"Mesmo com bloco, Lula terá dificuldade na Câmara", diz Paulo Dantas, governador de Alagoas
Aliado de Renan Calheiros, governador de Alagoas critica polarização e minimiza manutenção em cargos federais de indicados por Lira, adversário político do senador
Aliado da família Calheiros, o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), avalia que o presidente Lula (PT) terá dificuldades no Congresso e considera que “não há nada anormal” na manutenção de cargos indicados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Ele atribui ao deputado, porém, uma operação da Polícia Federal (PF) que chegou a afastá-lo do governo após o primeiro turno, em uma investigação por suspeita de “rachadinha” — Dantas, que nega as acusações, conseguiu retornar ao cargo e se reeleger.
O MDB tem divisões regionais entre Lula e Bolsonaro. Qual será o tamanho do apoio ao governo no Congresso?
O partido está integralmente fechado com Lula. Vamos ajudá-lo nos três ministérios (Planejamento, Cidades e Transportes) e com a agenda no Congresso. O MDB foi fundamental na construção do bloco na Câmara (com PSD, Republicanos e Podemos), que passa a dar mais solidez ao governo. Mas temos um número significativo de parlamentares à direita: PL e PP somam quase 150 deputados. Por isso, acho que Lula terá muita dificuldade na Câmara mesmo com a construção desse bloco majoritário.
Como este bloco, que reduziu a influência de Lira, pode ajudar na governabilidade?
O bloco pegou muita gente de surpresa. Agora o jogo está começando, vamos ver os partidos que entregarão os votos. O líder do MDB, deputado Isnaldo Bulhões, de Alagoas, tem garantido os 42 votos do partido. Se União Brasil e PSD entregarem, Lula terá o necessário para aprovar as matérias prioritárias.
Leia também
• Aliados de Lula, PT, PSB e SD ainda brigam pelo comando da Sudene
• Lula diz que Zelensky "não pode querer tudo" e deve negociar para alcançar a paz na Ucrânia
• Lula quer atrair investimentos chineses para o Brasil
A polarização nacional, entre Lula e Bolsonaro, e local, entre o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e Lira, dificulta o início de gestão?
Aqui, a eleição ficou mais disputada após uma armação política, no segundo turno, feita pelo Arthur Lira junto com aquele ministro da Justiça, Anderson Torres, que hoje está preso. No dia 1º de outubro, Lira já antecipava que haveria uma operação da Polícia Federal. Mesmo sendo alvo disso, consegui corrigir essa armação no Supremo Tribunal Federal. A partir da reeleição, estou imprimindo uma ampla agenda de trabalho, e essa polarização passa a não mais existir. No campo nacional, está bem mais polarizado, mas creio que isso diminuirá à medida que a política econômica do governo Lula comece a reagir, gere emprego e aponte um caminho para o futuro. O arcabouço fiscal apresentado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) já traz essa perspectiva.
Mas este conflito local está se refletindo no Congresso, como na discussão entre Lira e Renan sobre o rito das medidas provisórias?
O que foi posto no Senado foi que se cumprisse a Constituição. Esse assunto já foi superado. Temos que trabalhar agora para que o Brasil saia dessa divisão e tenha uma agenda equilibrada, madura.
O senhor tem conversado com Lira depois da eleição?
Encontrei-o em um almoço rápido com o presidente Lula. Como governador, não faço nenhuma restrição. Tentei, no início do ano passado, um movimento em prol da união em Alagoas. Em determinado momento, o senador Renan concordou em fazer uma grande aliança que envolvesse também o presidente da Câmara. Não foi possível, mas defendo que todos temos de ser respeitados. Lira foi o deputado federal mais votado em Alagoas. Espero que trabalhe para ajudar o estado.
O que explica a influência do presidente da Câmara em diversos cargos federais em Alagoas, como o caso da Codevasf, sem ser da base?
Lira mantém a Codevasf porque há concordância dos deputados federais e senadores de Alagoas. Não tem nada de anormal o Arthur manter indicação do presidente da Codevasf no estado. Tem vários prefeitos que votam nele, que votaram no governador Paulo Dantas e também no senador Renan Filho (hoje ministro dos Transportes). Arthur faz investimento nesses municípios através da Codevasf, e o governo estadual também investe. O papel de deputados e senadores é justamente alocar recursos.
Como um governador que apoiou Lula sem ser do PT, o que espera deste governo?
Bolsonaro colocava a população contra os governadores. Lula não quer saber se o governador votou nele ou não, quer que todos unam esforços. Com a PEC da Transição, há um valor expressivo para investimentos. No Ministério dos Transportes, converso bastante com o Renan Filho. Haverá R$ 23 bilhões só em 2023, mais do que em todo o governo Bolsonaro. Já no Canal do Sertão, que é a maior obra hídrica do Nordeste, o governo federal está renovando o termo com Alagoas para retomar essa obra, por determinação de Lula. Com isso, poderemos remanejar recursos do estado para outros projetos importantes.