Marcos Pereira tenta driblar veto de Bolsonaro e oposição em disputa do comando da Câmara
Deputado tenta amenizar resistências enquanto se equilibra também na busca por apoio de governistas
Um dos nomes na disputa pelo comando da Câmara, o vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (Republicanos-SP), trabalha para superar resistências a seu nome entre parlamentares da oposição. Apesar de ter apoiado o governo de Jair Bolsonaro, deputados bolsonaristas avaliam como "zero" a chance de apoiá-lo. O próprio ex-mandatário, segundo interlocutores, disse ao atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ser contrário à candidatura de Pereira, durante encontro em janeiro. A eleição da nova Mesa Diretora está marcada para fevereiro de 2025.
De acordo com aliados tanto de Bolsonaro quanto de Lira, o ex-presidente da República fez uma série de queixas sobre o comportamento do deputado, que também é presidente do Republicanos. Na ocasião, citou acenos do partido ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, como a inclusão de críticas a Israel em uma moção de repúdio ao Hamas aprovada pela Câmara no ano passado. Pereira presidia a Casa durante a votação e acatou uma emenda de petistas, gerando críticas de opositores.
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A conversa entre Bolsonaro e o presidente da Câmara aconteceu em Alagoas no começo de janeiro. A posição do ex-presidente foi transmitida aos deputados bolsonaristas, que passaram a divulgar o veto ao ex-aliado.
Apesar da restrição ao seu nome, Pereira evita fazer acenos diretos ao Palácio do Planalto para não ser carimbado como candidato governista na disputa e se equilibrar entre apoio da base e parte da oposição. Apesar de seu partido integrar o governo, com um indicado da sigla no Ministério dos Portos e Aeroportos, o parlamentar mantém o discurso de independência.
Nessa estratégia, ao mesmo tempo em que fez parte da comitiva de Lula em um evento em São Paulo no mês passado, Pereira também fez críticas à fala do presidente da República que comparou os ataques de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto. A declaração gerou uma crise diplomática entre Brasil e o país do Oriente Médio.
— Eu sou pró Israel. Sempre fui e sempre serei. Inclusive fui presidente do grupo parlamentar de amizade Brasil e Israel — disse Pereira ao Globo, reforçando a discordância com Lula.
Questionado sobre o veto de Bolsonaro à sua candidatura, Pereira disse não estar sabendo.
Carlos Bolsonaro fez críticas
Hoje, seu principal concorrente na disputa pelo comanddo da Câmara é Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil, e considerado o favorito de Lira. Como mostrou O Globo, contudo, apesar de ser um partido aliado do Planalto, Elmar enfrenta resistências no governo. Deputados bolsonaristas também avaliam lançar um nome do PL ou de alguém de oposição para rivalizar com a dupla.
Ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, o deputado Ricardo Salles (PL-SP) não citou nomes, mas defendeu que os apoiadores de Bolsonaro apoiem necessariamente alguém da oposição a Lula para a sucessão de Lira, perfil que exclui Pereira.
— Acho que teremos candidato próprio. Alguém da oposição, não precisa ser necessariamente do PL.
O presidente do Republicanos costuma classificar, em tom crítico, Bolsonaro como um político de "extrema direita" e chegou a falar que o ex-presidente estava isolado quando se opôs à Reforma Tributária, aprovada pelo Congresso no ano passado.
Em entrevista ao Globo em maio do ano passado, Pereira afirmou que "Bolsonaro é de extrema-direita, mas as pautas são mais convergentes (do que com Lula), especialmente a econômica".
Por conta disso, Pereira recebeu críticas do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que chamou o presidente do partido de "essa raça". Filho '02' do ex-presidente, Carlos está de saída do Republicanos e vai se filiar ao PL.
Mesmo distante de deputados ligados ideologicamente a Bolsonaro, Pereira é aliado próximo do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Além disso, o Republicanos abriga nomes que participaram do primeiro escalão do governo Bolsonaro e ainda são aliados do ex-presidente, como o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, e os senadores Hamilton Mourão (RS) e Damares Alves (DF).
Bispo licenciado da Igreja Universal, Pereira já foi da base do governo de Dilma Rousseff e, em 2014, trabalhou para diminuir a resistência de evangélicos contra a petista. Dois anos depois, o Republicanos aderiu ao impeachment de Dilma e o próprio presidente da legenda virou ministro da Indústria na gestão de Michel Temer.
O Republicanos fez parte da coligação de Bolsonaro em 2022, quando ele tentou a reeleição, e comandava o Ministério da Cidadania, responsável por programas sociais.