Moro critica direção da PF e diz que nota da corporação busca interferir na eleição
Instituição acusou ex-ministro de mentir sobre redução de prisões por crimes de corrupção
O ex-ministro Sérgio Moro afirmou nesta quarta-feira que a direção-geral da Polícia Federal tenta interferir na eleição de 2022 ao divulgar nota oficial para rebater declarações feitas por ele sobre a atuação do órgão no combate à corrupção. Para Moro, o texto foi "inapropriado" e a direção atual da instituição, chefiada por Paulo Maiurino, "não representa o que pensa o resto das pessoas".
Leia também
• PF divulga nota oficial para rebater declarações de Moro e dizer que ex-ministro 'mente'
• Presidente do PT diz que encontro de governador com Moro torna negociação com PSB 'azeda'
• Bolsonaro e Moro miram votos de Lula no Nordeste e intensificam agendas na região
"Essa nota não é da Polícia Federal, é da atual direção da PF. Eu tenho um grande respeito pelos delegados, agentes, escrivãos, peritos, todos os servidores. Tenho um grande respeito pela instituição. A direção atual não representa o que pensa o resto das pessoas. Nunca vi a direção da PF querer interferir em eleição. Achei inapropriado.", disse Moro, em entrevista à rádio Rio FM, de Aracaju (SE).
Ontem, a direção da Polícia Federal emitiu uma nota para rebater críticas de Moro de que a atual gestão não tem atuado contra a corrupção. No texto, assinado como "a Polícia Federal", o órgão acusou Moro de "mentir" e se defendeu, afirmando que efetuou "mais de mil prisões apenas por crimes de corrupção nos últimos três anos".
Hoje, Moro reforçou as críticas de que a gestão atual da PF reduziu o número de prisões por corrupção e acrescentou que considera haver uma interferência do governo federal na instituição que a impossibilita de atuar plenamente.
"O fato real, e isso é inegável, isso não sou só eu que digo, são matérias que têm saído nos jornais de que prisões feitas pela PF por corrupção estão no menor patamar em 14 anos. Não é só uma questão de quantidade, é uma questão de quem está sendo preso. Prendeu o bagrinho da corrupção, isso sempre teve. A grande corrupção, os grandes tubarões, não está tendo prisão nenhuma", disse.
Moro afirmou, ainda, que "infelizmente esse governo interferiu na autonomia da PF e a PF não está tendo possibilidade de trabalhar".
Em abril de 2020, Moro deixou o comando do ministério da Justiça, ao qual está vinculada a PF, alegando que Bolsonaro pressionava pela substituição do delegado-geral da corporação e exigia acesso a relatórios sigilosos. A instituição instaurou um inquérito para apurar as denúncias.
Na nota divulgada ontem, a PF afirmou que o ex-ministro "faz ilações" ao citar trocas feitas nas superintendências pelo atual delegado-geral, Paulo Maiurino, como exemplo de supostas retaliações pelo governo.
Maiurino foi nomeado ao cargo pelo atual ministro da Justiça, Anderson Torres, que entrou no lugar de André Mendonça, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, que, por sua vez, substituiu Sergio Moro.
"O ex-ministro não aponta qual fato ou crime tenha conhecimento e que a PF estaria se omitindo a investigar. Tampouco qual inquérito policial em andamento tenha sido alvo de ingerência política ou da administração", diz a nota da corporação, que ressaltou que as operações tocadas pelo órgão "vão muito além da repressão aos crimes de corrupção".