imprensa uma conversa particular que tivemos ontem [quarta] não está à altura de um presidente de Banco de um país sério", escreveu, em uma rede social. Na quarta-feira (28), o presidente do BC ligou para Maia cobrando a votação de reformas.
O presidente da Câmara, então, respondeu que Campos Neto estava ligando para a pessoa errada, porque quem estava obstruindo as votações na Casa era a base do próprio governo. Campos Neto teria, então, divulgado o diálogo a jornalistas.
A atitude do presidente do Banco Central de ter vazado para a imprensa uma conversa particular que tivemos ontem não está à altura de um presidente de Banco de um país sério. — Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) October 29, 2020
Maia já havia feito declarações contra a base do governo na terça-feira (27), antes do início de mais uma sessão deliberativa que foi encerrada por obstrução. Na ocasião, ele criticou a estratégia adotada pelo deputado Arthur Lira (PP-AL) para tentar vencer a disputa pelo comando da CMO (Comissão Mista de Orçamento), que se tornou uma prévia da sucessão à Câmara.
Lira, que quer substituir Maia na presidência da Câmara, tenta emplacar um nome para comandar a CMO. Maia defende o acordo feito em fevereiro entre partidos para eleger o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) como presidente do colegiado.
Maia, então, afirmou que a obstrução da base atrapalha a votação de medidas importantes. "É um direito. Agora, quando também tiver uma medida provisória importante que vá vencer, talvez outros façam obstrução para que o governo entenda que a Câmara precisa trabalhar", complementou.
"Espero que a responsabilidade prevaleça em relação à obstrução que, no meu ponto de vista, não tem relação com a Câmara dos Deputados." Na mensagem crítica a Campos Neto na rede social, Maia não abordou a ofensa feita pelo ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) na mesma rede social.
No sábado (24), Maia disse que Salles, "não satisfeito em destruir o meio ambiente do Brasil, agora resolveu destruir o próprio governo". Na noite de quarta, Salles chamou o presidente da Câmara de "Nhonho", em referência a personagem do programa humorístico Chaves. Nesta quinta, Salles afirmou que suas redes sociais foram usadas "indevidamente".
"Fui avisado há pouco que alguém se utilizou indevidamente da minha conta no Twitter para publicar comentário junto à conta do Pres. da Câmara dos Deputados, com quem, apesar de diferenças de opinião sempre mantive relação cordial", afirmou o ministro na mesma rede social, nesta manhã. Após a publicação, a conta do ministro Salles foi bloqueada, um sinal de que o ministro pode ter acionado o procedimento de segurança para invasões.
Os atritos com Campos Neto e com Salles se somam aos embates, por ora suspensos, que o presidente da Câmara teve com o ministro Paulo Guedes (Economia). No auge da crise, Maia chamou Guedes de "desequilibrado" depois que o ministro afirmou que o deputado estava travando privatizações.
Não foi a primeira desavença pública entre ambos. Na entrega da reforma administrativa, no início de setembro, o presidente da Câmara deixou evidente, em entrevista à GloboNews, que ambos não estavam conversando e que havia encerrado, na ocasião, a interlocução com Guedes. Ambos já tinham entrado em atrito durante a tramitação da reforma da Previdência. Após o desgaste, Maia passou a falar apenas por meio de interlocutores.
O ministro se irritou com a estratégia adotada pelo deputado e passou a cobrar de sua equipe que, caso fossem procurados pelo presidente da Câmara, encaminhassem a demanda para Guedes.
A divergência se aprofundou durante os debates sobre a reforma tributária. Maia estaria estimulando o repasse de recursos a estados e municípios, a título de compensação pelas mudanças, em detrimento da União (ponto que desagrada Guedes).