EX-PRESIDENTE

Marcha para Jesus, entrevista a youtuber, evento: o que Bolsonaro fez nos dias de suposta vacinação

Agenda atribulada do ex-presidente nos dias das duas doses registradas torna imunização uma tarefa difícil até para quem tivesse interesse em se proteger contra a Covid-19

Jair Bolsonaro, ex-presidente do BrasilJair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

De acordo com informações inseridas no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), Jair Bolsonaro recebeu as duas doses de vacina contra Covid-19 nos dias 13 de agosto e 14 de outubro do ano passado. Ambas no munício de Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense.

Alvo de investigação da Operação Venire, a suposta fraude nestes dados ganha força quando se olha para a própria agenda do ex-presidente: entrevista, participação em evento religioso, comício eleitoral e voos. Tantos compromissos tornam praticamente impossível a ida a uma unidade de saúde nestas datas, ainda que houvesse interesse do ex-presidente em se imunizar.

Na manhã de 13 de agosto, Bolsonaro cumpriu agenda na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele deu entrevista ao canal de Youtube "Cara a tapa", do influenciador Rica Perrone. Inicialmente comentarista esportivo, o apresentador logo se posicionou no campo político da direita e passou a dar espaço tanto para a família Bolsonaro quanto para personagens alinhados ao ex-chefe do Executivo.

A entrevista teve três horas de duração. Bolsonaro teve tempo suficiente para criticar governos de esquerda em países da América Latina e o que ele chamava de falta de liberdade de expressão em relação ao sistema eleitoral brasileiro e a assuntos relacionados à pandemia de Covid-19, como as vacinas.
 

"Você está proibido, no Brasil, de discutir qualquer assunto. Tem os checadores, que são os deuses, e dizem: 'Isso é fake news'. Quando eu falo em liberdade, tem que ser total", disparou o então presidente.

À tarde, os compromissos continuaram. Bolsonaro marcou presença na Marcha Para Jesus, no Centro do Rio. Ele subiu no palco às 17h30. Aproveitou o palanque para convocar seus seguidores para o ato de 7 de setembro, que seria realizado na Praia de Copacabana. Sem tempo para um pulo até Duque de Caxias, o ex-presidente retornou a Brasília às 21h25.

Dois meses depois, em 14 de outubro, Bolsonaro teria recebido a segunda dose da vacina, segundo o SI-PNI. Isso em um momento tenso da corrida eleitoral, entre o primeiro e segundo turno. É verdade que Bolsonaro esteve em Caxias. Mas ele participou de um comício pela cidade às 11h da manhã e voou para Belo Horizonte às 13h40. Neste período, embora fosse o atual presidente da República e estivesse em campanha, não houve nenhum registro de sua ida até uma unidade de saúde para se vacinar.

O que virou notícia neste dia, na verdade, foram os contratempos ocorridos no comício. Minutos após o então candidato à reeleição subir ao palanque, uma sacola foi jogada ao palco pelo público, e a estrutura do palanque sofreu uma aparente instabilidade. Junto ao governador reeleito Cláudio Castro (PL), do senador reeleito Romário (PL), do ex-prefeito Washington Reis (MDB) e do seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, preso nesta quarta pela Polícia Federal, Bolsonaro chegou a se escorar em pessoas que o acompanhavam. Em seguida, um militar isolou o espaço, e Reis deu alguns pulos no palco para se certificar de que não havia problema algum.

Quando percebeu que não havia maiores riscos, o próprio Bolsonaro tentou acalmar seus aliados. Ele puxou Reis para a frente do palanque, deu três pulos e levantou os braços para o público, demonstrando que estava tudo bem. Mas vacina, ninguém viu ele tomar.

"É claro que um Presidente da República não teria como se dirigir a uma UBS do Município, sem que ninguém percebesse, para tomar uma possível segunda dose de vacina", diz um trecho do despacho emitido pelo controlador-geral da União, Wagner Rosário, em relatório da Controladoria-Geral da União citado na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

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