Marielle Franco

Marielle: Investigação da morte de apontado como elo entre matadores e mandante ficou 14 meses parad

Edmilson da Silva de Oliveira, mais conhecido como Macalé, foi acusado de ter ligações com grupo criminoso que atua em Oswaldo Cruz

Edimilson Oliveira, o Macalé, foi executado em Bangu, em 2021 Edimilson Oliveira, o Macalé, foi executado em Bangu, em 2021  - Foto: Reprodução

A Polícia Civil do Rio informou que o inquérito sobre a execução do policial militar reformado Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé, em outubro de 2021, ficou por 14 meses com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público. Em nota, a corporação afirma que enviou ao MP um pedido de quebra de sigilos sobre o caso um mês após a morte, mas o inquérito só foi devolvido em fevereiro de 2023. Uma nova representação sobre o tema foi feita à Justiça e está em fase de análise pelos promotores para uma futura decisão judicial.

"Cabe informar que as decisões deferindo as medidas de afastamento de sigilo só chegaram na Delegacia de Homicídios em julho de 2023, onde estão em fase de implementação. A investigação está em andamento e segue sob sigilo", diz a nota da Polícia Civil.

Procurado, o Ministério Público se limitou a dizer que os inquéritos estão sob sigilo e que "os prazos decorridos foram os necessários para o curso das investigações".

Quem é Macalé
Macalé foi citado por Élcio de Queiroz em sua delação sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. O delator conta que o ex-policial participou do monitoramento da vereadora e foi quem "levou o trabalho" ao ex-sargento Ronnie Lessa, acusado de atirar nas duas vítimas.

Morto em 2021, ele apareceu em investigações de crimes envolvendo o jogo do bicho e a milícia. Em outubro de 2019, na apuração do atentado contra Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho, a polícia citou Macalé como “integrante da organização criminosa” do contraventor Bernardo Bello — ex-cunhado da vítima. Em seu depoimento, Shanna afirmou que Belo tinha como braços armados os policiais militares Wagner Dantas Alegre, José Carlos Roque Barbosa e Macalé. Na época, o ex-cunhado — que hoje está foragido — negou as acusações.

O nome de Macalé apareceu ainda na investigação do assassinato de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, tio de Shanna e irmão de Maninho, em fevereiro de 2020. Segundo o depoimento dela, o suspeito do crime teria se encontrado com Macalé num restaurante dias depois do crime.

Preso vai para Brasília
Em sua colaboração premiada, Queiroz afirmou que Macalé contratou Lessa para matar Marielle. Ele também contou que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, ajudou a monitorar a vereadora e a dar sumiço no carro usado no crime. Preso anteontem numa operação da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio, Suel foi transferido ontem para o presídio federal de Brasília. A investigação levantou que houve seis ligações entre o ex-bombeiro e Macalé no período de 12 de janeiro a 14 de março de 2018 — dia da morte de Marielle. No mês seguinte, foram 20.

Passado de Macalé
Com o surgimento do nome de Macalé, os investigadores levantaram o passado do sargento reformado. Até ser executado a tiros em novembro de 2021, ele nunca tinha sido condenado por qualquer crime. Na PM, sua carreira foi abreviada com menos de 20 anos de serviço: em 2004, a junta de saúde da corporação o considerou “incapaz” para o serviço ativo.

Além de ser citado em inquéritos do jogo do bicho, Macalé teve uma trajetória marcada por uma série de acusações de ligação com a milícia de Oswaldo Cruz, na Zona Norte. A primeira foi em 2008, com a publicação do relatório final da CPI das Milícias, presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo de quem Marielle era assessora na época. O documento citava Macalé como um dos integrantes da milícia de Oswaldo Cruz, mas ele não foi investigado.

Em dezembro de 2012, o sargento foi preso pelo homicídio de Michael Ramos, de 19 anos, em Oswaldo Cruz. Com base nos depoimentos de testemunhas, a polícia concluiu que a vítima havia sido morta porque “praticava furtos na região, o que desagradava ao réu”. O relatório final da Delegacia de Homicídios (DH) apontava que Macalé era o policial militar que chefiava “a milícia atuante em Oswaldo Cruz, que, além de controlar os serviços de gatonet, segurança e transporte alternativo, praticava crimes gravíssimos, entre os quais execuções sumárias”.

No dia em que Macalé foi preso, em 6 de dezembro de 2012, agentes da DH encontraram, dentro de sua BMW, uma pistola e um taco de baseball de alumínio — que ele costumava exibir enquanto circulava pelo bairro. Apesar de ter permanecido mais de um ano atrás das grades, Macalé acabou absolvido do homicídio pelo júri popular em julho de 2014.

PF vai investigar execução
Macalé foi executado a tiros em Bangu, na Zona Oeste, aos 54 anos. A PF já pediu cópia do inquérito — ainda sem solução — à DH e vai apurar se o assassinato dele tem relação com o Caso Marielle.

Segundo investigadores, nos anos que antecederam o assassinato da vereadora, Macalé se aproximou de Ronnie Lessa — que também controlava a exploração de sinal clandestino de internet em Rocha Miranda, área vizinha à comandada por Macalé — e passou a integrar a quadrilha de matadores de aluguel, prestando serviços sobretudo para bicheiros e milicianos.

Blindado, lancha e terreno em Angra: luxo de Ronnie Lessa após morte de Marielle e Anderson impressionou delator

Após prestar depoimento, Queiroz foi para o presídio federal de Brasília. Ele está preso desde 2019, um ano depois da morte de Marielle e Anderson, assim como Lessa, que está na unidade de Campo Grande (MS). Além da acusação feita por seu amigo Queiroz, Lessa sofreu outro revés com um novo depoimento de sua mulher, Elaine Lessa, há dois meses. Ela voltou atrás e disse que seu marido não estava em casa na noite da morte de Marielle.

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