'Mentira', 'mentira': Lula e Bolsonaro trocam acusações no último debate eleitoral
Candidatos dicutiram temas-chave para suas campanhas, como economia e aborto
"Mentira. Pare de mentir, Lula, será que eu vou ter que exorcizar você para você parar de mentir?". Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva trocaram acusações e tentaram conquistar os eleitores indecisos nessa sexta-feira (28), com temas-chave como economia e aborto, no último debate entre os dois candidatos antes do segundo turno das eleições presidenciais, no próximo domingo (30).
O presidente e o ex-presidente acusaram-se mutuamente sem descanso em seu último embate televisivo, no qual ambos buscaram seduzir o eleitorado mais vulnerável.
"Lula, você sabe que o sistema todo está contra mim. Para de mentir", disse Bolsonaro, que se manteve falando fora de seu púlpito, vestia terno, gravata azul e revisava constantemente suas anotações.
Lula, que usava uma gravata vermelha e ouvia Bolsonaro de seu púlpito, afirmou que "o povo brasileiro sabe quem é mentiroso" e atacou a gestão de seu rival: "Durante quatro anos, esse homem governou o país e não deu 1% de aumento do salário mínimo", disparou, depois que o presidente prometeu que irá reajustar o salário mínimo para 1.400 reais.
Lula também acusou Bolsonaro de "isolar o Brasil do mundo" durante seu governo: "O Brasil hoje é mais isolado do que Cuba. Os cubanos têm relação com quase toda a América do Sul, você não tem relação com ninguém."
“O mundo árabe me recebe com braços abertos. Falei com Joe Biden há pouco tempo. Converso com todo mundo”, ressaltou o petista.
A tensão foi palpável em alguns momentos: "Fica aqui, Luiz Inácio", pediu Bolsonaro, em um momento no qual os dois estavam próximos. "Não quero ficar perto de você", retrucou Lula, afastando-se.
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Aborto, Viagra e Deus
Lula, 77 anos e favorito nas pesquisas, e Bolsonaro, 67, foram para o último debate, na TV Globo, após um mês de uma campanha marcada por golpes baixos e desinformação na TV e nas redes sociais.
Os candidatos acusaram-se mutuamente de serem a favor do aborto. Lula leu um discurso de 1992 em que o presidente, então deputado, defendia no Congresso o uso de um contraceptivo chamado de "pílula de aborto" pelo candidato petista.
"Você é abortista convicto. Assuma que você é abortista, Lula, que não tem qualquer respeito com a vida humana", revidou Bolsonaro, nervoso. Mais tarde, ergueu os braços e fez alusão a Deus, em um aceno para o eleitorado evangélico.
Na última pesquisa do Instituto Datafolha, publicada nessa quinta-feira (27), Lula recuperou uma vantagem de seis pontos ao somar 53% das intenções de voto contra 47% do atual presidente, considerando os votos válidos, exceto brancos e nulos. Na semana anterior, essa distância havia encolhido de seis para quatro pontos.
No primeiro turno, em 2 de outubro, Lula obteve 48% dos votos e Bolsonaro 43%, superando o que antecipavam as pesquisas.
Em outro trecho do debate, Lula pediu ao presidente explicações sobre a compra de 35 mil caixas de Viagra para as Forças Armadas. Bolsonaro se defendeu dizendo que "é usado para tratamento de próstata". "Você usa viagra?", questionou Bolsonaro, diante de um Lula que se esquivou da pergunta.
Bolsonaro parecia confiante após o resultado do primeiro turno, mas ao menos dois fatos na última semana podem ter complicado seu avanço: declarações de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre uma possível desvinculação do aumento do salário mínimo ao índice de inflação, e o polêmico comportamento do ex-deputado bolsonarista Roberto Jefferson, que respondeu a uma ordem de prisão com granadas e tiros que feriram dois policiais.
Sob pressão, Bolsonaro, que havia deixado de lado suas críticas ao sistema de voto eletrônico, levantou nesta semana um novo foco de suspeitas ao denunciar supostas irregularidades na divulgação de inserções de propaganda eleitoral em rádios do nordeste do país.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou as acusações por falta de indícios mínimos de provas e advertiu a campanha do presidente que a denúncia apresentada poderia constituir um "crime eleitoral" com a "finalidade de tumultuar o segundo turno" a poucos dias da eleição presidencial.
Analistas sustentam que Bolsonaro está preparando o terreno para questionar os resultados caso seja derrotado. Isto despertou temores de possíveis incidentes como a invasão do Capitólio nos Estados Unidos em 2021, após a derrota de Donald Trump nas eleições americanas.