Refiliação

Marta Suplicy volta ao PT após nove anos para ser vice de Boulos

Cerimônia de filiação da ex-prefeita de São Paulo contou com a presença do presidente Lula

Volta de Marta Suplicy para o PT marca uma reviravolta na campanha paulistanaVolta de Marta Suplicy para o PT marca uma reviravolta na campanha paulistana - Foto: Nelson Almeida/AFP

Nove anos depois de deixar o PT “constrangida” pelos escândalos de corrupção que atingiram o partido, a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy formalizou o seu retorno à legenda nesta sexta-feira (2), em cerimônia na capital paulista com a presença do presidente Lula e de ministros de Estado.

A mais nova petista deixou a gestão Ricardo Nunes (MDB) no início de janeiro para compor a chapa do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura de São Paulo.

A cerimônia começou pouco depois das 19h na Casa de Portugal, bairro da Liberdade. O espaço, tradicionalmente usado para eventos do Partido dos Trabalhadores, ficou lotado de militantes, que enfrentaram uma fila quilométrica para entrar. Em razão da capacidade máxima ter sido atingida, alguns apoiadores não conseguiram entrar e ficaram de fora do ato.

Na entrada do local, o diretório municipal petista instalou um banner com as fotos de Lula, Marta e Boulos lado a lado. Dentro da Casa, vereadores penduraram faixas ao lado de fotos da ex-ministra com frases como “bem-vinda, companheira” e “nossa sempre prefeita”. Uma banda de forró agitou o público antes da chegada do presidente.

Estiveram presentes figuras como o deputado federal Rui Falcão, que é ex-presidente do partido e atuou pela refiliação de Marta, e os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Luiz Marinho (Trabalho) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), além de Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência).

O deputado estadual Eduardo Suplicy, ex-marido de Marta e símbolo do PT de São Paulo, ganhou um lugar ao palco na cerimônia, mesmo após ter defendido prévias para a escolha do posto de vice — sugestão rejeitada pela Executiva municipal do partido. Antes de Lula e Marta subirem ao palco, Suplicy se arriscou numa breve apresentação musical, cantando o clássico "Eu sei que vou te amar", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Antes do evento de filiação, Marta e Boulos estiveram juntos em duas oportunidades. A primeira foi num almoço no apartamento dela, nos Jardins, quatro dias depois de a ex-ministra ser demitida da prefeitura de São Paulo. Na ocasião, os dois reforçaram a necessidade da construção de uma frente ampla, termo que também vem sendo usado pela campanha de Ricardo Nunes. O segundo encontro dos futuros parceiros de chapa aconteceu na casa do psolista, no Campo Limpo, e serviu para discutir os próximos passos da pré-campanha.

Além de buscar um entrosamento com Boulos, com quem não tinha proximidade, Marta também usou os últimos dias para se encontrar com deputados e vereadores do PT, numa tentativa de quebrar o gelo e se reaproximar de quadros do partido.

Embora seu retorno conte com o apoio da cúpula do partido, nem todos os parlamentares e militantes veem com bons olhos a volta da ex-ministra ao PT. Algumas mágoas persistem devido à sua saída conturbada e seu voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Ainda pesa a sua recente participação na gestão Nunes — fato que, inclusive, vem sendo lembrado por apoiadores nas redes sociais de Boulos.

O deputado federal foi questionado sobre a aliança, por exemplo, numa publicação em que diz que a gestão Ricardo Nunes é envolvida em denúncias de corrupção. "Sua vice não fazia parte dessa gestão até ontem?", escreveu Carolina Vasconcelos no "X" (antigo Twitter). "Aí você vai e chama a ex-funcionária dele de vice. Tá sertinho (sic) isso", ironizou Catarina Troiano, no mesmo post.

Além de reforçar a polarização e a narrativa de uma frente contra o bolsonarismo na eleição de São Paulo, a ida de Marta para a chapa de Boulos busca dar mais tração ao líder sem-teto na periferia. Na última pesquisa Datafolha, de agosto de 2023, Nunes aparece melhor entre o eleitorado mais pobre, onde alcança 29% de intenção de voto (ante 24% no eleitorado geral). Boulos, por outro lado, é o preferido do eleitorado mais rico da cidade, atingindo 45% da preferência desse público (contra 32% no geral). A primeira agenda de Marta com Boulos após a filiação deve ser justamente em um bairro pobre da cidade, segundo aliados.

Como mostrou O Globo, a ex-prefeita tem o potencial de conquistar votos na Zona Sul, reduto de Nunes. Embora tenha amargado com 10,14% dos votos válidos na última eleição que disputou a prefeitura de São Paulo, em 2016, Marta venceu nas únicas duas zonas eleitorais em que João Doria não saiu vitorioso: Parelheiros e Grajaú. Feito que nem Haddad, segundo colocado, conseguiu.

Do governo à oposição
A volta de Marta Suplicy para o PT marca uma reviravolta na campanha paulistana, já que, até o começo de janeiro, ela ocupava a secretaria de Relações Internacionais da gestão Ricardo Nunes (MDB), pré-candidato à reeleição e de quem Marta era uma aliada próxima. Nunes é adversário direto de Boulos e segundo colocado no último Datafolha.

A ex-ministra usou o apoio de Bolsonaro a Nunes como justificativa para pular do barco. Mas o prefeito questionou a motivação da agora ex-aliada publicamente, dizendo que "não cola”:

— Eu sempre falei. Não foi o presidente Lula que contou para ela que eu quero o apoio do Bolsonaro. O fato está posto. (A justificativa) não cola. O presidente Jair Bolsonaro foi almoçar comigo na prefeitura. Ela (Marta) é minha conselheira, discutia as estratégias políticas comigo — afirmou o emedebista em entrevista coletiva um dia depois da demissão da sua secretária. — Ela conversou com o Lula e mudou? Por que não (tomou a decisão) antes? Me desculpa, não cola — acrescentou ele.

Como mostrou O Globo, em abril de 2023, o emedebista já estreitava sua relação com partidos de direita e flertava com bolsonaristas, de olho na reeleição. Em maio daquele ano, numa entrevista exclusiva ao Globo, a então secretária municipal minimizou a aproximação de Nunes com a direita, dizendo que ele não é “dos extremos” e seria conduzido ao cargo "pelo o que está fazendo".

Marta estava na prefeitura de São Paulo já há três anos. Ela foi convidada a compor o primeiro escalão do então prefeito Bruno Covas depois de ter uma participação ativa na campanha eleitoral do tucano, chegando até a andar pela periferia de São Paulo num "martamóvel" para pedir votos ao aliado.

Depois da morte de Bruno Covas, em 2021, Marta foi mantida por Nunes no cargo e se tornou uma espécie de conselheira do novo prefeito. Aliados contam que a secretária tinha carta branca para tocar qualquer projeto de seu interesse, não precisando nem marcar hora para falar com o emedebista. Ela foi consultada por Nunes, inclusive, para assumir a pasta de Cultura, mas recusou.

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