Moraes diz que Braga Netto atuou de forma 'dolosa' para obstruir investigações sobre trama golpista
Ex-ministro foi preso nesta manhã e nega participação em tentativa de ruptura democrática
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal (STF), afirmou na decisão em que determinou a prisão que o ex-ministro Walter Braga Netto atuou de forma "dolosa" para obstruir investigações sobre a trama golpista.
A Polícia Federal (PF) prendeu neste sábado o general da reserva que foi candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
"Ressalte-se, ainda, que, além dessas novas provas indicarem a atuação dolosa de Walter Souza Braga Netto na tentativa de obstrução da investigação, o novo depoimento do colaborador Mauro César Barbosa Cid, em 21/11/2024 – corroborado por documentos juntados aos autos – aponta que foi Walter Souza Braga Netto quem obteve e entregou os recursos necessários para a organização e execução da operação “Punhal Verde e Amarelo” - evento “COPA 2022”, escreveu Moraes.
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A Polícia Federal prendeu neste sábado (14) o general da reserva Walter Braga Netto, que foi candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
Segundo investigadores, ele foi apontado como o responsável por financiar um grupo de militares que tentou assassinar o ministro Alexandre de Moraes e também monitorava os depoimentos da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens.
Braga Netto nega as acusações e tem afirmado por da sua defesa que "nunca se tratou de golpe e muito menos de plano de assassinar alguém" e que "sempre primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais".
Depoimento de Mauro Cid e trama golpista
Em novos depoimentos à PF, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que Braga Netto entregou dinheiro vivo a militares das Forças Especiais, os chamados "kids pretos", em embalagens de vinho.
A verba serviria, segundo o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teria dito em depoimento, para financiar os supostos planos de golpe de Estado após a derrota do ex-presidente para Luiz Inácio Lula da Silva.
Diálogos obtidos pela Polícia Federal durante a investigação sobre a trama golpista mostram que o major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira – que foi preso em fevereiro após operação – discutiu com Mauro Cid o pagamento de R$ 100 mil para custear a ida de manifestantes a Brasília.
No dia 14 de novembro de 2022, Rafael, conhecido como "Joe", trocou mensagens com Cid e fala da necessidade de recursos financeiros. O coronel, então, solicitou que o major faça estimativa de custos com hotel, alimentação e material e pergunta se a quantia de R$ 100 mil seria suficiente. "ok!! Em torno disso", responde Rafael, que é, em seguida, orientado por Cid a levar a Brasília pessoas do Rio, que a PF acredita ser a cidade do Rio de Janeiro. O diálogo foi descrito na decisão de Moraes que autorizou a operação.
Apesar de os diálogos falarem sobre valores para a suposta trama, a PF não revelou, até o momento, se algum recurso de fato teria sido pago e utilizado.
Relatório final da PF
Ao concluir a investigação da trama golpista, a PF afirmou no relatório final da investigação que Braga Netto tentou conseguir "informações sobre o acordo de colaboração" de Cid. De acordo com a PF, essa tentativa ocorreu por meio dos pais do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
"Outros elementos de prova demonstram que Braga Netto buscou, por meio dos genitores de Mauro Cid, informações sobre o acordo de colaboração", diz o relatório final da investigação, que indiciou Bolsonaro, Braga Netto e outras 38 pessoas.
Em uma troca de mensagens, o general Mário Fernandes, que também foi indiciado, afirma que os pais de Mauro Cid teriam ligado para Braga Netto e o também ex-ministro Augusto Heleno e dito, sobre a delação, que "é tudo mentira".
"Sobre a suposta delação premiada do CID, a Mãe e o Pai dele (CID) ligaram para o GBN e para o GH informando que é tudo mentira!!!", escreveu Fernandes para o coronel reformado Jorge Luiz Kormann.
A mensagem foi enviada no dia 12 de setembro, três dias após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologar a delação de Cid.
Além disso, a PF aponta que uma operação de busca e apreensão na sede do PL encontrou um documento que seria uma espécie de "perguntas e respostas" sobre a delação de Cid. O documento estava na mesa do coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto — que, na época, ocupava um cargo no partido.
"O conteúdo indica se tratar de respostas dadas por Mauro Cid a questionamentos feitos por alguém, possivelmente relacionado ao general Braga Netto, que aparenta preocupação sobre temas identificados pela Polícia Federal relacionados à tentativa de golpe de Estado, evidenciando que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do Acordo de colaboração firmado por Mauro Cesar Cid com a Polícia Federal", diz o relatório.