ASSÉDIO SEXUAL

Me Too Brasil: ONG que denunciou Almeida ajudou a derrubar presidente da Caixa e a aposentar juiz

Inspirada pelo movimento americano de mesmo nome, organização foi fundada por grupo de advogadas há quatro anos

Ex-presidente da Caixa, Pedro GuimarãesEx-presidente da Caixa, Pedro Guimarães - Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

A ONG Me Too Brasil, responsável por apresentar as denúncias que levaram à demissão de Silvio Almeida da pasta dos Direitos Humanos, se descreve como “um espaço seguro e de confiança para quem mais precisa”.

Foi com essa assertiva que a organização sem fins lucrativos, que acolhe vítimas de violência sexual, festejou seus quatro anos na última segunda-feira.

Criado em 2019 por um grupo de advogadas, inspirado na entidade norte-americana homônima, o Me Too Brasil ganhou status de ONG no ano seguinte. A presidente, Marina Ganzarolli, de 38 anos, tem 18 de experiência no combate à violência de gênero.

Em conjunto com 420 voluntários, Marina atua “fornecendo informações sobre possíveis reparações e ajuda psicológica” a “pessoas de todas as idades, mulheres e homens”, que tenham sofrido algum episódio de agressão sexual. As denúncias podem ser encaminhadas tanto pelo site (metoobrasil.org.br) como por um canal de ligações gratuitas (0800 020 2806).

Apesar de ter ganhado repercussão internacional em 2017, quando o ex-produtor de Hollywood Harvey Weinstein foi acusado de assediar e estuprar dezenas de mulheres, o MeToo norte-americano já existia desde 2006. Idealizado pela ativista Tarana Burke, o movimento teve início quando a hashtag #MeToo foi publicada por ela, pela primeira vez, na plataforma MySpace.

A postagem era uma resposta ao abuso sofrido por uma garota de 13 anos, com o intuito de criar uma rede de apoio entre meninas.

Embora tenha recebido autorização do grupo original para utilizar o mesmo nome, o Me Too Brasil não tem um vínculo direto com as ativistas dos Estados Unidos. Desde então, a ONG já esteve envolvida em outros casos emblemáticos antes das denúncias contra Silvio Almeida.

Em junho de 2022, a ONG se mobilizou em favor das funcionárias da Caixa Econômica. À época, trabalhadoras acusavam o então presidente do banco, Pedro Guimarães, de assédio sexual. Ele acabou deixando o cargo.

No mesmo ano, a organização revelou ter recebido 96 relatos contra o juiz Marcos Scalero, que integrava o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, em São Paulo. Ele era acusado de assediar e estuprar mulheres, inclusive, na seção em que trabalhava. Em 2023, ele acabou aposentado por decisão do Conselho Nacional de Justiça.

Em entrevista ao grupo Meio & Mensagem, em 2023, Ganzarolli contou que a ideia de criar um projeto semelhante ao de Burke, em terras brasileiras, se deu depois de conhecer uma organização americana chamada Rape, Abuse and Incest National Network (RAPE).

Em tradução livre, a Rede Nacional de Assistência a Vítimas de Estupro, Abuso e Incesto se dedica ao enfrentamento dessas questões independentemente de idade ou gênero.

"Eu precisava de um nome melhor que Rede Nacional de Enfrentamento ao Incesto, Pedofilia e Estupro. Com o surgimento do movimento Me Too em Hollywood, surgiram os casos contra Harvey Weinstein, Jeffrey Epstein e, no Brasil, contra João de Deus, Roger Abdelmassih, Marcius Melhem e Saul Klein. Então, fui atrás do movimento nos Estados Unidos, conversei com elas e consegui a autorização", narrou.

Leia abaixo a íntegra da nota do Me Too Brasil sobre o caso envolvendo Silvio Almeida

Nota Pública - Me Too Brasil - Caso Silvio Almeida

"A organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio sexual contra o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos. Elas foram atendidas por meio dos canais de atendimento da organização e receberam acolhimento psicológico e jurídico.

Como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posições de poder, essas vítimas enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional pra a validação de suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa.

Vítimas de violência sexual, especialmente quando os agressores são figuras poderosas ou influentes, frequentemente enfrentam obstáculos para obter apoio e ter suas vozes ouvidas. Devido a isso, o Me Too Brasil desempenha um papel crucial ao oferecer suporte incondicional às vítimas, mesmo que isso envolva enfrentar grandes forças e influências associadas ao poder do acusado.

A denúncia é o primeiro passo para responsabilizar judicialmente um agressor, demonstrando que ninguém está acima da lei, independentemente de sua posição social, econômica ou política. Denunciar um agressor em posição de poder ajuda a quebrar o ciclo de impunidade que muitas vezes os protege. A denúncia pública expõe comportamentos abusivos que, por vezes, são acobertados por instituições ou redes de influência.

Além disso, a exposição de um suposto agressor poderoso pode encorajar outras vítimas a romperem o silêncio. Em muitos casos, o abuso não ocorre isoladamente, e a denúncia pode abrir caminho para que outras pessoas também busquem justiça.

Para o Me Too Brasil, todas as vítimas são tratadas com o mesmo respeito, neutralidade e imparcialidade, com uma abordagem baseada nos traumas das vítimas. Da mesma forma, tratamos os agressores, independentemente de sua posição, seja um trabalhador ou um ministro.

Me Too Brasil
O Me Too Brasil oferece escuta e acolhimento qualificados a todos os sobreviventes de violência sexual, por meio do site metoobrasil.org.br/ e do número 0800 020 2806, disponível em todo o território nacional.

A organização fornece informações sobre possíveis reparações e oferece apoio psicológico contínuo, focado na saúde mental, no empoderamento e na reconstrução da autonomia das vítimas.

Atendemos todas as pessoas independentemente de raça, origem, poder, classe, orientação sexual, identidade de gênero, idade ou gênero. A identidade e os fatos relatados ao nosso canal 0800 são mantidos em sigilo e só são divulgados publicamente com o consentimento das vítimas ou com a aprovação da equipe técnica responsável pelo acolhimento."

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