Moro e Doria tentam driblar resistências internas; entenda as movimentações
Apoio do PSDB ao ex-governador paulista reflui; ala do União Brasil rechaça ex-juiz
Um dia após o cenário pré-eleitoral ser sacudido por movimentos políticos inesperados, os sinais ontem se inverteram. O ex-juiz Sergio Moro, que migrou do Podemos para o União Brasil e havia anunciado a desistência de sua pré-candidatura presidencial, se articula para entrar na disputa novamente. Ele enfrenta, no entanto, resistências em seu novo partido. Já o ex-governador de São Paulo João Doria, que havia reafirmado seu projeto de concorrer ao Palácio do Planalto após receber o respaldo da direção do PSDB, viu ontem esse apoio refluir. O presidente de seu partido, Bruno Araújo, disse que o nome do tucano pode ser retirado em favor de outro com mais condições de disputar a Presidência.
Os novos elementos da corrida presidencial já produziram reflexos. Moro se reunirá neste sábado (20) com o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB). O tucano, que foi derrotado nas prévias da legenda, mas tenta voltar à disputa, aposta nas conversas entre União Brasil, PSDB e MDB para ser alçado ao posto de nome da terceira via.
Moro estava isolado no Podemos, e a renúncia à corrida pelo Planalto foi uma condição para entrar no novo partido, onde também enfrenta resistências. Apesar do frágil respaldo interno, ele planeja a reversão desse cenário, em uma estratégia que as siglas que vêm se reunindo convenceriam o União Brasil a recolocá-lo na corrida ao Planalto — entre os nomes à disposição, ele aparece à frente nas pesquisas de intenção de voto. Integrantes do partido chegaram a anunciar que Moro concorreria para deputado federal por São Paulo, o que ele negou.
"Eu não desisti de nada. Muito menos do meu sonho de mudar o Brasil. Pelo contrário, sigo firme na construção de um projeto para o país", disse Moro na sexta-feira (1º), em rápido pronunciamento, sem abrir espaço para perguntas da imprensa.
O ex-juiz disse que o gesto de retirar a pré-candidatura exigiu “desprendimento e humildade” e cobrou o mesmo de outros integrantes da terceira via. Citou Luiz Felipe d'Avila (Novo), André Janones (Avante), Doria, Leite e a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
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Já Bruno Araújo, presidente do PSDB, que no dia anterior havia endossado a pré-candidatura de Doria, ontem afirmou que ela não está garantida:
"Isso vai afunilar no momento apropriado. O caminho a ser dado será o da sensatez para encontrar um nome nesse conjunto de alianças políticas, nesse conjunto de partidos, que melhor ofereça ao país. O PSDB oferece a sua alternativa, mas definiremos de forma coletiva. A candidatura do PSDB está contida num acordo maior. O que antecede é um acordo político de um grande consórcio político".
Segundo Araújo, PSDB, União Brasil e MDB vão estipular os critérios para a definição do nome. Ele mencionou as pesquisas como um deles. No Datafolha divulgado no último dia 24, Moro aparece com 8%, Doria com 2%, e Simone Tebet com 1%. No cenário testado com Leite ele tem 1% das intenções de voto. Ele afirmou que a carta divulgada na quinta-feira endossando a candidatura de Doria à Presidência foi feita para “garantir estabilidade interna” no partido.
Outra postulante que busca se viabilizar, Simone Tebet, citada por dirigentes partidários como alguém que poderia “pacificar” a terceira via, reforçou ontem a importância do diálogo entre os partidos de centro. Ela fez fez um gesto na direção de Doria e rechaçou a ideia de uma chapa com Leite, como chegou a ser cogitado por aliados do ex- governador gaúcho, na quinta-feira, após a desistência de Moro e sinais de que Doria poderia permanecer no comando do Palácio dos Bandeirantes.
"O momento, agora, é de colocar o time na rua. Fico impressionada em como estão relativizando o resultado das prévias (do PSDB). Comigo, isso não existe. Não tenho preferência (de vice). E, ainda que tivesse, respeito as regras do jogo. Neste momento, enxergo Doria como o legítimo pré-candidato, e é com ele que tenho que dialogar", disse a senadora ao Globo.
Uma ala do União Brasil formada por egressos da direção do antigo DEM pretende pedir a impugnação da filiação do ex-juiz Sergio Moro ao partido. A decisão é uma reação à declaração do ex-juiz de que não desistiu de disputar a Presidência.
O grupo é o mesmo que na quinta-feira soltou uma nota dizendo que o ingresso de Moro não podia se dar na condição de pré-candidato ao Palácio do Planalto.
Assinavam o texto o secretário-geral do partido, ACM Neto, o ex-senador José Agripino Maia, o deputado Efraim Filho (PB), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, a deputada Professora Dorinha (BA), o ex-ministro Mendonça Filho, o senador Davi Alcolumbre (AP) e o prefeito de Salvador, Bruno Reis.
"Vamos apresentar um requerimento de impugnação da filiação dele. Será assinado pelos oito membros com direito a voto no partido, o que corresponde a 49% do colegiado. A filiação, uma vez impugnada, requer 60% para ter validade", disse ACM Neto.
Questionado sobre o movimento dessa ala do partido, Moro não respondeu. Pessoas próximas ao ex-ministro minimizaram o pedido de impugnação e disseram que é apenas um ato político do grupo de ACM Neto.
O secretário-geral do União Brasil é pré-candidato ao governo da Bahia e prefere que o partido fique neutro na disputa presidencial, liberando seus quadros para apoiarem quem for mais conveniente. Adversário histórico do PT, ele aposta informalmente no voto “LulaNeto” na Bahia.
Os demais egressos do DEM confirmaram a contrariedade com a declaração de Moro.
"Se ele se filiou para ser candidato a presidente, vamos pedir a impugnação da filiação dele agora", disse Caiado.
O deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União na Câmara, afirmou que Moro não tem respaldo para ser candidato à Presidência: "A gente falou sobre ele entrar para disputar uma vaga no Congresso. Se ele não quiser, paciência, não disputa a nada".
Para Elmar, o presidente do partido, Luciano Bivar, seria um nome mais forte do que Moro para eventualmente representar a sigla na corrida presidencial, por ser mais articulado politicamente.
O deputado Alexandre Leite (SP), que na quinta-feira anunciou que Moro sairia para deputado federal, afirmou que também apoia uma eventual impugnação, se ele insistir na candidatura à Presidência: "O acordo para a vinda dele é um projeto em São Paulo. Se a pretensão dele é ter um projeto nacional, nós iremos, sim, impugnar a filiação".
Aliado de Moro, o deputado Bozzella (SP) afirmou que o partido não pode ignorar seu potencial como um “ativo muito forte”em São Paulo: "Moro veio sem nenhuma garantia. Ele afirmar que vai ser candidato a A, B ou C... Só o tempo vai dizer".